segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

União quer pôr fim a progressão automática, diminuir salário e jornada e reduzir categorias


Jornal Extra     -     13/01/2020




O ano começa com a expectativa de muitas mudanças no serviço público. Se, em 2019, a principal agenda do governo federal foram as mudanças nas regras da Previdência, em 2020, a reforma administrativa tomará conta de boa parte das negociações entre os poderes e os servidores. A União anunciou que vai apresentar o texto desse projeto em fevereiro, na volta do recesso do Congresso Nacional. Mas, desde o ano passado, outras três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) que afetam a vida do funcionalismo tramitam no Legislativo. Para ajudar o leitor, o EXTRA explica cada uma em detalhes.

O “Plano mais Brasil” é composto por três PECs: Emergencial, do Pacto Federativo e dos Fundos, que em resumo, criam medidas de ajuste fiscal para controlar os gastos públicos — incluindo a redução de jornada de trabalho e salário dos servidores —, modificam a forma como são distribuídos os recursos para os estados e os municípios e extinguem fundos públicos.

Já o texto da reforma administrativa sofreu modificações antes mesmo e ser apresentado. Jair Bolsonaro (sem partido) disse que entregará ao Congresso uma proposta mais branda, e que boa parte das medidas atingirá apenas os novos servidores.

A equipe técnica do Ministério da Economia se inspirou em reformas de outros países, como Grã-Bretanha, Portugal, Chile, Argentina, Canadá e EUA, e se baseou em análises do Banco Mundial e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O Executivo federal tem cerca de 42 planos, 117 carreiras, mais de dois mil cargos e 620 mil servidores ativos, segundo dados do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), do Ministério da Economia. De acordo com especialistas ouvidos pelo EXTRA, é quase certo que o projeto aborde pontos como: fim da progressão automática, salário menor no início da carreira, aumento de intervalo de tempo para promoções e fim da estabilidade para algumas carreiras.

Manoel Peixinho, especialista em Direito Constitucional e Administrativo, avalia como positivas as mudanças nas regras de promoção automática, porque hoje um servidor pode chegar ao topo da carreira em dez anos.

— A reforma administrativa deve ter critérios objetivos sobre a promoção do servidor até o topo da carreira. Se ele atingir o topo quando estiver com idade próxima à aposentadoria, isso impactará positivamente os cofres públicos. É um erro do pacto federativo a progressão automática. O certo é combinar antiguidade e merecimento.

Peixinho lembrou que há um entendimento do Supremo Tribunal Federal de que não existe direito adquirido no regime jurídico público. Assim, uma reforma administrativa é “mais fácil” do que uma reforma previdenciária, porque qualquer alteração no estatuto dos servidores pode atingir toda a categoria:

— Para isso não acontecer (atingir servidores atuais), é preciso fixar normas de transição, o que não ocorreu ainda.

Alerta na avaliação por desempenho

A regulamentação da avaliação por desempenho é um dos pontos que podem ser positivos para os servidores, mas deve ser feita de uma forma cautelosa, para evitar a perseguição política por parte da chefia. É a opinião do coordenador do Programa Avançado de Gestão Pública do Instituto Insper, Marcelo Marchesini:

— O governo deveria fazer uma regulamentação coerente, porque a avaliação de desempenho faz muito sentido, é necessária para a qualificação dos serviços públicos no país. Mas é perigosa, precisa ser implementada com muito cuidado. Tem que ser feita às claras, porque não pode ser um mecanismo de perseguição política. O processo precisa ser dialogado com academias, com especialistas, para se adequar às diferentes áreas de atuação do governo.

A possibilidade do fim da estabilidade para algumas carreiras preocupa as entidades representativas. Para Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), a medida afeta o próprio exercício da função pública na medida em que os profissionais devem ter direitos garantidos.

— A estabilidade não pode ser um direito de um servidor x e não de um servidor y, porque este entrou na carreira depois. As carreiras de estado não podem sofrer pressões políticas, como aquelas que são responsáveis por fiscalização, pois isso coloca a eficiência do serviço público em dúvida.

Corte de salário e da jornada de trabalho

Para o governo, a PEC Emergencial aprimora o que já existe na Emenda Constitucional 95 (que congelou os gastos públicos por 20 anos). O texto cria mecanismos que serão acionados automaticamente, por até dois anos, sempre que despesa obrigatória da União, do estado ou do município ultrapassar 95% da receita corrente líquida ao longo de 12 meses. Entre esses mecanismos estão a redução de 25% da jornada de trabalho com a redução proporcional dos salários dos servidores. Também ficam proibidos aumentos, criação de cargos e concursos.

Sobre a questão da redução salarial, Rudinei Marques lembra que, dos 620 mil servidores federais ativos, 20% estão em abono-permanência, ou seja, já atingiram os critérios para dar entrada na aposentadoria. Ele calcula que o governo pode perder cerca de 120 mil pessoas.

— A pessoa vai preferir perder gratificações da ativa do que 25% do salário, é...



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