Fernando Torres e Carolina Mandl
Valor Econômico
- 28/01/2014
Crédito Instituições dizem estar no limite de baixa dos
spreads após elevação de 3,25 pontos da taxa básica
São Paulo - Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú,
Bradesco e Santander seguraram enquanto puderam os repasses da alta da taxa
básica de juros para as linhas de crédito consignado voltadas para os
Servidores Públicos e para os aposentados do INSS.
Enquanto a Selic subiu 2,75 pontos percentuais ao ano entre
abril e dezembro de 2013, os cinco maiores bancos do país apertaram suas
margens e mantiveram praticamente estáveis as taxas cobradas desses clientes,
conforme levantamento do Valor com base em dados do Banco Central (ver
gráfico).
Isso representou uma queda de quase 3 pontos percentuais no
spread médio do consignado para o setor público ao longo de 2013, que ficou em
12,57% ao ano no quarto trimestre, e de 2,54 pontos percentuais na linha do
INSS, que teve margem média de 16,52% nos últimos três meses do ano.
Mas após a última elevação da Selic em 0,50 ponto
percentual, no dia 14, para 10,50%, os bancos começam a avaliar que não dá mais
para apertar. Estamos no osso. Vou ter que fazer um ajuste técnico , disse um
alto executivo de uma instituição financeira, indicando que faria um repasse
ainda em janeiro.
A razão para as taxas terem sido mantidas até agora, o que
deve ter reflexos nas margens financeiras brutas das instituições no quarto
trimestre, foi a forte concorrência. Todos os bancos querem ganhar participação
de mercado nessas duas carteiras de consignado que, apesar do spread menor, têm
baixíssimo risco de inadimplência.
Reforçando essa evidência, em linhas que os bancos não estão
priorizando neste momento, como crédito pessoal não consignado e aquisição de
veículos, o repasse tem ocorrido em todas as instituições, com exceção da
Caixa, que aumentou os juros cobrados no fim do ano, mas em dose menor do que o
avanço da Selic.
O saldo somado das duas linhas de consignado preferidas pelo
mercado atingiu R$ 202 bilhões em novembro, um crescimento de 38% em dois anos,
ante avanço de 17% no total de crédito para pessoa física com recursos livres
no mesmo período. Nesse intervalo, o peso do consignado no crédito livre para
indivíduos subiu de 27% para 32% do total.
A decisão de subir os juros a partir de agora, no entanto,
pode não ser tão simples de ser executada. O executivo que promete o ajuste
técnico admite que, se a concorrência não fizer o mesmo e ele perder
participação de mercado no consignado, poderá ter que voltar atrás.
Esse ponto de dificuldade para o repasse se soma a outro
empecilho para que essa estratégia de recomposição de margens seja
implementada.
O Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) estabelece
um teto de 2,14% ao mês para cobrança no consignado destinado aos aposentados e
pensionistas do INSS. E alguns bancos, como Itaú (2,12%), Bradesco (2,07&%)
e Santander (2,07%), fecharam o ano passado bem próximos desse limite. BB e
Caixa ainda têm alguma folga. Embora tenham elevado as taxas ao longo do ano
(em ritmo inferior à alta da Selic), os dois bancos federais estão distantes do
teto, com taxas mensais de 1,88% e 1,70%, respectivamente.
Chegou-se ao limite do crédito consignado. O espaço para
redução de juros hoje é nulo , diz o diretor de um banco privado. A tendência,
segundo ele, é que daqui para a frente o banco busque alcançar o teto máximo de
cobrança permitido pelo INSS. Dentro da Selic atual, esse limite [de 2,14%]
ainda é suportável , afirma ele.
A preocupação dos bancos se dá, porém, com o futuro da taxa
básica de juros. Se novas rodadas de alta vierem (e o mercado prevê pelo menos
mais um ajuste de 0,25 ponto ou 0,50 ponto), as instituições financeiras tendem
a negociar com o INSS e com outros entes públicos a ampliação do teto. Ninguém
nega, porém, que reajustes no crédito consignado serão bastante difíceis,
principalmente em um ano de eleições, já que seria uma medida bastante
impopular.
A taxa máxima de 2,14% ao mês para os aposentados e pensionistas
do INSS está em vigor desde maio de 2012, quando a Selic estava em 9% ao ano.
Naquela data, o CNPS anunciou uma redução de 0,20 ponto percentual no teto do
crédito com desconto direto na folha de pagamento.
Em conversa com o Valor, o executivo de um banco privado
também relatou que os juros médios do consignado para funcionários públicos
sofreram uma queda porque essa instituição ganhou uma folha de pagamento de um
convênio que exige taxas mais baixas no crédito. No fim, outros serviços prestados
pelo banco compensam os juros mais baixos , diz.
O executivo de um outro banco avalia que o movimento de
redução de taxas no consignado foi em grande parte puxado pelos bancos
públicos, que em 2012 começaram um movimento de redução de juros, em meio à cruzada
iniciada pela presidente Dilma Rousseff. Juntos, o Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal possuem quase 50% do estoque de crédito consignado.
Daqui para a frente, porém, o executivo avalia que o cenário
será diferente. A recuperação de taxas no consignado certamente acontecerá. As
taxas dos bancos públicos estavam excessivamente baratas e agora estão sendo
recompostas , afirma ele.
Os bancos foram procurados, mas nenhum deles dispôs de um
porta-voz para falar oficialmente sobre o tema.
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