Raymundo Costa e Lucas Marchesini
Valor Econômico - 16/08/2012
Brasília - O governo federal decidiu fazer uma proposta
salarial concreta aos servidores públicos, em greve há mais de dois meses. O
acordo apresentado prevê reajuste entre 4,5% e 5,5%, a partir do próximo ano, e
o estabelecimento de uma política de aumentos salariais até 2015. Algo nos
moldes feitos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao
salário mínimo e que dê "previsibilidade" ao processo, conforme
informou ao Valor fonte autorizada do Palácio do Planalto.
Incomoda muito à presidente Dilma Rousseff a ideia segundo a
qual seu governo não queria negociar com os sindicalistas. "O governo quer
uma solução para a greve e que os servidores voltem ao trabalho", disse um
auxiliar da presidente. Dilma só não teria apresentado antes uma proposta
porque ainda não tinha uma resposta concreta para dar aos trabalhadores. Isso
aconteceu ontem quando o Ministério do Planejamento apresentou o projeto do
governo às centrais.
Apesar do clima tenso, ruas interditadas e até de um
acidente com ônibus que traziam policiais federais para protestar em Brasília -
e que deixou 22 feridos -, o encontro das centrais com representantes do
governo, ontem, não deixa de representar uma distensão nas relações políticas
entre o Palácio do Planalto com os sindicalistas.
O dia amanheceu tumultuado em Brasília. Logo cedo, dois
ônibus que traziam de Goiânia agentes da Polícia Federal para a manifestação na
Esplanada dos Ministérios se envolveram em um acidente com um Gol e outro
ônibus. Pelo menos 4.500 servidores (12 mil, segundo os organizadores) fecharam
três faixas da via provocando um congestionamento que se refletiu por toda a
região sul da cidade. No fim da manhã, dirigentes das centrais se reuniam com o
ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e o secretário do Tesouro, Arno
Augustin. O governo também fez uma nova proposta para os
técnicos-administrativos de universidades federais, mas manteve a oferta de
reajuste salarial em 15,8% divididos em três anos.
Só a proposta em relação aos técnicos levaria a um impacto
suplementar de R$ 170 milhões no Orçamento. Ao longo dos três próximos anos, a
estimativa é de R$ 2,9 bilhões. O impacto total, se vingar o acordo com todos
os servidores, somente poderá ser estimado depois que for definido o índice de
reajuste de cada categoria. Com relação aos professores, o Palácio do Planalto
não está disposto a dar um tostão a mais do que já propôs.
Auxiliares da presidente afirmaram que o governo só não
apresentou antes uma proposta aos servidores porque não havia fechado os
cálculos para o Orçamento de 2013. Na conversa com os sindicalistas, Carvalho
adiantou: "A proposta não é a dos sonhos, é a possível."
Muito embora Lula insista que não interveio no assunto, quando
conversou com sindicalistas da CUT criticou a falta de "jogo de
cintura" dos técnicos do Ministério do Planejamento no trato com os
grevistas. Antes dos sindicalistas, o presidente teve uma longa conversa com a
presidente Dilma Rousseff.
Além da proposta salarial concreta para o conjunto de
servidores, que estava sendo discutida ontem à noite pelas centrais, o acordo
do governo também prevê tratamento diferenciado para algumas categorias -
militares, por exemplo -, não no que se refere diretamente aos salários, mas a
benefícios.
No fim do dia, os agentes da Polícia Federal eram os
servidores que ainda demonstravam um alto grau de radicalização. Eles
reivindicam reajuste de até 160% em três anos. O diretor da Federação Nacional
dos Policiais Federais (Fenapef), Pérsio Fagundes, disse que não foi discutida
nenhuma tabela de correção salarial na reunião com o secretário de Relações de
Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.
O presidente da federação sindical dos policiais federais,
Marcos Winck, prometeu uma "quinta-feira negra" em reação à não
apresentação de uma proposta, com operações-padrões em portos, aeroportos e
fronteiras.
Enquanto isso, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
afirmou que está otimista com a possibilidade de fechar um acordo ainda hoje
com os técnicos administrativos das universidades federais. Depois disso, é
preciso chegar a um consenso no que diz respeito ao cronograma de reposição de
aulas, o que deve acontecer nos meses de janeiro, dezembro e fevereiro.
(Colaboraram Edna Simões e Murilo Rodrigues Alves)