Correio Braziliense
- 24/12/2019
Técnicos de contabilidade, serventes de limpeza e agentes
administrativos estão entre as ocupações mais afetadas pela automação no
serviço público federal, segundo estudo feito pela Enap em parceria com o Ipea
A tecnologia mudou as relações humanas de forma geral. No
mercado de trabalho não é diferente e as transformações tecnológicas já
impactam as profissões. De acordo com o estudo inédito da Escola Nacional de
Administração Pública (Enap) feito em parceria com pesquisadores do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao qual o Correio teve acesso exclusivo,
a maioria das carreiras do setor público sofrerá o impacto da automação. Medido
de 0 a 1, este impacto estima o quanto cada carreira será transformada no
futuro. Quanto mais próximo de 1, mais a ocupação sofrerá transformações
tecnológicas. Entre as carreiras mais afetadas estão as de contadores, agentes
administrativos e serventes de limpeza.
Para otimizar os resultados, o estudo focou nas 80 carreiras
com maior número de servidores. As ocupações analisadas correspondem a 456 mil
funcionários públicos, ou seja 84% do total. A pesquisa utilizou dados do
Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape) e da Relação Anual de
Informações Sociais (Rais) de 2017.
O coordenador-geral de ciência de dados da Enap, Leonardo
Monastério, explica que a pesquisa segue a tendência do governo de avaliar
gastos em todas as áreas. “O governo está todo no esforço de reconfigurar o
setor público. Um dos primeiros passos foi a digitalização dos serviços. Nossa
intenção com o estudo é saber que carreiras vão passar por transformações e
quais podem ser extintas”.
A extinção de algumas carreiras não é novidade. “Temos uma
discussão grande sobre isso. Quantos milhões de empregos vão sumir? É bom a
gente trazer a discussão para o governo, já que o setor público tem
peculiaridades”, aponta o pesquisador.
Recorte
A carreira de técnico de contabilidade será a que terá maior
impacto da automação (0,71), de acordo com o estudo. A profissão de datilógrafo
também terá um alto impacto com as novas tecnologias (0,53), tendo a própria
existência ameaçada. Leonardo considera que até mesmo a profissão de motorista
pode deixar de existir.
Ao olhar para um recorte em que a modernização será alta e
os servidores terão mais de 65 anos em 2032, o impacto em algumas ocupações
pode chegar a 0,66. É o caso dos serventes de limpeza. Neste recorte, também
estão incluídos os agentes administrativos, auxiliares de serviços gerais e
agentes de operações de saúde. “Tarefas repetidas e mecânicas são fáceis de
serem reproduzidas por um computador. Nem toda limpeza vai ser automatizada,
mas conforme o Brasil se desenvolva, será possível ver robôs limpando o chão e
fazendo esse trabalho por uma pessoa”, afirmou Leonardo.
“O que ficará para o trabalho humano é a parte que a máquina
não é capaz de fazer”, disse o coordenador da Enap. Quando se olha apenas para
profissões nas quais o servidor lida diretamente com cidadãos, como
professores, médicos e enfermeiros, por exemplo, é possível observar um baixo
impacto da modernização. No caso da carreira de um enfermeiro, por exemplo, é
de 0,2.
Na carreira de um professor de ensino superior o efeito é
menor ainda: 0,03. Logo, essa automação deve ser mais complementar do que
substituta. “A aula de um professor vai continuar existindo. Talvez o que
aconteça é a utilização do ensino a distância, com a gravação de vídeos, como
já acontece”, exemplificou.
A substituição de algumas profissões certamente gerará
economia. No entanto, o pesquisador afirma que a quantificação do impacto ainda
não foi feito pela Enap. Para 2020, está previsto um novo estudo sobre a
automação no serviço público. “Alguns gastos do Estado são difíceis de cortar,
como é o caso da folha da educação e da saúde, que são dois grandes gastos. Mas
o governo está dando os primeiros passos para obter economia em todas as áreas.
A digitalização foi um primeiro impacto na redução dos...