Correio Braziliense
- 31/10/2013
Individada, a Federal Seguros pode encerrar as atividades
ainda neste ano. Nem mesmo a intervenção da Susep foi suficiente para equilibrar as contas.
Apesar de ter clientes privados, 60% da sua carteira é formada por funcionários
públicos
Não bastasse a dor de cabeça com os planos de saúde, os
servidores têm agora de lidar com problemas financeiros e de gestão de
operadoras de seguros de vida.
Responsável por uma carteira de 300 mil beneficiários, dos quais pelo menos 180 mil são funcionários públicos, a Federal Seguros corre o risco de sair do mercado ainda neste ano. Com um rombo que já chegou a R$ 73 milhões (hoje, está um pouco menor), segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a empresa pode ter a liquidação extrajudicial decretada, caso não apresente até novembro um plano de recuperação convincente. A informação é do titular da Susep, Luciano Santanna, que falou ontem sobre o assunto em uma audiência pública na Câmara dos Deputados.
Responsável por uma carteira de 300 mil beneficiários, dos quais pelo menos 180 mil são funcionários públicos, a Federal Seguros corre o risco de sair do mercado ainda neste ano. Com um rombo que já chegou a R$ 73 milhões (hoje, está um pouco menor), segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), a empresa pode ter a liquidação extrajudicial decretada, caso não apresente até novembro um plano de recuperação convincente. A informação é do titular da Susep, Luciano Santanna, que falou ontem sobre o assunto em uma audiência pública na Câmara dos Deputados.
A Federal Seguros possui uma relação estreita com o
funcionalismo público. Pertencente ao governo entre 1969 e 1983, a companhia
foi privatizada e adquirida, por meio de licitação pública, pelo grupo Carmo
Indústria e Comércio S.A. Apesar de não atender somente servidores, a categoria
representa hoje mais de 60% da carteira, uma herança da época em que a empresa
pertencia ao Instituto de Previdência dos Servidores do Estado (Ipase), hoje
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O diretor executivo da Federal Seguros, Luiz Eduardo
Fidalgo, explica que a origem da dificuldade financeira está, principalmente,
em dois pontos. Primeiro, segundo ele, a seguradora tem um crédito de R$ 80
milhões no INSS, referente ao pagamento de dívidas que antecedem a
privatização. “Nós levamos à Susep a contabilização dos livros caixa da empresa
de 1983 até hoje. O débito apresentado, independentemente do tipo de juro que
consta no contrato de privatização (de 1% ao mês), tem esse valor”, alegou.
“Com R$ 80 milhões eu teria mais do que o suficiente para
cobrir tudo o que está no laudo”, completou Fidalgo. O caso, segundo Luciano
Santanna, é contestado pelo INSS e já foi apresentado à Justiça. Atualmente, a
situação é estudada pela Advocacia-Geral da União (AGU), segundo o presidente
da Susep. O instituto foi procurado, mas não se manifestou até o fechamento
desta edição.
A outra causa apontada por Fidalgo é o fato de o governo não
estar ressarcindo os valores referentes ao seguro do Sistema Financeiro da
Habitação (SFH) de concessões feitas há mais de 30 anos. Garantido por lei, o
benefício deveria ser usado para cobrir casos de morte ou invalidez do
mutuário e de danos no imóvel. Para essas situações, existe o Fundo de
Compensações de Variações Salariais (FCVS), que é responsável por reembolsar as
seguradoras. “É um seguro público. Esses prêmios nunca foram retidos pela empresa,
e o governo não está devolvendo a ninguém”, protestou o diretor da Federal.
Segundo ele, cerca de R$ 20 milhões deveriam ter sido
restituídos. O superintendente da Susep explica que o ressarcimento foi
interrompido depois de denúncias de irregularidades em relação a esse tipo de
seguro. “Momentaneamente, suspenderam-se as remunerações até que se consigam
combater as fraudes no sistema”, pontuou.
Reclamações
Com problemas financeiros de toda sorte e graves falhas de
gerenciamento, a Federal começou a acumular reclamações de consumidores e
processos na Justiça, o que levou a Susep a intervir e a instaurar o regime de
direção fiscal na seguradora em setembro de 2012. Funcionário de uma usina no
estado de Goiás, Ítalo Melo Silva, 26 anos, aguarda há sete anos pela
indenização do seguro de vida da mãe, servidora da Secretaria de Saúde do
Estado de Goiás.
“Ela teve a taxa do benefício descontada na folha de
pagamento durante 23 anos, mas, até hoje, não recebi um centavo”, reclamou
Ítalo. Sem perspectivas de ser reembolsado, ele recorreu à Justiça. A
indenização, avaliada por ele em R$ 297 mil, poderia ajudá-lo a terminar a
construção da casa própria e a reformar a residência onde mora com os avós, em
Itumbiara (GO). “Na hora em que mais precisamos, não podemos contar com o
dinheiro”, lamentou.
Os recursos também ajudariam no tratamento do avô de Ítalo,
de 86 anos, que foi diagnosticado com câncer de pele e, só em medicamento,
gasta R$ 500 ao mês. A renda familiar, de aproximadamente R$ 3 mil, mal cobre os
custos dos três, avaliados em R$ 2,5 mil. “Há meses que gastamos mais. Meus
avós não têm plano de saúde. Quando precisam ir ao médico, só uma consulta
chega a R$ 300”, afirmou.
Liquidação
Apesar da intervenção, a situação da Federal Seguros ainda
não está boa. Segundo o último balanço da companhia divulgado pela Susep,
referente a junho de 2013, as dívidas eram 37% maiores que o capital — o
patrimônio líquido dela é de R$ 80, 9 milhões e o passivo, de R$ 111 milhões.
Por isso, conforme Santanna, a intervenção já está na fase final: ou a Federal
aponta uma solução para a dívida ou aliena uma parte “para uma empresa que
possa fazer os aportes necessários para a continuação da seguradora”.
A liquidação, segundo ele, é o último passo. “Vários
processos de liquidação estão correndo na Susep há 10 anos. Não é simples
conduzi-los. Além disso, uma liquidação não é boa para o consumidor, que vai
demorar muito a receber o dinheiro, e se receber”, pontuou.
Em relação aos beneficiários, o diretor da seguradora reconhece
que há atrasos, mas enfatiza que a empresa não deixou de pagar ninguém. “A
questão é que a Federal cumpre obrigações, mas atrasa os pagamentos. Em nenhuma
fiscalização da Susep foi registrado que ela (a seguradora) fraudou ou fez uso
indevido de alguma conta. Foram registrados lapsos de inexistência de capital
nas contas porque muitos bens foram penhorados”, afirmou. “O atraso gera
problemas, processos judiciais, o que faz com que a dívida fique ainda maior”,
completou.
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