Cristiane Bonfanti, Junia Gama e Isabel Braga
O Globo - 23/08/2012
Militares se unem aos
servidores públicos federais e aumentam pressão sobre governo por reajuste
substancial
BRASÍLIA - O
coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do
Ministério Público da União no Distrito Federal (Sindjus-DF), Cledo Vieira,
disse ontem que o governo federal ofereceu uma proposta de reajuste salarial de
15,8%, parcelado em três anos, aos servidores do Judiciário e do Ministério
Público da União (MPU) em todo o Brasil. Até ontem, a oferta do governo estava
restrita aos servidores do Poder Executivo.
A cúpula do Judiciário não confirma o reajuste, mas
assessores do Palácio do Planalto em conversas reservadas têm deixado claro que
os 15,8% representam o teto nas negociações com os servidores do Judiciário e
do Ministério Público da União. O governo trabalha com uma previsão inicial de
R$ 14 bilhões no Orçamento de 2013 para contemplar os reajustes salariais aos
servidores federais.
De acordo com Vieira, a informação foi dada pelo presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres Britto, que aceitou
conversar com os servidores depois que eles realizaram uma manifestação, na
última terça-feira, com a participação de cerca de 1,5 mil pessoas, na
Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
proposta deverá ser rejeitada
O coordenador-geral do Sindjus-DF disse ainda que a proposta
será discutida com os sindicatos nos estados, mas que os grevistas já indicaram
que vão rejeitar o índice. Desde 2009, os trabalhadores travam uma batalha por
um reajuste de 56% nos contracheques. No ano passado, eles chegaram a realizar
greves em todo o país. A presidente Dilma Rousseff, no entanto, se recusou a
incluir a previsão de recursos para o Judiciário, ao custo de quase R$ 8
bilhões, na peça orçamentária enviada ao Congresso Nacional, sob a alegação de
que era necessário fazer um ajuste fiscal.
Vieira observou que o último aumento ocorreu em 2006 e a
proposta de 15,8%, além de desconsiderar as perdas ocorridas desde a última
correção salarial, não vai cobrir sequer a inflação dos próximos anos.
- Estamos levando para a categoria discutir o percentual.
Mas ele é o mesmo oferecido para as carreiras do Executivo, sendo que elas
tiveram aumento em 2009 e nós, em 2006. A nossa greve já chegou a dez estados e
vamos intensificar a mobilização - garantiu o representante sindical.
servidor do itamaraty retoma greve
O coordenador-geral acrescentou que os servidores federais
planejam realizar outra marcha hoje, a partir das 15h, na Esplanada dos
Ministérios para pressionar o governo.
Os servidores do Ministério das Relações Exteriores (MRE)
também retomaram ontem a sua paralisação, que havia sido suspensa em 2 de
julho. Helder Pereira, integrante do Sindicato Nacional dos Servidores do
Ministério das Relações Exteriores (Sinditmaraty), afirmou que os oficiais e
assistentes de chancelaria decidiram parar por tempo indeterminado para pressionar
o governo a negociar mudanças na carreira.
Ontem, o secretário de Relações do Trabalho do Planejamento,
Sérgio Mendonça, colocou na mesa a mesma proposta de reajuste de 15,8%
parcelados em três anos oferecida às demais carreiras do Executivo. Enquanto os
representantes da categoria se reuniam, cerca de 60 servidores fizeram uma
manifestação do lado de fora do Ministério do Planejamento.
Pereira observou, no entanto, que, antes de concordar com um
índice de reajuste salarial, a categoria quer discutir a mudança na carreira.
Nas contas de Pereira, o primeiro dia de greve dos servidores atingiu 34
embaixadas e consulados em todo o mundo, de mais de 200 em operação.
No Brasil, foram afetados serviços de atendimento ao
público, como validação de documentos, em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Além de mudanças na carreira, os servidores querem um aumento de pelo menos
30%.
Os militares se uniram aos demais servidores e aumentaram a
pressão por melhorias nos contracheques. De acordo com deputados da Comissão
Mista de Orçamento, os militares estariam contando com a promessa feita pela
presidente Dilma Rousseff de um reajuste substancial.
Pelos cálculos do Ministério da Defesa, repassados aos
parlamentares, seria necessário um aumento de 46,7% para equiparação com os
civis. Interlocutores do governo informaram que o reajuste dos militares será
anunciado na próxima semana.