Gustavo Patu
FOLHA DE S. PAULO
- 10/10/2011
Setor é um dos pilares da coalizão petista e prefere
reclamar sem sair de dentro do condomínio situacionista
Para a maior parte dos sindicalistas, a alternativa é a
volta à oposição sem trégua e sem verbas e gabinetes
BRASÍLIA - Visto de perto, o governo Dilma parece menos
sindicalista que o de Lula -a começar, é óbvio, pela Presidência, mas não só.
Líderes formados nas disputas salariais estão menos
presentes nos escalões superiores da máquina administrativa; as corporações têm
menor intimidade com o Palácio do Planalto; a retórica oficial não é mais
palanqueira e mobilizadora.
As tensões também se elevaram com a perspectiva do fim da
era das vacas gordas do crescimento da economia e da arrecadação de impostos,
que ressuscitaram a defesa da austeridade fiscal.
Uma observação mais distanciada, porém, não mostra
contrastes tão nítidos.
Com crise e tudo, as centrais mantiveram seus acordos para
os reajustes do salário mínimo e da tabela do Imposto de Renda.
Como bônus extra, têm mais motivos do que antes para gostar
da política do Banco Central.
O sindicalismo é um dos pilares da governabilidade petista,
como o aumento dos gastos sociais ou a distribuição de cargos aos partidos
aliados. Entre um resmungo e outro, os sindicatos são mais governo que o também
queixoso PMDB.
O segundo, afinal, nunca teve pruridos ideológicos ou
estratégicos para se associar às mais diferentes forças; para a maior parte dos
primeiros, a alternativa é a volta à oposição sem trégua -e sem verbas e
gabinetes.
PÃO E ÁGUA
Justamente pela fidelidade imposta pelo parentesco com o
partido e o governo, o atendimento de suas demandas mais particulares pode se
tornar menos urgente em momentos de escassez.
Que o diga Lula: nos dois primeiros anos de governo, tratou
a pão e água as reivindicações do funcionalismo e também levou adiante uma
reforma das aposentadorias do setor público para agradar ao mercado financeiro.
Depois, quando a política exigiu, e a economia permitiu, os
sindicatos deram apoio decisivo ao Planalto durante o escândalo do mensalão e
os servidores federais ganharam reajustes generalizados.
Dilma, muito possivelmente, terá de ser mais parcimoniosa
que o antecessor na distribuição das benesses -o que estimula o rigor no trato
dos pleitos, especialmente de categorias menos amistosas, como técnicos
administrativos das universidades.
Os sindicalistas disputam seu lugar na fila, mas do lado de
dentro do condomínio situacionista.
Reclamando, como manda a descrição do cargo, mas ao abrigo
das intempéries da independência.