Congresso Em Foco
- 10/12/2018
Durante boa parte de nossa história, o serviço público e a
política foram os destinos principais de quem buscasse uma feliz combinação de
sustento familiar e relevo social. Mães zelosas ambicionavam ver os filhos
empregados no setor público ou numa empresa estatal.
Passaram-se os anos, o Estado brasileiro cresceu e sua
burocracia se sofisticou. Às centenas, surgiram empresas públicas e se
multiplicaram os ministérios, as secretarias, os departamentos. Miríade de
novos municípios, conforme iam sendo criados, reproduziam essa expansão na base
da pirâmide do poder político.
Todo o organismo estatal se agigantou, num fenômeno que
lembra a divisão celular por mitose e meiose. Concursos públicos e cargos de
confiança proveram novas, crescentes e permanentes possibilidades de acesso a
vagas em posições detentoras do privilégio da estabilidade.
O serviço público se manteve, através das décadas, como um
lugar que permitia a sobrevivência digna, sob proteção de regras que concediam
segurança e remuneração por vezes acima do mercado de trabalho no setor privado
da economia.
Há mais de 40 anos, porém, luzes vermelhas começaram a sinalizar
a gradual aproximação de severas dificuldades. Os ombros dos carregadores não
iriam suportar o peso daquele andor. A atividade se tornara campo fértil para
atuação de grupos em que a demagogia política de uns turbinava a voracidade
corporativa de outros.
A conta cada vez mais salgada das folhas de ativos, inativos
e pensionistas foi reduzindo drasticamente a capacidade de pagamento e de
investimento do setor público. A qualidade foi sumindo dos serviços prestados,
as instalações se degradando e os vencimentos perdendo poder de compra. O
problema aqui descrito passou a afetar a União, os estados e os municípios.
Durante longos anos, porém, enquanto essa realidade tolhia
os governos, a autonomia dos poderes permitiu que o custo da crise fosse
circunscrito ao executivo. Os demais conseguiram preservar dedos e anéis.
Nestes dias, contemplamos o fim de um ciclo. Três anos de
recessão e mais dois de baixíssimo crescimento do PIB completaram o estrago.
Acabou. Medidas duríssimas já vêm sendo adotadas e precisarão ser ampliadas
para pôr fim à crise fiscal e para que se restaure a confiança e a capacidade
de investimento do setor privado e do setor público.
Então, com a experiência de quem trabalha há 55 anos, tendo
atuado nos dois lados desse balcão, constato que o futuro do emprego público é
nada promissor, fora (e assim mesmo, talvez) de algumas limitadas e disputadíssimas
carreiras de Estado.
Bem ao contrário do que hoje acontece como orientação
pedagógica, é importante despertar, nos jovens, interesse por atividades
produtivas e estimulá-los a buscar o merecimento indispensável à
competitividade. Desenvolver a mente e o espírito, aderir a valores perenes,
adquirir hábitos de leitura e de estudo continuado e fazer de si mesmo o melhor
possível será sempre um caminho virtuoso de inserção ativa nas complexidades da
vida social, política e econômica. Em meio a elas, não convém a dispersão
proporcionada pelas facilidades, nem o esmorecimento sugerido pelas
dificuldades. O futuro, ou estará no setor privado da Economia, ou será um
estuário de maus pressentimentos.
A experiência dos povos ensina que a crise pela qual estamos
atravessando é parteira de novas e melhores possibilidades. E essa é a boa
notícia que tenho a dar.
Por Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões;
A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.