Blog do Josias de Souza -
15/08/2012
As duas primeiras reuniões marcadas pelo Ministério do
Planejamento para negociar com servidores públicos em greve resultaram em
embromação, frustração e radicalização. A mistura fez ferver os ânimos dos
organizadores da marcha sindical que descerá a Esplanada nesta quarta (15).
Na semana passada, Sérgio Mendonça, secretário de Relações
de Trabalho, enviara comunicado às entidades sindicais convocando-as para as
duas rodadas de negociação, nesta terça (14) –uma pela manhã e outra à tarde.
Embromou em ambas.
Numa, após tomar um chá de cadeira de quase duas horas, os
sindicalistas ouviram do secretário que o governo ainda não lograra formular uma
resposta para as reivindicações de 18 das mais de 30 categorias que trazem os
braços cruzados. Adiou a apresentação da proposta para sexta (17).
Para complicar, Sérgio Mendonça preparou o ânimo dos
interlocutores para o pior. Lero vai, lero vem informou que a proposta que está
por vir passará longe dos anseios dos grevistas. Primeira frustração.
Noutra reunião, o assessor da ministra Miriam Belchior
(Planejamento) mostrou a barriga para servidores sublevados do Incra e do
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Sem resposta, o sindicalismo agrário foi
da frustração à revolta. O tempo fechou.
Os grevistas retiveram Sérgio Mendonça e informaram que não
arredariam o pé da sala de reuniões enquanto não chegasse uma proposta do
Planalto. Acionada, a Polícia Militar de Brasília enviou um destacamento para a
portaria do prédio do ministério.
Entre argumentos e contra-argumentos, a atmosfera de tensão
durou algo como três horas. O secretário viu-se compelido a marcar nova reunião
com os sindicalistas, dessa vez para segunda-feira (20). Braços erguidos e aos
gritos, a comitiva de servidores deixou a sede do Planejamento sob vigilância
policial.
Tudo isso um dia depois de o Planejamento ter enviado às
repartições públicas um comunicado reiterando a ordem para cortar o ponto dos
grevistas. Sem propostas e com os contracheques sob ameaça, as entidades
sindicais levaram aos seus sites comunicados encharcados de radicalismo.
A Condsef, confederação nacional dos servidores federais,
anotou coisas assim: “Com o impasse, a greve deve seguir forte e tende a
crescer.” Ou assim: “Nesta quarta-feira, a marcha agendada para acontecer a
partir das 9h […] deve se realizar com um clima de revolta.”
O sindsef, sindicato dos servidores federais no Distrito
Federal, escreveu: “Vergonha: governo nega proposta mais uma vez”.
Acrescentou: “Numa demonstração de total
desrespeito com as entidades representativas do funcionalismo público, com os
servidores e o próprio serviço público, o governo mais uma vez adiou a
apresentação da proposta…”