BSPF - 04/11/2013
Servidores públicos com menor grau de escolaridade e menos
possibilidade de movimentação entre órgãos são os que possuem rendimento mais
baixo
Há fatores que podem melhorar o desempenho de servidores
públicos e, consequentemente, garantir mais eficiência na gestão pública.
Quanto maior o grau de escolaridade, maior a possibilidade de o servidor
transitar entre diferentes órgãos; e quanto maior a proporção de concursados,
melhor o desempenho da burocracia. É o que revela a tese de doutorado defendida
pela pesquisadora Aleksandra Pereira dos Santos no Programa de Psicologia
Social, do Trabalho e das Organizações.
A pesquisadora analisou uma amostra com dados de 1.156
servidores de carreira nas áreas de Políticas Públicas, Gestão, Planejamento,
Orçamento, Tecnologia da Informação, Fiscalização e Controle. Utilizou, ainda,
informações fornecidas pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
sobre ministérios, autarquias e fundações. A metodologia aplicada foi a
multinível, conhecida em pesquisas na área de Educação, mas pouco utilizada na
Gestão Pública.
Entre as variáveis estudadas, o grau de escolaridade e a
possibilidade de o servidor se movimentar entre órgãos (mobilidade)
mostraram-se relevantes para o desempenho do trabalho. São igualmente
significantes os investimentos que a organização faz em ações de treinamento e
desenvolvimento, a existência de uma cultura que estimule a aprendizagem e o
compartilhamento de conhecimentos, além de graus elevados de comprometimento
com a organização e com a carreira.
Outros fatores não se mostraram relevantes. “Ao contrário do
que se propaga, o tempo médio na carreira, a idade do servidor e o cargo
gerencial ocupado não se revelaram significativos para o desempenho relacionado
à tarefa e ao contexto. Significa que servidores recém-ingressos no serviço
público, ou os mais jovens, podem desempenhar competências com o mesmo grau de
complexidade que servidores com idade e tempo de carreira superiores", diz
a pesquisadora.
DESEMPENHO
O estudo defendeu a existência de dois tipos de
desempenho: um relacionado à própria atividade que o servidor executa; e outro,
às atividades que não contribuem diretamente para os aspectos técnicos do
trabalho, mas para a melhoria do ambiente social e psicológico. Esse desempenho
inclui, por exemplo, ajuda aos colegas da organização, fazer sugestões sobre
como melhorar procedimentos organizacionais e proatividade.
A participação significativa de variáveis contextuais aliada
a indicadores mais específicos, como a proporção de servidores concursados,
revelam que o desempenho do servidor público depende, também, de políticas
adotadas pelo próprio Estado, como a priorização de ingressos por meio de
concurso público e a redução dos cargos comissionados sem vínculo.
DESAFIOS
A pesquisadora explica que a sociedade espera
melhor desempenho dos servidores públicos, mas para isso é necessária uma
política de recursos humanos que incentive o desenvolvimento desses
trabalhadores por meio da pós-graduação e estimule a atuação em organizações
distintas, com vista a ampliar a mobilidade.
A melhoria do desempenho depende de incentivos do próprio
governo. “Entretanto, como em toda área de gestão – e mais especificamente em
recursos humanos – as políticas se baseiam em intuição ou em práticas que
acreditam serem válidas, mas sem evidência. Não se reconhece a existência de
estudos sérios e com muita densidade teórica e metodológica sobre o serviço
público e o desempenho dos seus servidores”, explica Aleksandra.
Trata-se, segundo a pesquisadora, de incentivar o sistema de
mérito pela estruturação de carreiras, cujos servidores devem ser selecionados
por concurso público e mantidos com base em critérios de mérito que levem em
conta a capacidade de mediar conflitos, atuar no contexto e orientar as
respectivas organizações públicas por valores éticos e democráticos.