Lucas Marchesini
Valor Econômico - 21/08/2012
Brasília - Diante da manutenção da oferta do governo -
reajuste de 15,8% em três anos -, os grevistas preparam uma ofensiva nesta
semana com novas paralisações e um dia nacional de luta hoje, organizado pela
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), que
contará com protestos em diversos Estados. O grupo União, que representa 23
carreiras típicas de Estado, decidiu ontem orientar suas bases para que
rejeitem o reajuste oferecido pelo governo. O presidente da Associação dos
Servidores nas Carreiras de Planejamento e Orçamento (Assecor), Eduardo
Rodrigues, disse que aceitar a proposta seria incorporar as perdas
inflacionárias dos últimos anos.
A Polícia Rodoviária Federal e os funcionários do Itamaraty
já informaram que pretendem engrossar a paralisação. Ambas as categorias
aumentaram a pressão antes de encontros com a Secretaria de Relações de
Trabalho (SRT) agendados para amanhã.
O agentes da Polícia Rodoviária foram impedidos pelo
Superior Tribunal de Justiça de realizar operação-padrão. A Federação Nacional
dos Policiais Rodoviários Federais (Fenaprf) convocou os sindicatos estaduais
para iniciar a paralisação. A entidade não tinha, ontem, um balanço sobre a
adesão ao movimento, mas informou que a "greve pode se encerrar na
quinta-feira, dependendo do posicionamento do governo em relação à
categoria".
De acordo com comunicado divulgado pelo Sindicato Nacional
dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty), a
paralisação dos funcionários do Itamaraty é uma forma de protesto pelo fato de
o Ministério do Planejamento não ter chamado os funcionários à mesa de
negociações entre 13 e 17 de agosto, quando outras categorias se reuniram com a
pasta. Os trabalhadores já haviam parado as atividades de 18 de junho e 2 de
julho e retornado sob a promessa de que haveria diálogo com o governo. Por meio
de sua assessoria de comunicação, o Ministério do Planejamento informou que
marcou uma reunião com os servidores do Itamaraty para hoje à tarde.
Já os policiais federais em greve suspenderam ontem a
emissão de passaportes no aeroporto internacional do Galeão. O serviço está
funcionando somente para os casos de emergência, como viagens para tratamento
de doença grave comprovada por atestado médico ou de trabalho, mediante a
apresentação de documento. Em outros 12 Estados e nos postos de fronteira de
Foz do Iguaçu (PR) e Uruguaiana (RS) os agentes da PF realizaram ontem
protestos, alternativa adotada pela categoria às operações-padrão, proibidas
pelo Superior Tribunal de Justiça.
Também os servidores da Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) decidiram realizar paralisação, de 48 horas, a partir de hoje. A decisão
foi tomada em assembleia realizada na tarde de ontem com participação de 40%
dos funcionários da comissão.
Apesar de toda essa movimentação, o titular da Secretaria de
Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, disse que está otimista quanto ao
desenrolar dos encontros nesta semana e enfatiza que ela será a última com
negociações, já que a proposta de Orçamento de 2013 deve ser enviada para o
Congresso até o dia 31. Mendonça também disse, na sexta-feira, que caso uma
categoria recusasse a proposta de 15,8%, não haveria tempo hábil para que outra
seja elaborada. É justamente o prazo curto que incomoda os grevistas recebidos
pelo Planejamento.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público
Federal no Estado do Rio de Janeiro (Sintrasef), Denis Diniz, reconheceu que,
com o prazo curto, os grevistas "estão com a faca no pescoço" nas
negociações.
A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal
anunciou que entrará hoje com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o
corte integral do ponto. Segundo o presidente da entidade, Josemilton da Costa,
a medida já consta no contracheque preliminar dos servidores de sua base que
aderiram à paralisação. "Nós não queremos corte nenhum, mas nas greves
anteriores o corte era de sete dias por mês. Tem de ser pelo menos assim",
disse.
A greve dos servidores públicos federais atinge, segundo
estimativas dos sindicatos, 350 mil servidores do Executivo, 60% do total. O
governo considera os números inflados e acredita que cerca de 70 mil
funcionários públicos estão em greve. As paralisações começaram no dia 17 de
maio com os professores. A Condsef, que coordena o movimento dos servidores,
começou a greve em 18 de junho.