Agência Brasil
- 02/04/2020
Para pesquisador da Fiocruz, funcionários devem observar
recomendações
Brasília - Com a pandemia do novo coronavírus (covid-19), os
governos estaduais decretaram quarentena e diversas empresas adotaram regime de
teletrabalho, quando o funcionário desempenha suas funções de casa. Assim com
deve haver preocupação com as condições de trabalho no local onde ele ocorre,
nessa situação excepcional é também importante estar atento para cuidados
relacionados à saúde ocupacional.
Segundo Renato Bonfatti, pesquisador da Escola Nacional de
Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os funcionários devem
observar uma série de recomendações sobre ergonomia, condições do ambiente
doméstico e equipamentos.
O espaço em que a pessoa está trabalhando deve ser
suficiente, permitindo a ela se afastar do movimento da casa, se isolar em
silêncio e ter tranquilidade para trabalhar sem constantes interrupções.
“Pessoas veem e não acham que estamos trabalhando e que podem interromper. Isso
é muito importante. Em relação ao ruído, deve-se buscar o maior silêncio
possível”, comenta o pesquisador.
Sobre a temperatura adequada, não é recomendado usar ar
condicionado porque a exaustão desses aparelhos é aquém do necessário para se
ter um ar saudável. O ideal, orienta Bonfatti, é trabalhar com janelas abertas
e, durante 10 minutos, abrir a porta para ter circulação cruzada, ou o que se
chama de corrente de ar. A temperatura recomendada é entre 24º e 26º.
O ambiente precisa também ter uma boa luz. “Mas como o
trabalho é com computador, geralmente a fonte tem a sua própria luz, então a
luminosidade não vai ser problema, em princípio. É bom ter luz que possa mover
como abajur para ler um documento, especialmente se tiver mais de 40 anos”, diz
o pesquisador.
Mobiliário
O ideal é ter cadeiras confortáveis, incluindo um
estofamento macio ou uma almofada, pois os trabalhadores ficam muito tempo
sentados. “Trabalhar com computador altera a percepção do tempo e tendemos a
ficar mais tempo”, observa.
A cadeira deve ter altura que quando a gente se senta com a
região lombar encostada no fundo, o joelho fique a 90º e os pés apoiados.
Embora seja difícil que uma pessoa fique apenas em uma posição, essa é tida
como a forma básica. A cadeira pode ter braço ou não, mas se tiver é bom para
descansar.
A mesa é importante para colocar o computador, devendo
evitar outras posições, como ficar deitado com o laptop na cama ou no sofá. A
tela deve ficar na altura dos olhos, para não forçar a coluna cervical. A
altura da mesa deve ser tal que não eleve os ombros na hora em que for usar o
teclado ou o mouse. Isso dá automaticamente a altura mais confortável. Além
disso, é importante a mesa ter uma amplitude suficiente pra acomodar os objetos
todos. É bom colocar perto de você os objetos que usa mais frequentemente.
Como as pessoas tendem a ficar sentadas muito tempo, isso
traz uma exigência muito grande para a postura. Uma dica do pesquisador é
tentar levantar, ficar durante um período curto fazendo algo. “Isso se chama
pausa compensatória, isso é recomendável para variar a postura. O ideal é que
possa, de vez em quando, levantar e dar essa caminhada”, explica.
Equipamentos
Já os equipamentos devem ser adotados de modo a deixar mais
confortável o período de uso. A tela fixa é a mais indicada. O teclado móvel
também é importante, para que o funcionário possa mudar de posição. O mouse é
recomendável, em vez dos painéis em laptops, para movimentar os cursores.
Tanto nos computadores quanto em smartphones, é preciso
cuidado com os olhos. “Trabalhamos com celular, então quanto maior a superfície
da tela melhor para trabalhar”, afirma Renato Bonfatti.
Como as pessoas ficam com o olho muito próximo ao
computador, ele sugere tirar os olhos da tela e jogar para mais distante
possível para variar os grupamentos musculares nas posturas. O objetivo é ter o
descanso e não sobrecarregar um grupamento muscular em detrimento de outro.
O engenheiro José Jackson Filho, pesquisador da Fundacentro,
acrescenta que os recursos para o teletrabalho envolvem também os programas e
aplicações. Aquelas pessoas que precisam realizar reuniões, por exemplo, devem
ter ofertadas por seus empregadores serviços de videoconferências adequados.
“É preciso pensar na aquisição e disponibilização de
equipamentos e programas: a quem cabe fazer? No momento atual, poderiam ser
disponibilizadas formas para subsidiar a aquisição de equipamentos, o que
serviria como mecanismo para estimular a atividade econômica e viabilizar a
aquisição (caso tenham interesse) pelos próprios trabalhadores”, defende.
Atividades
O pesquisador avalia que talvez o maior problema do home
office no momento seja o número de informações que as pessoas devem processar a
cada momento. Com ferramentas como facebook, whatsapp e e-mail, a quantidade
que chega a todo momento é grande e isso tende a colocar as pessoas em um
estado de dispersão e angústia.
“É importante saber selecionar quais informações você vai
ter acesso para não ficar dispersivo. Esse cuidado é necessário para dar conta
da exigência cognitiva, de raciocínio, que aumenta muito neste momento que
estamos vivendo na pandemia”, ressalta Bonfatti.
Ele destaca ser fundamental respeitar os horários. Com o uso
disso, o trabalho tende a invadir o momento fora do trabalho, os empregados
acabam tendo dificuldade de separar um do outro, podendo aumentar muito, na
prática, a jornada de trabalho. “O trabalhador pode se educar a não atender o celular
o tempo inteiro, não ficar no Whatsapp o tempo inteiro. Encerrar a sua jornada
de trabalho”, recomenda o pesquisador da Fiocruz.
Para José Jackson Filho, pesquisador da Fundacentro, se por
um lado as pessoas deixam de ter o tempo de deslocamento, por outro o
teletrabalho traz riscos no tocante à intensidade. Pessoas solteiras podem vir
a trabalhar mais, alongando jornadas e colocando a saúde em risco.
“As pessoas que têm filhos podem ter suas atividades de
trabalho prejudicadas, impedidas pelas interrupções frequentes, sentindo-se
impotentes e sofrendo por não cumprir suas metas”, acrescenta.
Por esses e outros possíveis prejuízos, ele defende que o
teletrabalho deve ser planejado de modo que “sejam controlados os possíveis
problemas que podem afetar a saúde, assim como assegurados os meios para que se
possa cumprir as exigências colocadas pelas empresas”.
Da mesma forma, complementa, os trabalhadores devem tomar os
cuidados necessários para não ir além da jornada, cumprir recomendações de
ergonomia e saúde do trabalho, evitando fadiga e doenças nesse cenário.
Direitos e obrigações
Para a realização do teletrabalho, as empresas devem
elaborar um aditivo contratual estabelecendo as tarefas e parâmetros relativos
ao custeio da estrutura de trabalho. Isso envolve, por exemplo, equipamentos e
conexão. Entre os benefícios, as empresas podem cortar o auxílio-transporte.
Segundo a advogada Alessandra Barreto Arraes, do escritório
Aparecido Inácio e Pereira, no que se refere à obrigação da ida ao trabalho,
embora o trabalhador deva prestar os serviços, as empresas devem garantir sua
saúde e segurança, conforme o Artigo 157 da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT).
“Embora seja obrigação do empregado a prestação dos
serviços, nos casos em que a empresa não adota medidas mínimas de prevenção é
válida a recusa do colaborador de trabalhar em área que ofereça risco iminente
à sua saúde, sendo possível, inclusive, em determinados casos, a justa rescisão
do contrato de trabalho por ‘perigo manifesto de mal considerável’, de acordo
com o Artigo 483 da CLT”, explica Alessandra.