Deputados debateram com representantes da categoria os
suicídios e as denúncias de assédio moral na corporação; pesquisa mostra alta
insatisfação entre policiais e grande número de afastamentos por motivo de
saúde.
A Frente Parlamentar de Apoio à Reestruturação da Polícia
Federal vai visitar algumas sedes da PF para verificar as condições de trabalho
dos policiais e pode decidir até pelo pedido de instalação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI).
O anúncio foi feito pelo coordenador da frente, deputado
Otoniel Lima (PRB-SP), ao final de uma audiência pública na Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados realizada nesta
quarta-feira para discutir os suicídios ocorridos na corporação e as denúncias
de assédio moral.
Otoniel Lima anunciou que as primeiras visitas serão na
cidade de Foz do Iguaçu (PR) e nos estados de Rondônia e Acre. "A Frente
Parlamentar de Apoio à Reestruturação da Polícia Federal vai visitar os pontos
mais críticos para colher dados e, se for o caso de apresentar um pedido para a
criação de uma CPI, podem ter certeza de que nós vamos fazer isso",
ressaltou.
Nos últimos 24 meses, foram registrados 12 suicídios de
policiais federais. De acordo com as entidades que representam esses
profissionais, uma grande parte da culpa por essas mortes é o assédio moral.
Elas denunciam que o esquema extremamente hierarquizado, que se apoia numa lei
do período da ditadura militar, dá poderes plenos para os chefes, que os utilizam
para humilhar os subordinados.
De acordo com a diretora do Sindicato dos Policiais Federais
do Paraná, Bibiana Oliveira, os policiais que questionam as condições de
trabalho sofrem perseguições como seguidas remoções e processos disciplinares
sem motivo.
Pesquisa da UnB
A pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Fernanda
Torres apresentou pesquisa realizada em 2012 com 327 policiais, com média de 20
anos de PF. O estudo apontou que 23% tinham se afastado por motivo de saúde no
último ano, e 40% por transtornos mentais ou outros motivos que podiam ser
somatizações. Metade disse que gostaria de deixar a Polícia Federal, mesmo
depois de todo o investimento necessário para entrar lá. Eles diziam que quatro
meses é muito pouco tempo para formar um policial e se sentiam injustiçados e
não reconhecidos, apesar de saberem que seu trabalho é importante para a
sociedade.
Para a coordenadora da pesquisa, a professora Ana Magnólia
Mendes, o assédio pode provocar o suicídio. "Há um descompasso enorme
entre o que é exigido, as condições que são dadas e o que é valorizado ou não
desse fazer, gerando para o trabalhador esse sentimento profundo de
incompetência, que leva a esse desamparo e a esse abandono, sendo aí o suicídio
a radicalidade", afirmou.
A presidente do Sindicato Nacional dos Servidores do Plano
Especial de Cargos da Polícia Federal, Leilane Oliveira, afirmou que a PF tem
em seus quadros 13 psicólogos e 12 psiquiatras. Ela disse que o Ministério da
Justiça anunciou um plano de apoio psicológico após o último suicídio, mas que
ele se limita a deixar os profissionais de saúde mental de sobreaviso. Em caso
de urgência, eles podem ser convocados para dar um laudo que determine a
retirada de porte de arma de um policial.
O presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito
Federal, Flávio Werneck Meneguelli, leu o depoimento de um policial:
"Entra diretor-geral, sai diretor-geral e nada que possa significar mais
atenção à saúde psicológica do servidor é apresentado como solução. Pelo
contrário, apenas recrudescimento das relações de trabalho. Pressão, abusos,
assédio, punição. Aos ditos, entre aspas, fracos, o rótulo e o preconceito
institucional".
Convidado para a audiência na Câmara dos Deputados, o
diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, não compareceu.