domingo, 13 de maio de 2012

Mães e profissionais de sucesso



Mariana Mainenti
Correio Braziliense     -     13/05/2012






Estabilidade no emprego e apoio para cuidar dos filhos tornam o serviço público opção atraente para mulheres


"Já há grandes empresas preocupadas em oferecer uma qualidade de vida às mães que trabalham. Mas, para a maternidade, o serviço público ainda é melhor"
Carin Ariela Maynhone Rodrigues, mãe de Clara e candidata a analista do TJDF

Mãe da pequena Clara, de 10 meses, Carin Ariela Maynhone Rodrigues, 30 anos, divide as 24 horas do dia entre os cuidados com a filha, as tarefas da casa e os estudos para a prova doTribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDF). Seis meses após o nascimento, ela decidiu tirar os livros da estante e dedicar quatro horas diárias ao objetivo de tornar-se funcionária pública. Nesse período, deixa Clara na creche, escolhida após uma peregrinação dela e do marido, o servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ) João Paulo França Alcântara. “Conseguimos encontrar um lugar que nos desse segurança.”


Formada em direito, Carin Ariela conta que acabou de receber uma boa proposta de emprego, mas disse não: “Clara teria que ficar o dia inteiro na creche ou, então, com uma babá e não tenho coragem de deixar minha filha o dia todo com uma pessoa que não seja o pai ou a mãe dela”. Ela pensa em ter um segundo filho e acredita que, no serviço público, será mais fácil conciliar as tarefas de mãe com a vida profissional.

“A licença-maternidade é de seis meses e muitos órgãos do governo possuem creche, o que é muito importante, pois dá uma tranquilidade saber que o bebê está por perto na hora em que você volta a trabalhar”, explica. O TJDF, onde ela vai concorrer ao cargo de analista processual, com jornada de sete horas diárias, possui uma creche em que as mães têm prioridade nas vagas, por conta do aleitamento, mas também há uma cota para os pais servidores. “Já há grandes empresas preocupadas em oferecer uma qualidade de vida às mães que trabalham. Mas, para a maternidade, o serviço público ainda é melhor”, afirma.

Também formada em direito, Kelen Cristina de Oliveira, 30 anos, começou a estudar para concurso ainda na gravidez de Lucca, que está agora com três meses e meio. “Trabalhava num escritório, mas deixei o emprego há um ano e comecei a estudar para a prova do Ministério Público. Meu sonho é ser promotora e aproveitei a gravidez para me dedicar aos estudos, porque sabia que, depois que ele nascesse, seria mais difícil”, relata. Durante a gestação, Kelen cursou a escola do Ministério Público de segunda a sábado pela manhã; à tarde, ia para uma biblioteca; e, à noite ainda fez um outro curso, por dois meses. Agora, ela aproveita o intervalo entre as mamadas, que ocorrem de duas em duas horas, para estudar. “Nesses momentos, ele fica com a babá. Mas eu estou o tempo todo ao lado”, conta.

Formada em odontologia, Byanne Rigonato, 36 anos, alcançou o sonho de muitas mamães. Ela deixou a profissão em 2006 para adotar uma nova carreira: a de administradora, no Ministério do Planejamento. O ingresso no serviço público foi consequência de um planejamento familiar. Dois anos antes, Byanne havia se casado com o analista de sistemas William Flávio Alves Ribeiro, 38 anos, e logo veio a ideia de ter filhos. “Pensei muito na maternidade quando escolhi prestar concurso público. Eu era da iniciativa privada e achei que, numa empresa, não teria muito tempo para ficar com as crianças. Além disso, ter estabilidade no emprego nos dá tranquilidade”, conta Byanne, que hoje é mãe de Mirella, de três anos e meio, e de Rebeca, de 10 meses.

Valorização

Ainda assim, a volta ao trabalho de Byanne após a última gravidez, de Rebeca, foi um momento difícil: “Fiquei sete meses com ela, porque juntei a licença-maternidade de seis meses e as férias. Aí depois vem uma separação brusca. Foi chocante voltar ao trabalho. Mas, agora, já estou me acostumando”, desabafa Byanne, que, no dia a dia, conta com o apoio de uma babá e da mãe, que acompanha a rotina das netas.

A administradora pública diz que é possível conciliar o trabalho no ministério com a maternidade. “Há reuniões que vão até as 10 horas da noite. Eu preciso sair no fim do expediente normal, às 6 da tarde, para cuidar das minhas filhas. Mas aí compenso participando de outras reuniões pela manhã”, explica. Byanne considera que há equidade entre homens e mulheres em seu ambiente de trabalho: “Com uma presidente da República mulher, várias de nós estão em cargos de direção”. Patrícia Laundry Mollo, 40 anos, concorda: “Para as mães, esse é um momento muito feliz de se trabalhar no serviço público. Está havendo uma valorização da mulher”.

No caso de Patrícia, o emprego público veio com a filha, Helena Laundry, 20 anos, já adolescente. Mas as horas dedicadas ao estudo e “roubadas” do convívio familiar valeram a pena. “Sou formada em psicologia e cheguei a cursar direito para ter uma base melhor para os concursos públicos. Queria ter um salário melhor e estabilidade. Agora que consegui, minha filha pode ter tranquilidade para se dedicar ao curso universitário”, aponta.

Antes de alcançar o seu objetivo, Patrícia trabalhou como psicóloga, pesquisadora, em escola e como bancária. A meta foi alcançada em 2006, quando, após ficar seis meses sem trabalhar para se dedicar aos estudos, foi aprovada para o cargo de gestor público, do Ministério do Planejamento. “É uma carreira dinâmica, que oferece mobilidade. Posso trabalhar em várias áreas do governo e ainda tenho estabilidade no emprego”, comemora.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor público é o que mais emprega mulheres no país: 22,6% da população feminina ocupada trabalha nos governos municipais, estaduais ou no Executivo federal. É mais do que o dobro do número de homens nesse campo: 10,5%.“Além do predomínio das mulheres entre professores, está havendo uma expansão da participação feminina em órgãos do governo”, analisa a economista da Gerência da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE Adriana Beringuy.

Para a subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para Mulheres, Vera Soares, o aumento da presença feminina no serviço público deve-se à forma de ingresso, por concurso. “A seleção elimina mais as barreiras de gênero e raça do que nas empresas privadas”, acredita. “Além disso, o nível de escolaridade das mulheres é mais alto do que o dos homens”, aponta.




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