Autor(es): ANA
D,ANGELO
Correio Braziliense - 06/09/2011
O Ministério do Planejamento encerrou as negociações com
delegados e agentes e nenhum reajuste foi proposto. Essa negativa acirrou os
ânimos das duas categorias, que estão se sentindo desprestigiadas pelo Palácio
do Planalto. Muitos sindicalistas acreditam que uma greve será ineficaz, mas
apostam na intensificação das operações contra a corrupção, causando
constrangimento a autoridades.
Governo rechaça aumentos a policiais e categoria pode fazer
greve e ações contra integrantes da República
O vigoroso não ao reajuste salarial que os dirigentes das
associações de delegados e de agentes da Polícia Federal receberam do
Ministério do Planejamento escancarou a crise de comando e de prestígio em que
a instituição está mergulhada. Depois de pelo menos cinco reuniões marcadas e
canceladas em um mês, o secretário de Recursos Humanos do Planejamento,
Duvanier Ferreira, encerrou as negociações, fechando as portas para qualquer
reajuste neste ano e em 2012. O atual diretor-geral da PF, Leandro Daiello
Coimbra, está em baixa no Palácio do Planalto e sua substituição é questão de
tempo.
A avaliação da presidente Dilma Rousseff é de que a
instituição está sem controle. Tanto que cogitou nomear um militar para a PF
com a missão de botar ordem na casa. Ela expressou esse desejo no auge do
desgaste gerado pela Operação Voucher, no início de agosto, que resultou na
prisão de 36 pessoas, entre elas, o então secretário executivo do Ministério do
Turismo, Frederico Costa da Silva. Pressionados pelos partidos aliados, a
presidente e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao qual a PF está
subordinada, pediram a punição de membros da corporação responsáveis pela
exposição à mídia dos presos algemados. Cardozo também reclamou de não ter sido
avisado da operação que tinha membros do alto escalão do Turismo na mira.
As ameaças de intervenção de Dilma se amplificaram na PF
depois de o Planejamento se negar a conceder reajustes aos servidores. A
negativa foi vista como uma falta de prestígio e de descaso do governo com a
corporação. Maiores defensores desse ponto de vista, os delegados ameaçam fazer
greve, mas a própria categoria avalia que os únicos que realmente podem fazer
barulho e chamar a atenção são os agentes, ao parar as atividades nos já
caóticos aeroportos brasileiros. Os mais radicais têm sugerido que a PF
pressione o governo com o estouro de operações de investigação contra cabeças
graúdas da República.
Ânimos exaltados
Em notas, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia
Federal (ADPF) rebateu as críticas do governo ao uso das algemas nos presos da
Operação Voucher. A entidade também reclamou dos cortes no orçamento do órgão e
da falta de reajuste salarial. Tais posicionamentos só serviram para inflamar
os ânimos no Planalto, que não se conforma com a afronta da corporação.
A análise do governo é de que, no meio da batalha declarada
pelos servidores da PF, está a eleição para a direção da Associação dos
Delegados, marcada para o fim deste ano. Ao não conseguir os reajustes para
seus associados, a atual diretoria da entidade ficou sem bandeira para garantir
um novo mandato. Depois de muita insistência, o ministro da Justiça recebeu as
lideranças sindicais no último dia 29 e prometeu alguns afagos, como a
gratificação para a fixação de policiais nas fronteiras e a reestruturação de
funções administrativas, de impacto financeiro baixo.
O Sindicato Nacional dos Delegados da PF (Sindepol) informou
que a briga da entidade é pela instituição da Compensação Securitária por
exercício de atividade de risco, prevista em proposta de emenda constitucional
que tramita no Congresso, com a qual o governo já teria concordado em pagar.
Desprestígio é claro
A falta de interlocução entre a cúpula do governo e o
diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Coimbra, não vem de hoje. Em fevereiro
último ele tentou e não conseguiu emplacar o delegado Sérgio Menezes para a
Diretoria de Administração e Logística Policial, cargo estratégico na
organização, pois dá suporte às operações deflagradas no país inteiro. Mas
tanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quanto a Casa Civil
ignoraram o fato e não deram satisfação. O cargo está vago até hoje.
Concurso à vista
A Polícia Federal deve abrir 500 vagas neste ano por meio de
concurso público e outras 500 em 2012. Foi o que o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, informou aos líderes sindicais. Ele não disse, porém, quantos
postos serão destinados a delegados. A última seleção para a instituição foi em
2004. O curioso é que o ministro ouviu dos dirigentes sindicais que deveria
ofertar poucas vagas para valorizar mais o cargo, a exemplo do que ocorre na
magistratura e no Ministério Público.