Congresso em Foco
- 12/05/2018
Com mandato a cumprir ao menos até janeiro de 2019, Michel
Temer (MDB) diz estar disposto a fazer um “acordo” com o próximo presidente da
República para aprovar a polêmica reforma da Previdência, sepultada diante da
falta de votos governistas e depois de inúmeras tentativas de votação no
plenário da Câmara. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o emedebista
parecer ter desistido de tentar a reeleição ao mencionar a intenção de
entendimento com seu sucessor – talvez em “ato falho”, como aponta a
publicação.
Para Temer, “ainda dá tempo” de aprovar a reforma ainda em
2018, depois das eleições, quando políticos não estarão preocupados com a perda
de votos ao aceitar aprovar medidas impopulares. “Estou disposto a fazer um
acordo com o futuro presidente, porque ainda dá tempo de aprovar a reforma da
Previdência neste ano, em outubro, novembro e dezembro”, declarou o presidente,
que enfrenta seguidas denúncias de corrupção e a mais elevada rejeição popular
para um presidente em todos os tempos, segundo as mais diversas pesquisas de
opinião.
Aproveitando para enumerar o que diz considerar realizações
de sua gestão, Temer afirmou que o próximo mandatário, seja quem for, terá que
promover as mudanças no sistema de aposentadorias e pensões. Para o emedebista,
seria melhor para seu sucessor que assuma o comando do país sem o peso de uma
matéria com forte rejeição em início de governo.
Segundo o Estadão, a entrevista foi concedida pelo
presidente na noite desta sexta-feira (11), no Palácio do Planalto, como forma
de marcar os exatos dois anos de mandato completados neste sábado (12). Ciente
de que terá de suspender a intervenção federal no Rio de Janeiro para aprovar
qualquer proposta de emenda à Constituição – caso da reforma da Previdência,
disposta na PEC 287/2016 –, como determina a lei, Temer minimizou outros
obstáculos no caminho da matéria: a desmobilização da base aliada frente ao
enfraquecimento do governo e a falta de quórum suficiente para aprovar uma PEC
em ano eleitoral repleto de arranjos político-partidários.
Temer minimizou também as baixíssimas chances de se
reeleger. “Não tenho esse desejo imenso de voltar, de ser presidente de novo.
Afinal, já passei pela Presidência, já sei como é. [...] As pesquisas não valem
nada a esta altura, são mero indicativo. Elas só valem na reta final, próximo à
eleição”, avaliou.
Fator Maia
Para aprovar a reforma, Temer precisaria do voto de ao menos
308 deputados e 49 senadores, ou seja, três quintos dos parlamentares. Além
disso, são exigidos dois turnos de votação em ambas as Casa legislativas,
respeitando-se cinco sessões plenárias para discussão em primeiro turno e três
em segundo turno. Ainda segundo o jornal paulista, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a ideia de interrupção da intervenção federal
na segurança pública fluminense com o objetivo de aprovar a reforma.
Pré-candidato à sucessão no Palácio do Planalto, Maia
reiterou ser favorável à medida extrema e declarou que interrompê-la causaria
“insegurança” em seu reduto eleitoral. “Acho que o presidente está tratando de
muitas variáveis que não controla. Ele não controla o nome do novo presidente,
não controla a agenda de campanha nem a da Câmara e do Senado”, fustigou o
deputado, um dos principais fiadores da pauta reformista de Temer na Câmara.