quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pé no freio para novo ministério



Autor(es): JÚNIA GAMA
Correio Braziliense     -     05/10/2011





Planalto retira urgência de projeto que cria pasta focada em micro e pequenas empresas. Só com os salários, o novo órgão gastará mais de meio milhão de reais por ano

O governo aceitou a solicitação dos líderes parlamentares para retirar o pedido de urgência do projeto de lei que cria o Ministério da Micro e Pequena Empresa. Na prática, a votação do texto foi adiada. A formulação da nova pasta, que foi uma promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff, deve ser votada em 26 de outubro, mas não há acordo entre os partidos sobre a necessidade de se compor mais um órgão. O número 40 da Esplanada — contabilizado o status de ministério do Banco Central — vai trazer gastos para a manutenção da estrutura, que vêm sendo questionados pela oposição.

Somente com os 68 cargos comissionados previstos no projeto, serão desembolsados mais de R$ 4,8 milhões anuais, além dos salários do ministro e do secretário executivo da pasta, que, juntos, somam mais de R$ 500 mil ao ano. O momento de contenção de gastos — no início do ano, o governo anunciou corte de R$ 50 bilhões no orçamento — é visto como inadequado para a criação de um órgão. "A máquina do governo está muito inchada, não se justifica a criação de mais um ministério. Nesse momento de crise internacional, apesar da absoluta consciência da presidente de ter que cortar gastos, ela cria ministério porque já se havia comprometido", critica Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), líder da minoria na Câmara.

Segundo o projeto, a secretaria com status de ministério vai assessorar a Presidência da República na formulação, coordenação e articulação de políticas para microempresas, empresas de pequeno porte, de artesanato, cooperativismo e associativismo urbanos, e de fortalecimento, expansão e formalização do setor, além de outros programas voltados à área. Os salários dos cargos que serão criados variam de R$ 2.115 a R$ 11.179.

Sem holofotes
Logo após as eleições de 2010, o ministério a ser criado foi oferecido ao senador Antônio Carlos Valadares (PSB-PE), que recusou o convite por considerar o órgão inexpressivo. A oferta a Valadares tinha dois objetivos: contemplar o PSB na aliança governista e abrir caminho para que José Eduardo Dutra, um dos coordenadores da campanha de Dilma, e primeiro suplente do senador, assumisse a vaga no Senado. Com a recusa de Valadares e a saída de cena de Dutra das articulações políticas, devido a problemas de saúde, o projeto de criação do ministério saiu dos holofotes nos últimos meses. O nome do atual secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Alessandro Teixeira, também foi cogitado para o cargo.

Parlamentares da oposição ressaltam que o novo ministério deverá servir para a acomodação de aliados políticos. "Isso é o uso do estado brasileiro para o atendimento patrimonialista do PT e dos seus aliados. É mais uma ação para atender a base. É um cabide de empregos, que gera mais pressão por mais recursos e, depois, o governo vai querer criar mais impostos, como está fazendo com a Saúde", afirma o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP).

Para o tucano, a estrutura do novo órgão poderia funcionar de forma eficaz como um setor do MDIC. Paulo Teixeira (PT-SP), líder do partido na Câmara, rebate: "Achar que investir no pequeno é gasto é uma visão curta".

Apesar da recorrência de disputas entre os partidos para assumir mais cargos na Esplanada, as legendas têm evitado declarar intenção de ocupar a pasta. Existe um clima de temor no Congresso, após a queda do quinto ministro em menos de 10 meses de governo Dilma e o sentimento de que a pasta não será dotada de um orçamento significativo. Parlamentares de pequenos e grandes partidos são cautelosos na hora de reivindicar a vaga. "O PR não tem interesse. Acredito que todo mundo está com trauma de ministério", brinca o líder do PR, Lincoln Portela (MG).

O texto para a criação da pasta foi enviado ao Congresso em março. Em agosto, quando a presidente Dilma pediu a urgência do projeto, a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza, foi convidada para o posto. Ela acenou positivamente, mas pediu um tempo para organizar as suas funções na empresa. Mas petistas afirmam não estar seguros sobre a ida de Luiza para a pasta. "Ela é uma grande empresária. O ministério é das micro e pequenas empresas. É preciso um nome forte que seja talhado para essa função", aponta Paulo Teixeira. Apesar do adiamento, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirma que Dilma não recuou na criação do ministério. "Não é que o governo não queira mais o ministério, apenas fizemos um acordo para liberar a pauta e votar outras propostas neste momento", justifica.

A retirada da urgência constitucional destranca a pauta na Câmara e permite a apreciação de projetos como o que cria incentivos para as políticas públicas de juventude e da emenda constitucional sobre direitos autorais da música e incentivos para CDs e DVDs, além do projeto que muda as regras de funcionamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).



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