O Globo - 14/08/2012
É possível que o governo tenha avaliado mal a extensão do
movimento grevista entre servidores públicos e, por isso, demorado a agir. Mas
não há dúvida que a presidente Dilma tem assumido a melhor postura diante de um
movimento em que se misturam o mais autista do corporativismo da burocracia
pública, oportunismo sindical e o interesse de frações mais à esquerda, de
dentro e fora do PT, em criar dificuldades para o governo.
Irretocável a reação de Dilma, no interior de Minas, na
sexta, diante de um protesto de funcionários grevistas: "O que meu governo
vai fazer é assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais
frágil, que não tem direito à estabilidade." Ao contrário dos servidores.
Presidentes sempre assumem com o discurso de praxe de que
irão "governar para todos os brasileiros". Este é um momento para
cumprir esta acertada e clássica promessa. Ora, como é mais do que sabido, os
servidores públicos em geral e, em particular, os do Executivo federal, foram
uma categoria privilegiada nos oito anos de gestão Lula com generosos
reajustes.
Lula não apenas contratou muitos funcionários, como os
brindou com aumentos bem acima da realidade dos assalariados da iniciativa
privada. De 2003 até hoje, os servidores do Executivo tiveram um aumento real
de 46,2%, algo somente possível porque a conta é paga pelos contribuintes -
sufocados, por essas e outras, sob pesada carga tributária.
Pode ser que haja distorções salariais no setor público, com
segmentos necessitados de alguma correção. Mas não entre várias categorias que
cruzam os braços, em que os salários em início de carreira estão na faixa dos
R$ 10 mil. Nada justifica aumentos generalizados e lineares, como desejam
servidores já muito bem remunerados.
Além de causar problemas para a população devido ao risco de
falta de bens essenciais, criar dificuldades de toda ordem nas repartições, e
até mesmo poder gerar desemprego, em função da ruptura de cadeias de suprimento
na indústria, o movimento de cerca de 30 categorias do funcionalismo ameaça o
próprio plano do governo de, afinal, privilegiar a retomada dos investimentos
como forma de fazer o país recuperar o crescimento econômico de maneira
consistente. Daí a referência da presidente ao que considera ser prioritário.
Com razão, pois a perda de ritmo na produção já levou a indústria, no primeiro
semestre, a reduzir em 1,2% o número de empregados. Que não são estáveis como
os privilegiados servidores, bem lembrou Dilma.
Ela faz a opção correta ao destinar recursos públicos para
compensar novas reduções de impostos, a fim de reanimar o setor privado e os
investimentos. E ainda passar para ele, via concessões, projetos de melhoria da
precária infraestrutura, outro fator de aumento de custos na produção nacional.
Não é hora mesmo de gastar dinheiro com funcionários já bem remunerados - e
estáveis.