BSPF - 16/03/2016
Cortes orçamentários e crise política afetam motivação dos
funcionários
Qualquer que seja o governo a surgir de toda essa confusão,
uma coisa é certa: encontrará uma burocracia formada por servidores públicos
desesperançados e desmotivados.
Ao contrário do que afirma o sociólogo Jessé Souza, atual
presidente do Ipea, no Brasil o Estado é mais idolatrado do que o mercado.
Empregos públicos com salários razoáveis são disputadíssimos. “Concurseiros”
bacharéis em Direito pulam de prova em prova em busca de mais dinheiro e
satisfação profissional – tendo, é claro, a garantia de boa aposentadoria e
estabilidade no emprego.
Mas um fator que costuma ser esquecido nessa discussão é a
motivação. Crises econômicas implicam (ou deveriam implicar!) contenção de
gastos. Assim, nos últimos meses, professores de universidades federais têm que
formar bancas de mestrado e doutorado convidando colegas de outros estados para
avaliar os candidatos via Skype. Passagens aéreas foram cortadas. Claro que
isso está longe de ser uma tragédia, mas é sinal de tempos difíceis para
funcionários públicos.
O principal problema, claro, está nos salários. Enquanto
funcionários do governo carioca estão recebendo com atraso, os servidores
federais podem esquecer qualquer tipo de aumento nos próximos meses. Vale
lembrar que no governo não há reposição automática da inflação, ao contrário do
dissídio do setor privado.
Cortes orçamentários como os de 2015 e 2016, então,
provavelmente afetam a motivação dos servidores públicos e, consequentemente, a
qualidade de seu trabalho. Mas um estudo publicado no Journal of Public
Administration Research and Theory mostra que inovações organizacionais podem
ajudar a preservar o bem-estar (e competência) dos funcionários em tempos de
crise.
De qualquer maneira, o cenário para os próximos meses é
sombrio não só na política, mas também na capacidade estatal.
Fonte: Revista Veja (Sergio Praça)