Autor(es): Luciano Pires |
Correio Braziliense - 25/03/2011 |
Desafiando a lógica e toda a indústria que gira em torno dos concursos públicos, a administração federal está precocemente velha. O modelo de Estado, tal qual conhecemos hoje, é relativamente recente, mas a despeito disso órgãos da União considerados estratégicos convivem com carências graves de mão de obra. Muitos enfrentam dificuldades para repor funcionários. Outros nem contratam. Parte já emprega mais aposentados e pensionistas do que servidores ativos.
Com a economia brasileira em expansão e a necessidade urgente de prestar melhores serviços à sociedade, o esgotamento da máquina equivale ao pior dos mundos. Ainda que as despesas totais com pessoal tenham crescido em valores nominais e — discretamente — na comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), os desembolsos oficiais nos últimos anos nem de longe fizeram frente aos descompassos do passado. Perde o contribuinte, que paga, mas não leva.
Apesar das quase 100 mil contratações realizadas na era Luiz Inácio Lula da Silva e da enxurrada de políticas reestruturantes que arrumaram as carreiras, elevaram salários e redefiniram os horizontes da burocracia, uma parcela considerável da Esplanada acabou refém do tempo. Nos ministérios da Agricultura, das Comunicações, da Defesa, da Fazenda, da Saúde, dos Transportes, do Trabalho e do Planejamento, por exemplo, os que batem ponto todos os dias são minoria frente aos que se aposentaram ou recebem pensões. Se fossem empresas privadas, o chefe do departamento de recursos humanos seria chamado a dar explicações ao presidente ou ao dono da companhia.
Em um ano de restrições orçamentárias, baixa expectativa de concursos e adiamentos de nomeações, o cenário imediato preocupa. Não que a torneira deva ser reaberta e o contingenciamento bilionário anunciado no início do ano, flexibilizado. Talvez seja a hora de os gestores — eleitos ou não — aproveitarem o momento para pensar uma estratégia de longo prazo, algo inspirado em resultados, mas que também seja capaz de motivar as pessoas. O problema, de novo, é o tempo. E ele é implacável. Se não quiser ver suas engrenagens pararem, o Estado precisa se apressar e tirar das gavetas as boas ideias.