Tânia Monteiro e Vera
Rosa
O Estado de S. Paulo - 14/08/2012
Presidente autoriza maratona de reuniões setoriais a partir
de hoje com sindicatos; centrais prometem realizar novas manifestações
Decidida a tocar sua estratégia de negociar de forma
pulverizada com os sindicatos de servidores e deixar de lado as centrais, a
presidente Dilma Rousseff autorizou o início de uma maratona de reuniões, a
partir de hoje, para dar as respostas do governo aos pleitos de reajustes
salariais.
O cofre permanecerá praticamente fechado para as carreiras
com maiores salários, como já indicaram na semana passada a própria presidente
e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Ontem, Dilma comandou uma reunião com Miriam e os ministros
da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann,
além do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Na reunião foi batido o
martelo sobre quanto o governo disporá para conceder reajustes no ano que vem.
Ao longo da tarde, seguiram-se reuniões para detalhar quais categorias serão
atendidas.
Grupos. A ordem é só dar aumento aos grupos que estão nas
faixas salariais mais baixas e estão há muitos anos sem reajuste. Quem teve
recomposição salarial grande e ganha bem deve ficar de fora, segundo informaram
técnicos.
Se esse for o corte, grupos como policiais federais e
fiscais da Receita, por exemplo, não serão atendidos agora. Já os professores
de universidades federais estão, do ponto de vista do governo, contemplados com
a proposta já apresentada, que soma R$ 3,9 bilhões. "Nós sabemos que há
categorias com perda maior, outras com menor; umas que negociam todo ano e
outras que não negociam, mas queremos que o governo apresente os números",
afirmou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.
O sindicalista disse esperar, ainda, que as centrais sejam informadas antes
sobre o pacote de medidas na área de infraestrutura, a ser lançado amanhã.
No domingo, cinco centrais sindicais, entre elas a CUT,
Força Sindical e UGT, divulgaram uma nota conjunta manifestando apoio formal à
greve dos servidores federais e rechaçando o modo como o governo tem conduzido
as negociações. O texto do documento assinado pelos presidentes das centrais
sindicais repudia "todas formas de autoritarismo no trato com
reivindicações legítimas dos trabalhadores".
Para tirar a pressão de cima de Dilma e Miriam, o
posicionamento do governo será dado pelo secretário de Relações do Trabalho,
Sérgio Mendonça, na mesa de negociações com os sindicalistas. Ele tem marcadas
para hoje reuniões com representantes do Incra, Ministério do Desenvolvimento
Agrário, técnicos das universidades federais e Fiocruz.
Para quarta-feira, já estão marcadas reuniões com
representantes da Polícia Federal e do IBGE.
Mobilizações. Antevendo um desfecho negativo para suas
reivindicações, os sindicalistas preparam mobilizações na Esplanada dos
Ministérios esta semana. "Vamos reunir um grande contingente amanhã
(hoje), quarta, quinta e sexta", prometeu o diretor da executiva da
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio
Ronaldo da Silva. O ponto alto deverá ser uma marcha programada para amanhã.
Para a manhã de sexta-feira está marcada uma reunião
plenária na Esplanada para avaliar os retornos dados pelo governo. "Se for
necessário intensificar a greve, nós faremos", disse Silva. "Mas não
é nossa intenção, porque a greve é um sacrifício, cansa, a categoria quer uma
solução para o conflito."
Como mostra de sua disposição de não radicalizar, os
sindicalistas já indicaram que estão dispostos a aceitar reajustes diluídos ao
longo do tempo, informou o diretor da Condsef. De acordo com ele, do dia 6 de
março até agora foram realizadas 170 reuniões com o governo, sem resultado.
"Queremos continuar conversando, mas em bases
realistas", comentou. Ele criticou a estimativa divulgada pelo governo na
semana passada, pela qual a soma dos pedidos de aumento apresentados pelos
servidores chega a R$ 92 bilhões. "É um terço disso", assegurou.
O tempo para pressionar o governo está acabando. A
legislação prevê que os reajustes a serem pagos em 2013, têm de ser propostos,
na forma de projeto de lei, até o próximo dia 31.