Vera Batista
Correio Braziliense -
28/10/2013
Embora constituam
mais da metade da população, as mulheres ainda são minoria na Esplanada dos
Ministérios. A presença feminina no governo aumentou significativamente na
gestão da presidente Dilma Rousseff. Atualmente, 10 qualificadas senhoras
ocupam cargos de relevância no primeiro escalão do Executivo. Apesar do esforço
da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto, estudo da Escola Nacional de
Administração Pública (Enap) sobre o perfil dos servidores públicos federais na
ativa mostram que, em 26 órgãos analisados, 54% (288.235) dos funcionários são
homens e 46% (241.635), mulheres.
Elas predominam apenas em cinco ministérios: Desenvolvimento
Social (57%), Saúde (56%), Previdência (55%), Turismo (52%) e Cultura (51%). A
pesquisa exclui os cedidos e os afastados por licença médica. "É difícil
prever quando ou se haverá uma inversão. Porém, se a tendência observada em uma
década e meia persistir, a possibilidade de haver maioria feminina na
administração pública federal ainda é remota", explicou o diretor de
Comunicação e Pesquisa da Enap, Pedro Cavalcante. A partir do Boletim
Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento, ele apontou que, nos
últimos 15 anos, a participação delas cresceu pouco mais de 1%. Em 1998,
representavam 44,14% do funcionalismo. Houve queda, em 2005, para 43,97%. Em
2013, o percentual subiu para 45,54%.
Formação superior
No Brasil, segundo a Relação Anual de Informações Sociais
(Rais) 2012, do Ministério do Trabalho e Emprego, as mulheres expandiram a
participação no mercado em 5,93% de 2011 para 2012. Saltaram de 41,90% (19,4
milhões) para 42,47% (20,1 milhões) dos 47,4 milhões de empregados com carteira
assinada. A Rais mostra também que o trabalho formal no país é composto
majoritariamente de trabalhadores com ensino médio completo (44,24%) ou
superior completo (17,80%). No serviço público, a proporção se inverte: 45,9%
têm formação superior e 26,5%, nível médio de ensino.
Na administração federal, o que se constata, na prática, é
que grande parte das servidoras que chegaram lá por concurso, jovens ou
maduras, nasceu em famílias de classe média ou alta e teve apoio para se
dedicar aos estudos. As mais novas não percebem tratamento diferenciado entre
homens e mulheres que desempenhem, ou não, cargos de chefia. Alegam que os
salários são iguais para as mesmas funções, e que a forma de pensar só varia de
acordo com a personalidade. As mais experientes admitem que muita coisa
melhorou. Já não são tratadas com estranheza. Apesar dos avanços, porém,
lembram que muitas vezes sentiram na pele os vários matizes da discriminação.
Críticas e elogios
Não foi só o prestígio das mulheres que ganhou relevância no
serviço público. De 2002 a 2012, período considerado no estudo da Enap, os
vencimentos também aumentaram. Nesses 10 anos, o percentual de funcionárias com
cargos comissionados (DAS, Direção e Assessoramento Superior) cresceu,
principalmente em categorias com remunerações mais altas. Segundo a pesquisa, o
número de servidoras com DAS nível 1 (R$ 2,1 mil mensais) caiu de 50% para 45%
do total. Mas as que ganham níveis 5 (R$ 9,6 mil) e 6 (R$ 12 mil) passaram de
22% para 28% e de 18% para 22%, respectivamente, no período.
"O universo do poder ainda é masculino. Há
resistências. Mas os desequilíbrios, no setor público, estão desaparecendo. O
concurso obriga a igualdade. Olho em volta e vejo muitas mulheres em posições
de destaque", contou Marcela Jeolás, 35 anos, diretora do Departamento de
Qualificação, Certificação e Produção Associada do Ministério do Turismo. A
advogada carioca passou por vários cargos na área jurídica e crê que a
conquista de espaços antes vedados ao público feminino aconteceu, entre outras
razões, porque sua geração foi criada para ser independente. "Os homens
estão virando sexo frágil. Quem segura a barra são as mulheres", desdenha.
Aos 28 anos, Roberta Simões, chefe de gabinete do ministro
da Previdência Social, Garibaldi Alves, já concluiu o mestrado em direito
público. Veio de Recife, em 2009, para trabalhar no Senado, decidida a
conquistar seu lugar ao sol, sem se incomodar com as estatísticas históricas de
desigualdade. "Depende da leitura que se faz. Nos concursos, as mulheres
estão sempre nos primeiros lugares. Não dá para ocultar o merecimento. Tudo
decorre do esforço. Meu pai era professor, minha mãe, aeroviária. Ambos de nível
superior. Eu não tinha condições de comprar todo o material. Estudei nos livros
da biblioteca, fiz cópia de capítulos. Cabe a nós o desafio de mudar a forma de
pensar da maioria", orgulha-se
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