Tatiana Farah e Paulo Celso Pereira
O Globo - 16/08/2012
Governo deve dar mais
de R$ 12 bi de reajuste a servidor em 2013
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Depois do apoio do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por sua postura diante da greve do funcionalismo
federal, a presidente Dilma Rousseff foi elogiada ontem pelo ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Segundo ele, Dilma vive a "angústia" de não
poder atender os servidores e merece a compreensão dos grevistas. A greve dos
servidores federais já atinge 300 mil trabalhadores e algumas categorias, como
a Receita Federal, estão paradas há mais de 50 dias.
- A presidente Dilma tem sensibilidade, ela vive a angústia
de não poder atender àquilo que as pessoas precisam, porque o dinheiro é curto
- disse ele ontem em São Paulo. - As pessoas têm que compreender que estamos
vivendo uma crise mundial de grande repercussão. A Europa está passando por
momentos difíceis e os EUA também.
O ex-presidente defendeu ainda, por um lado, o direito de
greve do funcionalismo e, por outro, o direito do governo de atender ou não.
- Acho que o governo está disposto ao diálogo; e parece que
está havendo as reuniões necessárias.
Dia marcado por manifestações
Acuada pelo avanço das greves dos servidores públicos
federais em todo o Brasil, a equipe da presidente Dilma deve destinar entre R$
12 bilhões e R$ 14 bilhões para reajustes ao funcionalismo no Orçamento de
2013. O governo federal deve atender apenas reivindicações específicas,
sobretudo para servidores com salário defasado em comparação às carreiras ditas
de elite.
O anúncio das categorias contempladas será feito em
encontros com representantes das categorias para evitar ânimos exaltados entre
os que não forem beneficiados.
Do montante a ser reservado no Orçamento de 2013, R$ 2,2
bilhões já têm destino certo: a primeira parcela do reajuste dos professores
(entre 25% e 40%) e dos servidores técnico-administrativos das universidades
federais (15,8% em três parcelas). Eles continuam parados em todo o Brasil.
- A possibilidade de um reajuste linear está descartada -
garantiu o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento,
Sérgio Mendonça.
Para sustentar o discurso de austeridade, o governo alega um
inchaço na folha de pagamento. Dados levantados pelo Planejamento mostram, por
exemplo, que auditores fiscais da Receita Federal tiveram 55,06% de ganho real
desde 2003. Eles estão em greve há quase dois meses e querem elevações de até
49% nos contracheques.
Ontem, o dia foi marcado por manifestações em Brasília. Pela
manhã, servidores pararam a Esplanada dos Ministérios e fizeram protestos em
frente ao Palácio do Planalto enquanto a presidente Dilma Rousseff anunciava o
pacote de investimentos em infraestrutura. Os trabalhadores realizaram uma
marcha que, segundo os sindicatos, reuniu 12 mil pessoas.
À tarde, foi a vez de um grupo de pelo menos 400 servidores
do Judiciário fazerem manifestação com faixas, apitos e vuvuzelas em frente ao
Supremo Tribunal Federal (STF) e chegaram a incomodar os ministros, durante o
julgamento do mensalão. Os grevistas chegaram a ameaçar derrubar a grade
colocada em frente ao Palácio. Diante do clima tenso, policiais formaram um
cordão de isolamento.
Sem acordo com o governo, a maioria das categorias promete
intensificar a mobilização hoje.