Bem Paraná - 16/11/2018
São Paulo - O governo Michel Temer alertou o governo de
transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para o forte impacto de
altos salários sobre a folha de pagamento do funcionalismo federal.
A atual equipe recomendou a adequação da remuneração do
serviço público à praticada pelo setor privado, além de adiar, para 2020, os
reajustes programados para 2019.
As medidas buscam conter o crescimento das remunerações dos
servidores nos próximos anos. Nas contas do governo, o aumento dos salários do
funcionalismo custará só no próximo ano R$ 4,7 bilhões aos cofres públicos.
O Ministério do Planejamento conduz atualmente um estudo com
o objetivo de "alinhar as remunerações pagas pelo setor público aos
salários pagos pelo setor privado".
Os dados e as propostas constam do documento "Transição
de Governo 2018-2019 - Informações Estratégicas" e foram elaboradas pelo
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
No relatório encaminhado aos colaboradores de Bolsonaro, o
governo Temer informou que "os altos níveis de gastos são impulsionados
pelos altos salários", e não pelo número excessivo de servidores.
"Isso se verifica principalmente na esfera federal, na
qual os salários são significativamente mais altos que aqueles pagos a
servidores dos governos subnacionais, ou a trabalhadores em funções semelhantes
no setor privado", afirma o texto.
Pelos números apresentados, o Poder Executivo federal
dispunha, em julho de 2018, de 1.275.283 servidores, dos quais 634 mil ativos.
No geral, os servidores representam 24% dos empregos formais no país.
O relatório destaca, porém, que as altas remunerações no
serviço público preocupam muito mais do que o número de servidores.
O gasto com pessoal do Executivo, diz o texto, consumiu R$
172 bilhões em 2017, sendo R$ 105,9 bilhões com servidores da ativa.
Na avaliação do governo Temer, "o quantitativo de
servidores não se apresenta como ponto de alerta crítico, mas é real a
necessidade de rever a atual configuração da administração pública
federal".
Os números do governo também apontam que 80,3% dos
servidores tiveram reajustes abaixo da inflação nos últimos dois anos.
Em compensação, o índice de aumento para algumas categorias,
como policiais federais, foi o dobro do acumulado pela inflação, de 2016 para
cá.
Hoje, no Executivo, a maior remuneração mensal é de R$ 29,6
mil, fora vantagens, pagas aos cargos de perito e delegado das carreiras da
Polícia Federal e Polícia Civil dos ex-territórios.
A menor é de R$ 1.467,49, referentes ao cargo de
auxiliar-executivo em metrologia e qualidade da carreira do Inmetro.
Ainda segundo os números de agosto deste ano, a média mensal
de vencimentos é de R$ 11,2 mil, para ativos, e R$ 9.000 para inativos.
O documento aponta também que as carreiras, cargos e funções
do serviço público estão estruturadas em um sistema oneroso e complexo, que
dispõe de pouca mobilidade.
Para ilustrar a complexidade do atual sistema de carreiras,
o estudo diz que as cerca de 80 carreiras no Poder Executivo existentes na
década de 1990 se transformaram em mais de 300.
O texto propõe substituir o atual sistema de carreiras do
serviço público por um modelo mais moderno e eficaz, com "metas e
resultados, desenvolvimento, avaliação de desempenho, governança e liderança,
processo seletivo e certificações".
O estudo alerta ainda para a piora da situação fiscal do
país em razão dos salários acima do valor de mercado e de reajustes acima da
inflação dos rendimentos do funcionalismo.
A atual equipe propõe, então, como medida de emergência o
adiamento dos reajustes já previstos para 2019.
No acordo feito em 2015, no governo de Dilma Rousseff, e
aprovado em 2016 pelo Senado, ficou acertado que os reajustes para recompor
perdas da inflação (de 2013 a 2015) seriam de 4,5% ao ano, concedidos em 2017,
2018 e 2019.
A equipe de Temer alega que, quando o acordo foi feito por
Dilma, a inflação estimada era acima de 5%, o que não refletiria a realidade
atual.
Propondo uma economia bilionária, Temer recomenda que
Bolsonaro busque, já em janeiro, manter o adiamento de reajuste definido pela
Medida Provisória de 2018.
Como as MPs dependem de aprovação, o adiamento requer
negociações com o Congresso Nacional.
Além disso, o documento ressalva ser "importante
registrar o risco de judicialização do adiamento por parte das carreiras
envolvidas".
No ano passado, o governo Temer fracassou ao tentar congelar
os salários dos servidores. Em outubro de 2017, foi publicada uma MP
postergando para 2019 os reajustes previstos 2018.
A medida perdeu a eficácia por falta de tramitação no
Congresso e foi derrubada no STF (Supremo Tribunal Federal).
IDADE
Além dos salários altos e dos reajustes promovidos acima da
inflação, o documento enfatiza a elevação dos riscos à Previdência da categoria
nos próximos anos.
Segundo o texto, a elevada média de idade dos servidores em
atividade, atualmente de 46 anos, traz alto risco de aumento na quantidade de
pedidos de aposentadorias.
A consequência disso é o surgimento de uma demanda adicional
para recomposição da força de trabalho para atender à demanda da sociedade.
Atualmente, 108 mil servidores (17% da força) já têm
condições para aposentadoria e permanecem no serviço público atraídos por
incentivos, como o abono de permanência. Dados de julho de 2018 apontam ainda
que cerca de 39% dos servidores públicos têm mais de 50 anos.
Somente em 2017 foram concedidas 22.458 aposentadorias no
serviço público --o maior número desde 1998. Foi uma alta de 42% em relação ao
ano anterior.
Em 2016, tinham sido 15.769. De janeiro a julho de 2018,
outros 12.360 servidores se aposentaram.
Nas Forças Armadas, são 366.989 militares na ativa e 303.264
servidores da reserva ou seus pensionistas.
No ano passado, os vencimentos do pessoal da ativa somaram
R$ 23,3 bilhões. A fatia para reserva e pensões foi quase o dobro: R$ 41,5
bilhões.
Segundo o documento, a despesa média com cada militar da
ativa é de R$ 4.770,92 em comparação a uma despesa média de R$ 10.539,22 de um
militar da reserva.
(Folhapress)