Revista ISTOÉ
- 13/11/2016
Ao longo dos próximos 10 anos, 48% dos servidores estaduais
hoje na ativa - praticamente a metade da força de trabalho - terão direito a
pedir a aposentadoria. Serão 1,8 milhão de funcionários públicos com direito a
reivindicar um pecúlio para o resto da vida. "Pelas regras atuais, os
sistemas previdenciários estaduais não vão suportar a conta e a crise, hoje
concentrada em alguns Estados, vai se espalhar", diz o economista Nelson
Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas e autor do levantamento.
Parte do fenômeno tem razões históricas. Como lembra o
economista Paulo Tafner, especialista em Previdência, a concentração de
aposentadorias nos próximos anos deriva de um boom de contratações que ocorreu
em praticamente em todas as esferas do setor público no final dos anos 80 e
início dos anos 90, durante a redemocratização. A Constituição de 1988 reforçou
o processo, ao ampliar as obrigações de Estados e municípios nas áreas de
educação, saúde e segurança, que dependem de muita mão de obra.
Pesa também o fato de duas categorias, professores e
policiais, cujas contrações estão concentradas nos Estados, terem direito a
aposentadorias especiais. Professores podem se aposentar com 50 anos. Em vários
Estados, policiais têm entrado com pedido de aposentadoria aos 46, 47 anos de
idade. Essa peculiaridade, inclusive, precisou ser considerada na pesquisa.
Marconi adotou uma média ponderada para incluir as aposentadorias precoces no
levantamento.
O problema ocorreria de qualquer maneira, mas tem pelo menos
dois agravantes: chega no momento em que o brasileiro começa a ficar mais velho
e a viver mais, o que eleva e prolonga os gastos da Previdência, e quando o
País mergulha na mais profunda crise econômica da história - o que reduz a
arrecadação que deveria suportar aumentos nos próximos anos.
"A recessão, a crise de crédito e de setores-chave para
a arrecadação agravaram e anteciparam a crise estrutural da Previdência:
servidores trabalham menos tempo para ficar mais tempo aposentados e não é a
toa que há uma razoável correlação entre o tamanho da Previdência própria dos
Estados e a crise financeira de muitos deles", diz economista Jose Roberto
Afonso, pesquisador do Instituto de Economia da Fundação Getúlio Vargas
(Ibre/FGV).
De fato, nos dois Estados em situação financeira mais frágil
- falta dinheiro até para a folha de pessoal - há fortes desequilíbrios na
Previdência. No Rio, a previsão é que as contas estaduais encerrem o ano com um
rombo de R$ 17,5 bilhões - R$ 12 bilhões vêm do sistema previdenciário. No Rio
Grande do Sul, 56% da folha de pagamento do funcionalismo vai para aposentados
e pensionistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)