BSPF - 18/03/2017
Houve também suspeitas em carne bovina e ração. Dos
afastados, 4 foram exonerados
O Ministério da Agricultura disse nesta sexta (17) em
coletiva de imprensa que 33 servidores foram afastados após a Operação Carne
Fraca da Polícia Federal, que aponta para um esquema de pagamento de propina
para fiscais do ministério a fim de liberar carne imprópria para consumo. Dos
33 servidores, quatro foram exonerados nesta sexta-feira (17), após a operação
ser deflagrada.
O ministério tem cerca de 11 mil servidores, dos quais 2,3
mil trabalham na área de fiscalização. As informações são do
secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, em entrevista
coletiva.
O Ministério da Agricultura informou que as carnes que
apresentaram problemas detectados pela Carne Fraca são: mortadela, salsicha,
carne de aves e houve suspeitas em carne bovina e ração animal.
Os lotes exatos de carnes com problemas só serão informados
pela pasta posteriormente, possivelmente na segunda-feira (20). Os produtos dos
frigoríficos envolvidos estão sendo recolhidos dos supermercados, a produção
foi interrompida e as unidades de produção foram interditadas.
Três unidades de beneficiamento de carne foram fechadas: a
BRF em Mineiros (GO), e as unidades da
Peccin em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba (PR). Outras 21 unidades produtivas,
que não foram mencionadas pela pasta, estão sob suspeita e, portanto, sendo
investigadas.
— Não é um fato cotidiano. São fatos isolados, que não representam
de modo algum a postura do ministério.
Novacki afirmou que os indícios apontatos na investigação
deixaram a pasta "indignada".
— Esses episódios nos deixam indignados e contrariados até
porque estamos fazendo trabalho reconhecido e situações como essa trazem dano a
imagem. As primeiras denúncias aconteceram há quase sete anos atrás e há dois
anos as investigações e culminaram nessa operação.
O secretário disse ainda que procedimentos de fiscalização
já haviam sido alterados pelo minstério no ano passado.
— O ministro [Blairo Maggi] pediu que uma série de
procedimentos fossem modificados, entre eles os de inspeção. Uma portaria
proibiu um dos fatos que culminou na operação, como a remoção de fiscais sem
motivo aparente. Em novembro, através de uma portaria, acabamos com isso.
Novacki disse que os produtos com problemas são
"poucos" dentro do universo de boa qualidade da carne brasileira.
— A população brasileira pode ficar tranquila, os produtos
brasileiros são de qualidade e é por isso que exportamos para 150 países. Os
riscos são muito pequenos, de mais de 4 mil estabelecimentos nós temos 21 sob
suspeita.
Ele disse ainda que a população brasileira pode consumir os
produtos normalmente.
— Nosso sistema de vigilância sanitária é de um dos mais
respeitados. Se perceberem qualquer problema comuniquem o ministério que irá
resolver todos os problemas.
Novacki completou que em 15 dias a o Ministério terá
informações precisas sobre os lotes com problemas. Ele reconheceu que novas
operações e investigações podem vir no futuro.
— Estamos tomando providências administrativas e
encaminhando informações ao Ministério Público e à Polícia Federal. Essa
parceria vai existir e vamos trabalhar firmemente para evitar que isso se
repita no futuro.
Mais cedo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, falou em
tolerância zero dentro da pasta e disse que as investigações apontam para um
"crime contra a população brasileira". Maggi cancelou a licença que
tiraria na próxima semana para gerenciar a crise.
A operação
As investigações da PF apontam que um suposto esquema de
pagamento de propinas para liberrar carne imprópria seria liderado por fiscais
agropecuários federais e empresários do agronegócio.
Segundo a PF, a operação detectou em quase dois anos de
investigação que as Superintendências Regionais do Ministério da Pesca e
Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás "atuavam diretamente
para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público".
A operação encontrou uma série de irregularidades na fabricação
e comercialização de proteínas no País, com investigação concentrada no Paraná,
mas também com desdobramentos em outros Estados, como Goiás e Minas Gerais. A
operação apura o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em
esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
O delegado Moscardi Grillo disse, em entrevista coletiva,
que as algumas das empresas investigadas usavam ácido e outros elementos
químicos muito acima do permitido por lei para maquiar o aspecto físico de
alimento vencidos e estragados. "Alguns são cancerígenos e usados para
poder maquiar a característica física", afirmou Grillo.
Ele disse que estas irregularidades foram encontradas
principalmente em frigoríficos menores da Região Sul, mas não só. Ele disse
ainda que algumas empresas injetavam água para aumentar o peso da carne.
O delegado afirmou ainda que também foi encontrada carne
processada, em que na verdade não havia proteína animal e sim, soja.
"Inclusive há uma destas empresas que forneciam merenda escolar no Paraná
que não havia carne dentro, era proteína de soja", disse afirmando se
tratar do Frigorífico Souza Ramos.
A Polícia Federal citou ainda casos de Salmonella - bactéria
que causa infecção em humanos e pode ser transmitida por alimentos. Neste
casos, fiscais do governo federal recebiam propina para liberar a comercialização
do produto contaminado. "Encontramos também pagamento de propina para
fabricação de proteína em fábricas contaminadas com Salmonella", afirmou.
Ele disse ainda que contêineres com alimento contaminado,
com destino à exportação para Europa, também foram encontrados.
A operação desta manhã foi a que envolveu o maior número de
agentes da PF na história, cerca de 1100 policiais federais que foram às ruas
cumprir 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão
temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências
e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao
esquema. Foram presos executivos da JBS e da BRF, as maiores empresas do setor
no País.
As ordens judiciais foram expedidas pela 14.ª Vara da
Justiça Federal de Curitiba/PR e estão sendo cumpridas em 7 Estados - São
Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais e Goiás.
Outro lado
A JBS diz que três unidades (duas no Paraná e uma em Goiás)
foram alvos da operação de hoje. Um veterinário da empresa, cedido ao
Ministério da Agricultura também teve ordem judicial expedida contra ele.
"A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de
qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança
alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui
diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que
comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos", diz a
multinacional em nota.
Ainda no comunicado, a empresa afirma que "repudia
veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de
produtos – seja na produção e/ou comercialização - e se mantém à disposição das autoridades com
o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos".
A BRF informou por nota que "assegura a qualidade e a
segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus
consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua". A
companhia ainda declarou que está colaborando com as autoridades e que
"possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas
ilícitas".
Fonte: R7 Notícias