Autor(es): Carolina Brígido
O Globo - 02/09/2011
Governo corrige Orçamento para atender STF
Nova mensagem será enviada hoje ao Congresso para contemplar
pedido de R$8 bi para aumentos salariais
BRASÍLIA. Diante do mal-estar causado entre ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) com os cortes de aumentos, o governo decidiu
mandar hoje ao Congresso uma correção à proposta de orçamento do Judiciário
para garantir o aumento de ministros e servidores. Inicialmente, o governo
havia enviado o texto sem a previsão de gastos com reajustes para 2012.
A decisão de encaminhar mensagem dizendo que o Judiciário
solicita aporte de R$8 bilhões para despesas com servidores foi anunciada
pessoalmente ao presidente do STF, Cezar Peluso, pela ministra do Planejamento,
Miriam Belchior, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o
advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.
Peluso recebeu os ministros para uma reunião de emergência
ontem à noite em seu gabinete. A nova decisão foi articulada por Cardozo e
Adams, diante das reclamações de Peluso. A expectativa é de que a presidente
Dilma Rousseff volte de viagem hoje e assine a retificação a ser enviada aos
parlamentares.
Peluso foi surpreendido com os cortes do Executivo na
quarta-feira. Ontem à tarde, ele disse que o governo se equivocou ao mandar
para o Congresso proposta de orçamento do Judiciário com cortes. Segundo ele, a
presidente deveria ter encaminhado integralmente a contabilidade recebida de
suas mãos há um mês.
Ao encaminhar a proposta ao Executivo, Peluso anexou ofício
lembrando que, pela lei, não cabe ao Planalto efetuar cortes nos gastos
previstos pelo STF.
- Parece que houve um pequeno equívoco, que o Executivo vai
retificar, sem dúvida. Nem precisava receber comunicação (do STF), é uma coisa
óbvia - disse Peluso, antes de saber do recuo do governo.
A atitude de Dilma foi alvo de longa discussão entre os
ministros a portas fechadas, no intervalo da sessão plenária de quarta-feira.
Ontem à tarde, o ministro Marco Aurélio Mello também manifestou indignação.
- Essa doutrina foi fixada no início da vigência da
Constituição de 1988. O que cumpre ao Executivo é consolidar a proposta da
União e encaminhá-la aos deputados e senadores. O que não cabe é o Executivo
substituir o Judiciário - protestou.
Para o ministro, não houve equívoco:
- De bem intencionados, o Brasil está cheio - ironizou.
O ministro argumentou que não se pode desobedecer à Constituição
sob o pretexto de enxugar os gastos públicos.
- A quadra que vivenciamos é um tanto quanto estranha.
Potencializando-se o objetivo, que é evitar a inflação e caminhar para o
enxugamento da máquina administrativa, se acaba atropelando a Constituição -
afirmou.
Os ministros aprovaram a proposta de orçamento do STF para
2012 em reunião administrativa realizada em 3 de agosto. Além de recursos para
um eventual aumento no salário dos ministros e dos servidores, o orçamento do
STF inclui obras e projetos, como a construção de um prédio de três mil metros
para abrigar a TV Justiça. Ao todo, foram previstos gastos da ordem de R$614
milhões.