Antônio Augusto de Queiroz
DIAP - 02/02/2012
As perspectivas para os servidores públicos no governo Dilma
não são das melhores. Após dois anos sem reajuste, a presidente editou o Decreto
7.676, publicado no Diário Oficial, do dia 23 de janeiro, retirando os poderes
da Secretaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão encarregada da
negociação coletiva com as entidades de servidores públicos.
As mudanças, detalhadas no anexo I do Decreto, que trata da
estrutura regimental do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão,
consistem na extinção da Secretaria de Recursos Humanos, com a incorporação de
suas atribuições na Secretaria de Gestão Pública, e na criação da Secretaria de
Relações do Trabalho no Serviço Público, que ficará responsável pela
"negociação de termos e condições de trabalho e solução de conflitos no
serviço público federal".
A idéia original da presidente da República e da ministra do
Planejamento era extinguir a Secretaria de Recursos Humanos, levando suas
atribuições para a Secretaria de Gestão, e criar uma assessoria especial para
tratar da negociação coletiva. Só ficou como secretaria para não retirar o
status de secretário do saudoso Duvanier Paiva, que seria o ocupante do novo
cargo.
Resumidamente, à Secretaria de Relações de Trabalho no
Serviço Público compete: 1) organizar e supervisionar o Subsistema de Relações
de Trabalho no Serviço Público Federal (SISRT), de que trata o Decreto
7.674/2011, 2) exercer a competência normativa em matéria de negociação
coletiva de termos e condições de trabalho e solução de conflitos no serviço
público federal, 3) organizar e manter o cadastro nacional das entidades
sindicais representativas dos servidores, 4) propor medidas para a solução, por
meio de negociação de termos e condições de trabalho, de conflitos surgidos,
conforme diretrizes estabelecidas pela Presidente da República, 5) articular a
participação dos órgãos e entidades da administração pública nos procedimentos
de negociação surgidas no âmbito das respectivas relações de trabalho.
A competência de organizar e manter cadastro de entidades
sindicais não tem o propósito de substituir o Ministério do Trabalho e Emprego
na concessão de registro sindical, como algumas entidades chegaram a imaginar,
mas apenas a função de manter um banco de dados para efeito de controle da
liberação de dirigente sindical para exercício de mandato classista, entre
outras finalidades inerentes às atribuições da nova secretaria.
Temas como criação ou reestruturação de carreiras, planos de
cargos, padrão remuneratório, se por vencimento ou subsídio, requisitos para
ingresso no serviço público, gerenciamento da folha, avaliação de desempenho,
desenvolvimento profissional na carreira, entre outras atribuições próprias da
gestão de pessoas serão de responsabilidade da nova super-secretaria de gestão
e não mais da competência ou da responsabilidade do titular de secretaria
encarregado da negociação.
As pautas de reivindicação das entidades sindicais podem até
contemplar os temas acima, mas a Secretaria de Relações de Trabalho no Serviço
Público não terá poderes para negociá-las. Só poderá fazê-lo considerando as
diretrizes do governo e considerando as competências técnicas da Secretaria de
Gestão Pública na matéria. E, se decidir autorizar, só o fará após ouvir o
Ministério ou órgão a que se referem às mudanças e observadas as diretrizes de
governo.
Até mesmo nos temas específicos de sua competência, como a
de firmar termos de compromisso sobre condições de trabalho e remuneração,
desde que observado os limites fixados pela Junta Orçamentária do governo, a
nova Secretaria de Relações de Trabalho no Serviço Público dependerá da
Secretaria de Gestão, que detém os dados, registros e informações sobre os
quantitativos, indispensáveis para calculo dos impactos.
A intenção da ministra do Planejamento e da presidente da
República, focadas na contenção do gasto com pessoal, era mesmo retirar a
autonomia do responsável pela negociação coletiva, para evitar fato consumado,
como ocorreu com negociações na gestão do presidente Lula, como foi o caso da
adoção do subsídio para os auditores-fiscais da Receita Federal do Brasil.
O raciocínio é simples. Ao transferir o controle da
formulação da política de pessoal e da gestão de pessoas para a Secretaria de
Gestão, que só se relaciona com órgãos governamentais, não atendendo agentes
externos, como entidades sindicais, os riscos de surpresas com mudanças
irreversíveis, sem consenso no governo, são bem menores, porque a secretaria
encarregada da negociação nada fará sem autorização ou consulta ao órgão que
detém esse controle.
A temperatura vai subir na relação das entidades de
servidores com o governo federal: os servidores do Judiciário estão há quatro
anos sem reajuste; a Polícia Federal, há três; e os demais servidores, há dois.
Não bastasse isto, o governo pretende aprovar a previdência complementar do
servidor este ano e retirar os poderes do único órgão no Executivo com
conhecimento, sensibilidade e disposição de negociar reajuste salarial para
2013.
Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e
Diretor de Documentação do Diap - Departamento Intersindical de Assessoria
Parlamentar.