Celso Ming
O Estado de S. Paulo -
14/08/2012
Quem assiste ao desdobramento da greve nacional dos
funcionários públicos desta república sindicalista e à reação do governo pode
ter a impressão equivocada de que a presidente Dilma está na oposição. No
entanto, ela não está fazendo outra coisa senão colher o que o governo Lula e o
dela semearam nos últimos nove anos.
Os levantamentos não são inteiramente confiáveis, mas dão
conta de que estão em greve, total ou parcial, alguma coisa entre 300 mil e 350
mil servidores públicos, boa parte deles há mais de 50 dias, num total de 26
categorias. Algumas preferiram desencadear as chamadas operações-padrão, como é
o caso dos servidores da Polícia Federal e dos auditores da Receita. Os enormes
congestionamentos nas rodovias federais, as filas imensas nas áreas de embarque
internacional nos aeroportos, o volume sem precedentes de carga amontoada nos
postos alfandegários à espera de liberação e a perda do ano letivo em
universidades federais são uma pálida amostra do estado caótico a que ficou
reduzida boa parte dos serviços públicos.
A reivindicação básica dos funcionários são reajustes
salariais da ordem de 22%, num ano em que o Banco Central garante que conduzirá
a inflação ao centro da meta de 4,5%. Mas os docentes das universidades
federais já rejeitaram proposta apresentada pelo governo federal de correlação
escalonada por três anos, de 25% a 40%.
Os servidores públicos tiveram tratamento mais do que
privilegiado durante a gestão Lula. O quadro do funcionalismo público federal
saltou de 485 mil para 573 mil postos de ocupação. De acordo com levantamento
realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, a despesa mensal média com o salário de
cada um dos funcionários públicos federais saltou de R$ 2.840, em 2003, para R$
7.690, neste ano - um avanço superior a 170%, enquanto a inflação acumulada no
período não passou dos 70%.
A aceleração das despesas com a folha de pagamentos no
governo Lula aconteceu, em grande parcela, quando a ministra chefe da Casa
Civil era a presidente Dilma Rousseff. E ela foi também fortemente beneficiada
por essa política, na medida em que garantiu grande número de votos nas
eleições de 2010.
Dilma vem reagindo tardia e flacidamente ao movimento
grevista que desafia impunemente seu governo. Primeiramente, pediu ajuda a seu
antigo chefe político, o ex-presidente Lula, para que contivesse as centrais
sindicais. Essa iniciativa mostra que ela própria não sabia como tratar o
assunto. Em seguida, no final de julho, assinou decreto que permite a
substituição de servidores federais por funcionários estaduais e municipais. No
mais, ameaçou os grevistas com o corte de ponto, com o que já reconhece a existência
de uma situação absurda em que o servidor não faz greve, mas somente tira
férias - como na década de 1970 chegou a observar o então líder dos
metalúrgicos do ABC, Luiz Inácio Lula da Silva. Seu ministro do Trabalho,
Brizola Neto, limita-se a avisar que não tem de se meter nessa greve e que a
bola está com a ministra do Planejamento.
Por aí se vê que servidores públicos e governo disputam um
cabo de guerra. Como sempre, a corda vai rebentar no ponto mais fraco. E este
parece ser o do vacilante governo Dilma.