BSPF - 16/01/2016
Médicos do órgão estão em greve há quatro meses e não há
perspectiva de acordo
Nestor de Souza, 56 anos, perdeu os movimentos das mãos após
desenvolver uma lesão que o impede de continuar o trabalho que exerce em uma
lavanderia. Ele tenta receber o auxílio-doença desde agosto do ano passado do
INSS mas por causa da greve dos médicos peritos do órgão o segurado foi às
agências mais de cinco vezes, com horário marcado, e ainda não conseguiu o
laudo. O drama de Nestor é vivido por 1,3 milhão de pessoas, segundo o último
levantamento do INSS. Enquanto isso, os peritos completam quatro meses de
braços cruzados, à espera de um acordo com o governo que satisfaça às
exigências da categoria.
“É muito indigno ver minha esposa trabalhando sozinha e eu
ter que fazer bicos, depois de ter um emprego e não poder receber o meu
auxílio”, desabafou Nestor, que só não passa por necessidades básicas porque
tem o salário da esposa e, mesmo com as mãos lesadas, faz trabalhos autônomos.
A falta de atendimento também mudou a vida de Bianca
Silveira Dias, 30 anos. A secretária precisou se afastar do trabalho após ser
diagnosticada com hérnia de disco, mas não conseguiu o laudo do INSS. Como a
moradora de São Gonçalo não comprovou a doença, a empresa que ela trabalhava a
demitiu. “Eu sinto desespero pelo lado financeiro, indignação pelo lado moral e
muita tristeza por ver uma administração pública que não funciona no país.
Transformaram uma Seguridade Social em uma empresa com fins lucrativos”,
criticou.
A perícia do INSS está sendo feita por 30% do efetivo, que é
o percentual obrigatório por lei. Mas o presidente da Associação Nacional dos
Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP), Francisco Eduardo Cardoso, lembra
que 95% dos 4.378 servidores da categoria já aderiram à greve, e se revezam
para manter o atendimento mínimo. “Enquanto não houver um acordo satisfatório
por parte do governo, continuaremos em greve mas estamos buscando a
negociação”, disse Cardoso.
Pelas contas da ANMP, foram quatro reuniões antes do início
da greve e três durante esses quatro meses de paralisação. A última reunião
entre governo e grevistas, mediada pelo Ministério do Planejamento, foi no dia
11 de dezembro. Mas não houve acordo, já que a associação não aceitou a
proposta de reajuste para o funcionalismo federal, de 10,80% parcelado em duas
vezes, neste ano e ano que vem.
Os médicos peritos pedem 27% de aumento em dois anos,
redução da carga semanal de 40 para 30 horas, reestruturação da carreira e fim
da terceirização. Hoje a categoria trabalha 40 horas, com salários entre R$ 11
mil a R$ 16 mil, segundo o INSS.
Agendar não é garantia
Conseguir a perícia do INSS, mesmo com horário marcado, tem
sido um jogo de sorte, relatam os segurados. O serviço deve ser agendado pela
Central 135, entretanto, parte dos agendados dá com a cara na porta por não ter
médicos suficientes nas agências.
José Bezerra da Silva, 55 anos, veio da Paraíba para tentar
ser atendido aqui. O homem, que tem um aneurisma cerebral, está na casa da
irmã, já que foi afastado do trabalho e não está conseguindo se manter
financeiramente. Mesmo com o nome na lista de atendimento na agência, o perito
não o recebeu ontem. “É muita insatisfação por trabalhar a vida inteira e não
conseguir um atendimento decente”, disse.