Vera Batista
Correio Braziliense
- 05/07/2016
Apesar do discurso de comprometimento com o ajuste fiscal
para eliminar o rombo nas contas públicas, que ultrapassa os R$ 170 bilhões, o
presidente interino, Michel Temer, achou melhor não mexer no vespeiro do
funcionalismo. Em evento em São Paulo, ontem, ele deixou claro que decidiu
conceder reajuste aos servidores para evitar greves que poderiam paralisar setores
essenciais do serviço público. "Seria uma coisa muito desastrosa para o
governo e para o país (não fazer o acordo salarial)", disse.
Ele lembrou ainda que os aumentos foram negociados na gestão
da presidente afastada, Dilma Rousseff, afirmou que as correções estavam
previstas no orçamento, serão divididas em quatro anos e ficarão abaixo da
inflação. "Foi uma decisão prudente. Do contrário, haveria reação muito
forte. O presidente interino sabe da força das entidades sindicais. Os
servidores estão acompanhando com lupa o desenrolar das votações no Congresso.
Qualquer movimento de recuo, estamos prontos para cruzar os braços",
analisou Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que representa 80% do
funcionalismo - 850 mil trabalhadores ativos, aposentados e pensionistas da
base da pirâmide.
Silva destacou que, se Temer quer mesmo cumprir os acordos,
tem que ser ágil. Os projetos de lei que autorizam os reajustes deveriam ter
sido votados na semana passada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
mas o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) pediu vista. "A esperança é de que
voltem à pauta nesta quarta-feira", assinalou Silva.
Os projetos terão que passar pela Comissão de Finanças e
Tributação (CFT) e pelo plenário, até, no máximo, 30 de julho. Só assim o
dinheiro entrará nos contracheques em setembro. "Não está descartada a
possibilidade de greve. O tom é de muita cautela", reforçou Daro Piffer,
vice-presidente do Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate). Não faz
sentido, após longa e árdua negociação, os acordos serem rasgados, disse ele.
Segundo Piffer, a pressão dos servidores não é infundada.
Ele observou que alguns ministros são contra o aumento. "Sem falar de alguns
parlamentares da base aliada que torcem para Temer desfazer os tratos. Agora, é
ver para crer", disse.
Para evitar o pior
Fontes do Palácio do Planalto afirmaram que, se os reajustes
não tivessem sido aprovados, o custo seria muito maior, como os aumentos
salariais de até 78% que o pessoal do Judiciário tentou empurrar. Além disso, é
difícil avaliar o impacto de uma greve geral do funcionalismo. As categorias
menos abastadas prejudicariam a população, com paralisações na educação, na
saúde e na Previdência Social. Os mais especializados parariam o país. Apenas
os auditores da Receita Federal trariam prejuízo diário à sociedade de R$ 1,5
bilhão. Os procuradores da Fazenda deixariam de evitar perdas anuais de R$ 500
bilhões aos cofres públicos. Se todas as carreiras de unissem, o estrago seria
tremendo.