José Maria Tomzalea e Lu Aiko Otta
O Estado de S. Paulo - 16/08/2012
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu na
quarta-feira, 15, a posição da presidente Dilma Rousseff sobre a greve dos
servidores federais, ao afirmar que o governo nem sempre pode atender às
reivindicações. O ex-presidente destacou que Dilma "quer ajudar as pessoas
mais pobres, que não têm salário". "É direito dos trabalhadores fazer
greve, mas é direito do governo atender ou não", disse, após gravar para o
horário eleitoral gratuito de candidatos do PT num hotel da zona sul de São
Paulo.
A greve mobiliza no País cerca de 350 mil funcionários
públicos de pelo menos 36 categorias. A direção do PT teme que as paralisações
possam produzir impacto negativo nas eleições deste ano.
Na quarta, representantes do INSS e de inúmeras categorias
de grevistas protestaram em frente ao Palácio do Planalto, fechando o trânsito
no local. A manifestação, que entrou pela noite, obrigou a presidente a deixar
o Palácio pelos fundos. Assim que os manifestantes tomaram a praça dos Três
Poderes e avançaram em direção ao Planalto, a segurança foi engrossada pelo
Batalhão de Choque, que chegou com escudos, armas em punho e cachorros. Os
manifestantes carregavam faixas "Fora Dilma" e "queremos
reajuste".
Para Lula, o governo está disposto ao diálogo, mas depende do
Orçamento a ser votado. "As pessoas devem compreender que o governo não
tem todo o dinheiro que a gente lá fora pensa que tem. O dinheiro é
limitado."
Ele defendeu um acordo entre governo e trabalhadores e disse
que as pessoas não podem perder a esperança porque sua sucessora na Presidência
tem sensibilidade social e quer ajudar. Lula citou a crise internacional que
afeta a Europa e outros países e lembrou que, embora o Brasil sofra menos, o
País está inserido numa economia globalizada. "Ela (Dilma) tem outras
coisas para fazer investimentos, como a infraestrutura, que é importante para
melhorar a vida do povo."
O ex-presidente recordou que também enfrentou manifestações
quando estava na Presidência e achava engraçado o fato, já que, como líder
sindical, também liderou muitas greves. "Até entrei em passeata contra mim
mesmo", brincou Lula.
Calendário. O governo negocia com os servidores públicos em
greve para reduzir o valor dos pedidos de aumento, que somam R$ 92 bilhões. Na
reunião que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, teve na última
segunda-feira, 13, com a presidente Dilma ficou sacramentado que o valor
disponível para conceder reajustes é muito inferior ao pleiteado pelos
servidores. A estratégia, então, é contar com o calendário para forçar os
funcionários públicos a aceitar correções salariais mais modestas ou, em alguns
casos, nada.
Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), os reajustes
salariais só podem ser pagos se o Executivo tiver enviado projeto de lei
propondo os novos valores até o dia 31 de agosto do ano anterior. Esse é também
o prazo máximo para envio da proposta do Orçamento para o ano seguinte, onde
estará a previsão de gastos adicionais com salários.
"Não adianta manter greve depois do dia 31", disse
o presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
(Condsef), Josemilton Costa. "A perspectiva legal de atender a algum
pedido depois de fechado o orçamento é nenhuma."
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça, destacou a necessidade de lidar com as
especificidades de cada carreira. Segundo ele, qualquer aumento depende do
"espaço orçamentário". Ontem, quatro horas de reunião não foram
suficientes para resolver os impasses entre os técnicos administrativos das
universidades e institutos federais e o governo.
(Colaboraram Tânia Monteiro e Débora Álvares)