Agência Brasil
- 12/10/2014
Recentemente, o governo ampliou o prazo de pagamento do
crédito consignado para aposentados, pensionistas e servidores públicos
federais. No caso de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), o número máximo de parcelas passou de 60 a 72, valendo para
desconto em folha ou cartão de crédito. Para servidores, o período aumentou de
60 para 96 meses. Segundo economista ouvido pela Agência Brasil, a medida tem
um viés positivo, pois o prazo maior permite diminuir o valor da prestação. Mas
os contemplados devem saber administrar o benefício, alerta.
“O efeito positivo é que permite uma folga no valor do
desconto do consignado. A pessoa pode transformar o empréstimo atual em um mais
longo e, assim, suavizar seu orçamento mensal. Por outro lado, o
comprometimento da renda diminui e aumenta o espaço para contrair novos empréstimos.
Então aumenta o montante total da dívida. Esse é o risco implícito nessa
operação”, analisa o economista Gilberto Braga, professor de Finanças do
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
Segundo Braga, apesar de a taxa de juros ter sido mantida
inalterada nos dois casos – de 2,14% a 3,06% ao mês no caso de aposentados e
pensionistas, e 2,5% ao mês, no caso de servidores públicos – o tomador de
crédito deve se lembrar que, quanto maior o prazo do empréstimo, maior o valor
em juros que terá pago ao final dele. Ele recomenda critério na hora de
contrair dívidas.
“O servidor não deve tomar a decisão [de fazer um empréstimo
consignado] pelo valor da prestação, e sim pelo que realmente precisa para
resolver uma situação emergencial. O ideal, se puder, é reduzir o número de
prestações, para reduzir o valor dos juros e também para diminuir o tempo que o
servidor ou aposentado fica preso à obrigação”, aconselha.
De acordo com Edison Costa, presidente da Associação
Nacional das Empresas Promotoras de Crédito e Correspondentes no País (Aneps),
as instituições representadas pela entidade estão sujeitas a ajustes dos bancos
para ofertar os novos prazos. “O [empréstimo] de 72 meses [para aposentados e
pensionistas], a maioria dos bancos já comunicou que a gente pode operar. Do
funcionalismo público, ainda não recebemos comunicado”, disse.
Na avaliação de Edison, do ponto de vista das empresas de
crédito, o prazo maior pode ser benéfico. “Para nós é bom, pois reativa os
processos. Os créditos já estavam um pouco estrangulados. Dá um alívio no caixa
das pessoas, melhora um pouco a movimentação da economia, pois põe mais recursos
em circulação. Mas é uma medida paliativa. Vai durar o tempo que você recicla a
carteira”, destaca ele, que acredita em aumento nos empréstimos feitos por
aposentados.
“O aposentado é capaz de aquecer um pouco mais que o tomador
tradicional. Ele tem uma demanda maior por crédito, com o salário cada vez mais
achatado”, comenta o presidente da Aneps, que faz um alerta. “O aposentado está
tomando crédito de maneira que é até difícil. Não é para constituir patrimônio,
é mais para cobrir uma deficiência de caixa que ele tem”, ressalta.
Procurada, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
disse, por meio de sua assessoria de comunicação, que ainda não há como estimar
o impacto dos novos prazos na procura por crédito. A entidade informou ainda
que “a implementação do novo prazo das operações de consignado depende de
pequenos ajustes sistêmicos das instituições financeiras”. A Febraban também
destacou que o cliente pode optar por prazos inferiores ao limite máximo e que,
antes de finalizar qualquer operação, deve ter certeza de que o valor da
parcela não irá comprometer as outras despesas do mês.