Correio Braziliense
- 08/07/2016
Planejamento suspende encaminhamento ao Congresso de
projetos de aumento salarial para categorias que fecharam negociação este ano
com o governo. A pasta reavalia detalhes como concessão de bônus de eficiência
a aposentados da Receita Federal
O governo se complicou nas negociações salariais com o
funcionalismo. Na pressa de atrair apoio político dos servidores, a equipe
econômica do presidente interino Michel Temer, com o auxílio do próprio chefe
do Executivo, fez um esforço para obter aprovação do Congresso Nacional aos
projetos de lei que autorizam reajustes salariais para várias categorias dos
Três Poderes, acertados no fim do governo Dilma Rousseff. Na afobação, no
entanto, deixou de lado detalhes jurídicos importantes - especialmente
relativos aos aposentados - que deveriam ser resolvidos com as carreiras
típicas de Estado. Com isso, o encaminhamento dos projetos, que deveria ocorrer
na quarta-feira, foi suspenso.
"O Planejamento nunca vai admitir publicamente, mas era
clara a intenção de enviar as propostas sem os acertos para o Congresso e,
depois, ir ajeitando aqui e ali, até porque outras carreiras, com projetos
emperrados, estão irritadas e pedem celeridade. O envio seria anunciado em
encontro com os auditores da Receita, onde o confronto com os aposentados é
maior. Mas, quando o governo percebeu que não tinha nem os parlamentares e nem
o mercado na mão, recuou", disse uma fonte com acesso ao Palácio do
Planalto.
Especulação
O Ministério do Planejamento negou que tenha voltado atrás.
Em nota, informou que "o governo avalia os acordos feitos no final da
gestão da presidente afastada e se e quando irá encaminhar projetos de lei
nesse sentido". Afirmou ainda que "é falsa a especulação sobre o
envio". A pasta não explicou o que está avaliando nos projetos se todos
foram exaustivamente discutidos e estão assinados. Muito menos o que não foi
discutido antes da assinatura dos acordos que precisa, agora, de análise mais
apurada.
Cláudio Damasceno, presidente do Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais da Receita (Sindifisco), uma das categorias que deveriam ter
o projeto de reajuste encaminhado ao Legislativo nesta semana, classificou como
"muito ruim" o resultado de encontro que teve com o ministro Dyogo
Oliveira, na quarta-feira. "Ele disse que há boa vontade do governo para
cumprir o acordo, mas a decisão sobre o envio dos projetos ainda não foi
tomada, porque há dificuldades técnicas e jurídicas sobre o pagamento do bônus
de eficiência para aposentados, Além disso, houve repercussão negativa em
relação a outros projetos de lei já em tramitação", afirmou.
"Não dá para compreender que um acordo fechado há tanto
tempo esteja sendo discutido dentro do Planejamento. Se havia divergências,
deveriam ter sido sanadas lá atrás. Agora, não há como falar em rever acordo
", acrescentou Damasceno. Ele disse que o clima no Fisco é de indignação,
e não está descartado um acirramento dos protestos, com paralisações e
operação-padrão nas aduanas.
Na avaliação de Luís Boudens, presidente da Federação
Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), o ministro está usando a estratégia
anunciada pelo seu antecessor, Romero Jucá, que se afastou do cargo10 dias após
a posse. "O Planejamento está fazendo uma reavaliação dos contratos, como
queria Jucá, para ganhar tempo. Vai enrolar as carreiras que dependem de
projetos de lei e têm reajuste a partir de janeiro de 2017, até o envio da lei
orçamentária, em 31 de agosto", assinalou.