Rosana Hessel , Célia Perrone
Correio Braziliense
- 26/04/2015
Bem remuneradas, vagas de conselheiros em 140 estatais e
empresas de economia mista são cobiçadas por ministros, assessores e políticos.
Especialistas criticam falta de critérios técnicos para as nomeações
Está aberta a disputa por nada menos que 1,1 mil vagas em
conselhos de 140 estatais e empresas de economia mista controladas pela União.
Feito sem transparência, o preenchimento desses cargos tornou-se um balcão de
negócios para privilegiados da Esplanada dos Ministérios e integrantes da base
política do governo. Ocupar um desses postos funciona como um complemento da
renda para ministros, secretários e altos funcionários públicos, mas também
pode ser um prêmio de consolação para parlamentares e candidatos a cargos
majoritários que não conseguiram se eleger.
Se forem consideradas as vagas nos conselhos de fundos de
pensão ou de empresas privadas nas quais a União tem participação acionária,
esse número pode mais do que dobrar. Especialistas criticam a farra dos
conselhos uma vez que o critério para a escolha dos integrantes nem sempre é a
capacidade profissional na área de atuação da companhia e, frequentemente,
ignora-se o princípio básico de uma estatal, que é defender o interesse
público.
"No mínimo, um conselheiro de uma companhia pública
precisa ter capacidade técnica e isolamento político", destaca o professor
de Estratégia do Insper Sergio Lazzarini, especialista na área de governança
corporativa. "O papel de uma estatal é perseguir o mandato claro que a
sociedade lhe impõe. Se for seguir lucro, privatiza, e, se for algo além do
lucro, isso tem que estar bem claro", afirma.
Os salários dos conselheiros de estatais podem variar entre
R$ 3 mil e R$ 30 mil por mês, pelas estimativas de especialistas e de
integrantes do governo. "Existe uma briga muito grande entre os partidos
por essas vagas, como ocorre para o primeiro e o segundo escalões. Quem não
quer ganhar R$ 20 mil para ir apenas a uma reunião por mês de um
conselho?", pergunta uma fonte da base aliada.