Correio Braziliense
- 20/11/2018
Mesmo questionados na Justiça ou pelo TCU, vantagens pagas a
servidores pesam no orçamento da União. Somente bônus de eficiência para
auditores da Receita e honorários de sucumbência a advogados somam R$ 3,9
bilhões nos últimos dois anos
Nas últimas campanhas salariais, o governo fez acertos com
servidores federais que acabaram não totalmente cumpridos ou foram motivo de
questionamentos judiciais ou do Tribunal de Contas da União (TCU). Mesmo assim,
pesam no orçamento. Duas faturas pesadas, com forte impacto fiscal, que
passarão como herança para a próxima gestão, são o bônus de eficiência do
pessoal da Receita Federal e os honorários de sucumbência dos advogados
públicos federais. Em 2016 e 2017, o Executivo desembolsou R$ 1,34 bilhão para
auditores-fiscais e analistas tributários do Fisco (R$ 3 mil e R$ 1,8 mil
mensais, respectivamente), segundo a Consultoria de Fiscalização e Orçamento do
Senado. Para os advogados da União, foram R$ 2,6 bilhões no período, nos
cálculos do TCU. Apenas essas duas carreiras aumentaram as despesas da União em
R$ R$ 3,94 bilhões.
“São penduricalhos que oneram o orçamento e prejudicam o
investimento em áreas prioritárias como saúde, educação e segurança. A
princípio, esses benefícios são uma espécie de valor à parte, mas, com o passar
do tempo, não raro, são incorporados aos salários. É um absurdo que distorce
completamente a possibilidade de previsão dos gastos”, destacou Gil Castello
Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas. Somente em 2018, até
agora, segundo o Ministério do Planejamento, o bônus de eficiência, que nem
sequer foi regulamentado, custou R$ 830 milhões.
Os honorários de sucumbência foram criados em 2015 e
regulamentados em 2016. De janeiro a outubro de 2017, o gasto chegou,
oficialmente, a R$ 481,2 milhões. Mas o TCU apurou que alguns meses não foram
contabilizados. Por isso a fatura pode chegar a R$ 2,6 bilhões. A quantia
recebida individualmente pelos servidores subiu gradativamente. Em janeiro de
2017, advogados da União, procuradores da Fazenda, procuradores federais e do
Banco Central recebiam R$ 3,74 mil brutos, sem desconto de Imposto de Renda. Em
dezembro daquele ano, o extra saltou para R$ 8,5 mil.
Apesar da discussão sobre a inconstitucionalidade dos
valores recebidos por mais de 12,5 mil profissionais, Marcelino Rodrigues,
presidente da Associação Nacional dos Advogados Federais (Anafe), frisou que
“os honorários não existem em caso de perda (da causa), e o fato de antes a
União não ter pago era considerado apropriação indébita”.
Lucieni Pereira, presidente da Associação da Auditoria de
Controle Externo do TCU (AudTCU), contesta. “Ao advogado público cabe defender
a União, não o bolso dele. É um dinheiro público. Áreas técnicas de dentro do
próprio governo se sentem inseguras com esse negócio”, afirmou. Lucieni lembrou
que o advogado público não paga aluguel, recebe salário mensal e tem
aposentadoria pública. “Os honorários de sucumbência criam um desequilíbrio
entre as carreiras essenciais à Justiça”, reforçou.
Acordos antigos
De acordo com um técnico que não quis se identificar, outras
despesas sangram o orçamento sem que ninguém saiba de onde vieram — normalmente
são fruto de acordos antigos que passam de governo a governo. Como exemplo, ele
apontou os R$ 3,25 bilhões pagos anualmente como gratificação pelo exercício de
cargo em comissão; incorporações diversas, com impacto de R$ 1,04 bilhão;
complementação salarial para militares, com R$ 18,9 milhões até 11 de novembro
de 2018; pensões a anistiados políticos (militares), R$ 434,4 milhões;
incentivo à qualificação, R$ 547,4 milhões. “Se cortarmos tudo, teremos uma
economia significativa para colaborar com o ajuste fiscal.”
Por Vera Batista