segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O nó de 2012




Denise Rothenburg
Correio Braziliense      -      16/01/2012





Assim como Dilma não cumpriu o corte de R$ 50 bilhões no ano passado, os servidores apostam que não cumprirá também a promessa de reajuste zero este ano. Por isso, a greve está na ordem do dia das associações de várias categorias

Em conversas reservadas, os técnicos do Poder Executivo são praticamente unânimes em afirmar onde o bicho vai pegar este ano para a administração da presidente Dilma Rousseff, a ponto de incomodar o sono presidencial: a pressão por reajustes salariais. Além da campanha no primeiro escalão, apontada hoje na reportagem do Correio, há outras bem piores. O funcionalismo público prepara uma greve para tentar recompor a inflação acumulada de 2007 para cá — 24,5%, segundo as organizações dos servidores.

O funcionalismo está quieto desde 2007, quando um acordo com o governo previu reajustes até 2010. Mas, agora, diante da perspectiva de aumento zero em função da crise econômica externa e a necessidade de o governo conter seus próprios gastos, as associações e centrais de servidores vislumbram uma paralisação generalizada.

A presidente não se mostra interessada em ceder. Tanto é que nem colocou no Orçamento os recursos necessários ao reajuste do Poder Judiciário e criou uma celeuma que não tem data para terminar. Além disso, ainda existe o movimento dos policiais militares, conforme relatamos aqui no começo deste mês.

Para quem não acompanhou as notícias da primeira semana de janeiro, vale lembrar que houve a greve da PM do Ceará conforme noticiado em todos os jornais e comentado aqui. Naqueles dias, o governador Cid Gomes, diante de uma paralisação de policiais armados, acabou se rendendo e concedeu o reajuste. O governo já detectou movimentos semelhantes no Amazonas, no Pará, e em mais quatro estados. No início deste mês, comentei aqui que, se a greve da PM eclodir em todo o país e os governadores se renderem, vai ser um levante geral em favor da PEC 300, aquela que equipara os salários dos policiais de todo o país com o que recebem os do Distrito Federal.

Na semana passada, ouvi de uma autoridade do governo que a aprovação da PEC 300 seria o caos. No caso de Brasília, os salários são melhores porque o Distrito Federal conta com recursos da União para suprir despesas nas áreas de saúde, educação e segurança pública. 

Os estados da federação não têm esse suporte. Além disso, qualquer reajuste da ordem do que pede a PEC 300 geraria um efeito cascata. Depois de PMs e bombeiros contemplados, seria a vez de outras categorias pedirem o mesmo. No Ceará, tão logo terminou a greve dos policiais militares, veio a da Polícia Civil.

Em relação ao Poder Executivo nacional, a aprovação da PEC 300 provocaria um efeito cascata, conforme detectado pelo próprio governo. As Forças Armadas, por exemplo, imediatamente apresentariam um pedido por melhores salários. O argumento para tal está definido e é justo: um capitão ou sargento não poderia ganhar menos do que um oficial da PM que estivesse no mesmo nível hierárquico.

Por falar em hierarquia...
A presidente Dilma já avisou que quem manda no governo é ela. E, embora como demonstrou o Correio, algumas autoridades tenham salários elevados por conta de participação em conselhos, esse recurso é considerado a única maneira de atrair gente da iniciativa privada e de gabarito para trabalhar no segundo escalão. Para completar, dizem técnicos do governo, se a presidente Dilma fosse conceder todos os pedidos de aumento, teria que arrumar mais R$ 40 bilhões. E não há de onde tirar tanto dinheiro.

Para completar, o ano é eleitoral e, se Dilma se render aos reajuste, dirão que foi para beneficiar os petistas. Por isso, conforme anunciado na reportagem de hoje, nem o aumento do segundo escalão deve sair, para desespero dos ministros que esperavam algum espaço para trazer gente de sua total confiança para cargos-chaves na Esplanada dos Ministérios.

Embora os ministros tenham perdido as esperanças, os servidores que aguardam a correção da inflação ainda vislumbram uma réstia de luz no fim do túnel. Eles torcem para que, lá na frente, a presidente Dilma acabe negociando algum dim-dim. Afinal, se nem o corte orçamentário anunciado no ano passado ela cumpriu — em vez dos R$ 50 bilhões prometidos, cortou apenas R$ 21 bilhões — talvez não cumpra também a promessa de aumento zero. Por isso, a pressão virá e será forte. Podem esperar. Esse será o grande desafio da gestão pública este ano.



Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra