BSPF - 18/09/2016
Associações de servidores do Judiciário e da Receita
repudiam comparação feita pelo ex-presidente de que políticos são mais
“honestos” que concursados porque têm de prestar contas ao eleitor a cada
eleição. Veja a fala dele e as reações
Associações de diversas categorias do serviço público
repudiaram a declaração do ex-presidente Lula de que políticos são mais
honestos do que concursados porque têm de “encarar o povo e pedir voto”, dita
quinta-feira (15) ao se defender da denúncia do Ministério Público Federal.
“Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito
a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque
todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o
povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso
e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de
ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de
tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego. E muitas vezes
consegue, outras vezes não consegue”, discursou o petista.
Acusado por procuradores de ser o “comandante máximo” do
petrolão, Lula mirava em seu discurso os integrantes da força-tarefa da
Operação Lava Jato. “Eu vi eles falarem dos partidos políticos, dos governos de
coalizão, vocês sabem que muita gente que tem diploma universitário, que fez
concurso, é analfabeto político”, acrescentou em outra crítica aos seus
acusadores.
A reação foi imediata, ganhou as redes sociais, com memes e
mensagens que viralizaram, e manifestações de repúdio por parte de entidades de
classe:
Em nota, a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
Receita do Brasil (Anfip) lamentou as declarações de Lula e disse que os
servidores públicos atuam para o Estado, e não para governos temporários. “Os
servidores públicos concursados atuam para o Estado, para a nação, para seu
povo, e não para governos temporários, sejam eles compostos por ladrões ou não.
Os políticos passam, o Estado e seus servidores ficam.”
O Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal
(Sintrajud) também repudiou a comparação feita por Lula e lembrou outros
episódios em que presidentes atacaram o funcionalismo. “Não é a primeira vez
que presidentes ou ex-presidentes agridem os servidores públicos para defender
seus interesses. Em 1989, Fernando Collor criou o factoide ‘caçador de marajás’
para se eleger presidente e derrotar, justamente, o operário Lula. Em 1994, Fernando
Henrique Cardoso chamou aposentados e servidores de ‘vagabundos’. Não são
ataques gratuitos, é bom que se diga. Obedecem à lógica de que o que é público
é ruim e atendem, assim, ao setor privado”.
Para a Associação Paulista de Magistrados (Apamagis), o
petista ofendeu a todos que ingressaram no serviço público por concurso público
e não se comportou como um ex-presidente. “A fala do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva no último dia 15 de setembro sobre o serviço público não é digna
de quem já ocupou o cargo mais alto da República. Dizer que o servidor público
é um analfabeto político e que os eleitos pelo voto obrigatório nas urnas são
os trabalhadores mais honestos do país é uma ofensa a quem por meio de concurso
ocupa cargo público nas estruturas dos três poderes.”
Uma mensagem de autoria desconhecida também se espalhou
pelas redes sociais como espécie de carta aberta de um servidor público ao
ex-presidente. “Não usei verba desviada de nenhuma empresa estatal para
financiar a taxa de inscrição do concurso que fiz. O salário que recebo não me
permite comprar sítios ou triplex. Não disponho de imunidade parlamentar, não
disponho de auxílio moradia, nem paletó. Não sou financiado por empresas
privadas e bancos”, diz o texto, que conclama, ao final, Lula a passar por um
concurso público.
A íntegra da nota da Anfip:
“Nota pública de repúdio: servidor de Estado, não de
governos
A ANFIP – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da
Receita Federal do Brasil lamenta profundamente os ataques descabidos e
injustos aos servidores públicos proferidos nesta quinta-feira (15) por um
ex-presidente da República. O referido político – atividade esta, segundo ele, destinada
a ladrões – fere toda a sociedade ao investir contra milhares de trabalhadoras
e de trabalhadores que optaram, de forma constitucional e após rigorosos
concursos públicos, por servir ao conjunto da população.
No caso específico do Auditor Fiscal da Receita Federal do
Brasil, registre-se que é a atuação direta do integrante da carreira que
garante a arrecadação dos recursos investidos em toda e qualquer política
social implantada no Brasil. É o trabalho do Auditor da Receita Federal que
assegura o financiamento da Previdência, da Saúde, da Assistência Social e de
tantas outras iniciativas essenciais para os mais de 200 milhões de habitantes
do País.
Os servidores públicos concursados atuam para o Estado, para
a nação, para seu povo, e não para governos temporários, sejam eles compostos
por ladrões ou não. Os políticos passam, o Estado e seus servidores ficam.”
A nota do Sintrajud:
“Servidores receberam com espanto e indignação a declaração
do ex-presidente Lula comparando os trabalhadores concursados dos serviços
públicos a políticos corruptos. Aliás, apontando-os como corruptos potenciais,
ao mesmo tempo em que elege o político como “a profissão mais honesta” que
existe. Muitos tomaram conhecimento da declaração com incredulidade, diante do
teor não apenas desrespeitoso com milhões de trabalhadores, mas estapafúrdio da
mensagem. Vejamos, palavra por palavra, o que disse o ex-presidente petista:
‘A profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê?
Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua e pedir
voto. O concursado, não: se forma na universidade, faz um concurso e tem
emprego garantido para o resto da vida.’
Lula acaba de ser denunciado pelo Ministério Público por
participação em um suposto esquema de corrupção. É direito seu e é legítimo que
se defenda. Mas não pode fazer isso atacando toda uma categoria de forma
leviana. Ao que parece, no entanto, nem o ex-presidente nem o PT, que em 2003
se empenharam para aprovar a reforma da Previdência que cortou direitos
justamente do servidor público concursado, não veem problemas nisso. Faz pouco
tempo, para defender a então presidente Dilma, o PT atacou os servidores do
Judiciário Federal que lutavam pela reposição das perdas salariais.
Não é a primeira vez que presidentes ou ex-presidentes
agridem os servidores públicos para defender seus interesses. Em 1989, Fernando
Collor criou o factoide ‘caçador de marajás’ para se eleger presidente e
derrotar, justamente, o operário Lula. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso
chamou aposentados e servidores de “vagabundos”. Não são ataques gratuitos, é
bom que se diga. Obedecem à lógica de que o que é público é ruim e atendem,
assim, ao setor privado – o das empreiteiras, banqueiros, do envenenado
agronegócio, setores que todos esses governos, aliás, se relacionaram muito
bem, até bem demais. É um discurso que faz coro com as privatizações, com o fim
da estabilidade e com a divulgação da imagem do “servidor privilegiado”.
Tudo isso num momento em que a categoria enfrenta um dos
mais brutais ataques das últimas décadas – com ameaça de retirada generalizada
de direitos. Repudiamos tal declaração e convidamos o conjunto do funcionalismo
a dar, nas ruas, a resposta a todos os que investem contra a defesa de serviços
públicos, gratuitos, de qualidade e com profissionais concursados e não
apadrinhados.”
A íntegra da nota da Apamagis:
“Apamagis repudia discurso do ex-presidente Lula
A fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último
dia 15 de setembro sobre o serviço público não é digna de quem já ocupou o
cargo mais alto da República.
Dizer que o servidor público é um analfabeto político e que
os eleitos pelo voto obrigatório nas urnas são os trabalhadores mais honestos
do país é uma ofensa a quem por meio de concurso ocupa cargo público nas
estruturas dos três poderes.
A Associação Paulista de Magistrados repudia esse discurso e
reafirma sua confiança nos servidores públicos de todas as esferas, e muito
especialmente da Magistratura paulista e brasileira.
O serviço público é fundamental para o funcionamento das
instituições democráticas e o respeito aos servidores uma exigência de todo
homem público e de todo cidadão.
A Apamagis externa seu respeito aos servidores e aos valores
da República brasileira.”
Fonte: Congresso em Foco