sábado, 4 de janeiro de 2020

“Há uma desigualdade e injustiça salarial enorme dentro do serviço público”


El País     -     04/01/2020




Para Carlos Ari Sundfeld, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público, a avaliação rigorosa do desempenho dos servidores revolucionaria o serviço público brasileiro e traria economia à União

Desde que assumiu o ministério da Economia, Paulo Guedes faz críticas aos altos salários do funcionalismo público no Brasil e promete uma reforma administrativa profunda. Seu plano, no entanto, não deve sair do papel facilmente. Dona de forte lobby junto aos parlamentares, a elite do funcionalismo federal vem pressionando para que as mudanças nas carreiras não aconteçam. A pressão tem surtido efeito. Depois de adiar, em 2019, o envio do projeto que propõe alterações no RH da União, o presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que a reforma proposta pelo Executivo ao Congresso será a "mais suave possível" e, ainda assim, não há um prazo para que a promessa saia do papel. Entre os pontos centrais, estão a extinção da estabilidade para novos servidores e as mudanças nas regras de progressões e reajustes.

Na avaliação do advogado Carlos Ari Sundfeld, professor da FGV Direito São Paulo, a estabilidade dada aos servidores deve continuar, mas apenas mediante uma verdadeira avaliação de desempenho do funcionário, o que, segundo ele, não acontece no Brasil —embora isto esteja previsto na Constituição. Reportagem publicada na Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, citando dados da Controladoria-Geral da União (CGU), mostra que nenhum dos mais de 7.700 servidores federais expulsos desde 2003 foi demitido por mau desempenho. Presidente da Sociedade Brasileira de Direito Público, Sundfeld também defende a unificação de algumas carreiras. O advogado chegou a ser consultado pela equipe econômica do Governo por ser um dos principais especialistas na área. Para ele, hoje o principal problema a ser enfrentado não é o fiscal, mas o da produtividade no setor público. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Pergunta. A folha de pagamento é hoje o segundo maior gasto obrigatório do Governo. Quais seriam os pontos fundamentais para uma reforma administrativa que alivie o descontrole das contas públicas?

Resposta. O maior problema do serviço público brasileiro nem é o fiscal, mas o fato de ele não funcionar bem. Temos que reconstruir as progressões nas carreiras e...



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