Correio Braziliense
- 01/12/2019
O carreirão mostra seu poder quando o assunto é eleger
vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores
A tensão entre os servidores piorou depois de 5 de novembro,
com o “pacote” enviado pelo governo ao Congresso — PEC Emergencial (nº
186/2019), PEC da Revisão dos Fundos (nº 187/2019) e PEC do Pacto Federativo
(nº188/2019). A PEC Emergencial, principalmente, pegou todos de surpresa. O
presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), já havia admitido, em conversas com
integrantes do Fonacate, que 80% da reforma administrativa já estava na
Emergencial. Os 20% restantes é que serão futuramente apresentados pelo
secretário de Gestão de Pessoas do Ministério da Economia, Vagner Lenhart. “Ele
vai só botar a cereja no bolo, porque o bolo já está pronto”, resumiu o
cientista político Jorge Mizael, sócio-diretor da consultoria Metapolítica.
O carreirão (cujos vencimentos estão longe do teto de R$
33,9 mil do setor público) mostra seu poder quando o assunto é eleger
vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores. O cálculo é
simples, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação
Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef): o Brasil tem
cerca de 12 milhões de servidores (ativos, aposentados e pensionistas, nas três
esferas e nos três Poderes). Se multiplicados por quatro (pai, mãe,
esposa/marido, filho), se transformam em 48 milhões, o que representa cerca de
25% da população brasileira, de 208 milhões de habitantes.
Além disso, diz Silva, em algumas cidades ou estados
servidores públicos são a maior parte da força de trabalho, como mostram dados
da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2013. Em Parintins (AM), por
exemplo, há a maior proporção do Brasil de funcionários púbicos em relação ao
total de trabalhadores formais: são 3.971 servidores, ou 62,71% do total. Em
Cametá (AM), os 3.428 funcionários estatutários são 51,44% das pessoas com
empregos formais. Boa Vista vem em terceiro lugar (45,78%); seguida por João
Pessoa, com 42,65%; Porto Velho, com 41,25%; Palmas, 40,30%. Brasília está em
12º lugar, com 38,45%.
“Os que apostaram no atual projeto político, que teve o
apoio de pelo menos 60% dos servidores, estão pagando um preço altíssimo.
Alguns começam a despertar, como mostra a união de servidores do Executivo,
Legislativo, Judiciário e dos federais, estaduais e municipais”, destaca Silva.
Para ele, vai ser difícil o governo cumprir algumas das promessas. “Hoje
existem 309 carreiras, e não é fácil baixar para 20 ou...