Jornal Extra
- 25/06/2016
Brasília e São Paulo - Há 16 anos, a servidora pública Ana
Gori vê um empréstimo consignado abocanhar boa parte de seu salário. Uma dívida
levou a outra e, pelas contas dela, só termina em 2022. Na quinta-feira, a
angústia de Ana aumentou quando viu o ex-ministro do Planejamento Paulo
Bernardo ser preso na Operação Custo Brasil, da PF, por fraude no consignado
contratado por meio da empresa Consist. Ana chorou quando soube que, além dos
juros, ela contribuía também com a taxa mensal de R$ 0,70 de propina. Pelas
investigações, Bernardo embolsou R$ 7 milhões em propina.
— Eu chorei por mim e pelos meus amigos. Eu estou indignada.
Tem várias maneiras de ser assaltada. Para mim, esse cara (Bernardo) é tão
bandido quanto o cara que me aponta a arma e leva minha bolsa — desabafou Ana,
que trabalha na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), em São Paulo.
O servidor Rogério Expedito, do Ministério Público de Minas
Gerais, também paga a taxa de propina embutida nas parcelas do empréstimo
consignado, ao qual recorre desde 2000.
— A revolta é muito grande, porque a gente só pega
empréstimo quando está com dificuldade. Além da taxa do banco, tem a taxa de
roubo, fraude e esquema ilícito. A gente foi enganado. Na verdade, era um
esquema para passar dinheiro para o ministro e para o PT — disse ele.
Segundo Expedito, a Confederação dos Trabalhadores no
Serviço Público Federal (Condsef) já decidiu entrar com ações contra o governo
federal por danos morais. Eles querem ter de volta o dinheiro desviado das
parcelas do consignado.
— Individualmente, não é muito dinheiro. Mas existem hoje
1,38 milhão de servidores. Provavelmente, todos pegaram empréstimo — disse ele.
Em um grupo de Whatsapp integrado por servidores que têm
empréstimo descontado em folha, a revolta é geral. “Esperamos que as entidades
entrem com ação para a devolução desse dinheiro, nem que seja para doar depois.
Foram usurpados pelo governo do PT”, disse um participante do grupo.
PAULO FERREIRA SE APRESENTA
Os dois principais alvos da Operação Custo Brasil, Paulo
Bernardo e o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, negaram na sexta-feira a
participação no esquema de propina. Ferreira, que não foi preso na operação de
quinta-feira, se apresentou à Justiça na sexta.
O ministro Celso de Mello, do STF, pediu informações ao juiz
Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, sobre a
autorização dada por ele para a PF fazer busca e apreensão no apartamento
funcional da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Paulo Bernardo. Para o
Senado, era necessária uma autorização do STF para a busca. Celso de Mello quer
saber se a medida se restringiu aos bens de Bernardo, ou também se estendeu aos
de Gleisi.
Em nota, a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) manifestou
“incondicional apoio” ao juiz. Em outra nota, deputados do PT criticaram a
“invasão desmedida, desnecessária e absolutamente injustificável” da PF à sede
do partido. O alvo era a sala da tesouraria, que era ocupada pelo ex-tesoureiro
João Vaccari, preso desde abril.