O Estado de S. Paulo
- 04/08/2013
Em 12 meses, até junho, os servidores federais, estaduais e
municipais contraíram R$ 128 bilhões em empréstimos consignados, 7,5 vezes mais
do que o mesmo tipo de crédito a empregados de empresas privadas (R$ 17
bilhões) e quase o dobro dos obtidos por aposentados e pensionistas do INSS (R$
63,3 bilhões), segundo o Banco Central (BC). São números espantosos. Os
servidores são a parcela da população mais endividada.
Até certo ponto, é normal que o pessoal da administração
direta, autarquias e estatais seja alvo preferencial dos bancos na oferta de
crédito. Tem estabilidade no emprego e, em média, capacidade de pagamento
superior à dos empregados da área privada. Os bancos podem lhes oferecer taxas
mais baixas, notou Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC, ouvido
pelo Correio Braziliense. O custo do crédito é de 22,3% ao ano para os
servidores e de 29,8% ao ano para trabalhadores do setor privado, o que se
explica pelos privilégios do funcionalismo.
Se o empréstimo for para pagar outros débitos, como crédito
especial ou cartões de crédito, a migração para o consignado é saudável para o
tomador e para o banco.
Mas os bancos em geral pressionam os funcionários a
contratar financiamentos acima das necessidades. Alguns com depósitos em
poupança foram induzidos a manter a aplicação, enquanto tomam crédito para
desconto em folha. Assim pagam mais juros do que recebem.
A concessão de créditos consignados é regulamentada: a
prestação não pode superar 30% do contracheque do servidor, com prazo máximo de
60 meses. O que não impede os servidores de obter outros financiamentos, por
exemplo, para a casa própria ou compra de carros. A agressividade de alguns
bancos é facilitada pelo acesso às folhas de pagamento de diversos órgãos
públicos e a informações cadastrais. José Dutra Vieira Sobrinho,
vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, relata que foi procurado
por três bancos com ofertas de crédito consignado. Estes conheciam o valor do
benefício que Dutra recebe e quanto poderia ser contratado. Casos semelhantes
sugerem que instituições financeiras têm olheiros em órgãos públicos ou na
Previdência.
Mantidas as regras vigentes, o endividamento dos servidores
deveria diminuir. Mas, ao contrário, em 12 meses houve expansão de 18,5% no
crédito consignado a funcionários, mais que o dobro do aumento das operações
bancárias a pessoas físicas (7,9%) no período.
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