BSPF -
04/09/2019
Após mais de nove horas de reunião, a Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) aprovou, nesta quarta-feira (4), o relatório do
senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) à reforma da Previdência (PEC 6/2019). O
texto segue para análise no Plenário do Senado.
A expectativa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é que a votação da proposta seja concluída até 10 de outubro. Foram 18 votos favoráveis e 7 contrários ao texto-base da proposta que altera a regras de aposentadoria.
A expectativa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é que a votação da proposta seja concluída até 10 de outubro. Foram 18 votos favoráveis e 7 contrários ao texto-base da proposta que altera a regras de aposentadoria.
Entre outros pontos, a reforma da Previdência aumenta o
tempo para se aposentar, eleva as alíquotas de contribuição para quem ganha
acima do teto do INSS (hoje em R$ 5.839) e estabelece regras de transição para
os atuais assalariados.
A principal mudança prevista na PEC é a fixação de uma idade
mínima (65 anos para homens e 62 anos para mulheres) para servidores e
trabalhadores da iniciativa privada se tornarem segurados após a promulgação
das mudanças. Além disso, estabelece o valor da aposentadoria a partir da média
de todos os salários, em vez de permitir a exclusão das 20% menores
contribuições.
A aprovação da PEC na CCJ veio depois que senadores fecharam
um acordo nesta terça-feira (3) para acelerar a tramitação da PEC paralela da
reforma da Previdência. A PEC paralela é uma forma de evitar a volta da reforma
da Previdência para a Câmara, o que ocorreria se houvesse mudanças feitas pelo
Senado. O relator, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), manteve a essência do
texto que veio da Câmara, apenas com algumas emendas de redação e supressões de
dispositivos, como o do Benefício da Prestação Continuada (BPC) e da pensão por
morte, alterações que não resultam em nova análise da PEC pelos deputados.
O objetivo do governo com a reforma da Previdência é reduzir
o rombo nas contas públicas. A estimativa do relator é que o impacto fiscal
total da aprovação da PEC 6/2019, com as novas mudanças, e da PEC paralela,
chegará a R$ 1,312 trilhão em 10 anos, maior do que os R$ 930 bilhões previstos
no texto da Câmara, e maior do que o R$ 1 trilhão que pretendia o governo
federal inicialmente. Mas a PEC isoladamente vai representar uma economia de R$
870 bilhões para a União, segundo Tasso Jereissati, com base em estudos da
Instituição Fiscal Independente (IFI).
Mudanças em relação à Câmara
Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou à Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), nesta quarta-feira (4), sua complementação de
voto. Ele rejeitou a maior parte das emendas apresentadas após a leitura de seu
relatório que ocorreu no último dia 28, mas acatou uma mudança para suprimir do
texto a possibilidade de a pensão por morte fosse inferior a um salário mínimo.
O impacto será de R$ 10 bilhões a menos de economia em 10 anos, o que segundo
Tasso é um valor pequeno ao considerar que a medida vai impactar a vida das
famílias mais pobres, que estão na “base da pirâmide”. A medida, sugerida na
Emenda 483 e em outras emendas dos senadores, foi confirmada ao ser votada
separadamente, como destaque.
— Acredito que, nestes termos, alcançamos a missão que o
Senado Federal recebeu: exercer sua obrigação de Casa Revisora com atenção ao
piso da pirâmide sem se esquecer da necessidade da busca pelo equilíbrio
financeiro e atuarial — afirmou.
Anteriormente, o senador havia proposto que essa questão
fosse tratada na PEC paralela. Apesar de elogiar o trabalho do relator, o líder
do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), defendeu mudanças na pensão por
morte. Segundo ele, apenas no Regime Próprio de Previdência Social, o gasto com
pensões subiu de R$ 15,3 bilhões para R$ 135 bilhões entre 2000 e 2018.
— A última mudança do senador Tasso termina deixando intacta
a questão da pensão por morte, não atendendo nem à proposta original do governo
nem à proposta que veio da Câmara. Por isso é que eu coloco como debate essa
questão de pensão por morte, que precisa ser revisitada — disse o líder do
governo.
Tasso ainda acolheu outras mudanças como uma emenda de
redação que acrescentou os trabalhadores informais dentre os trabalhadores de
baixa renda com direito ao sistema especial de Previdência.
BPC
Ao todo, senadores apresentaram 489 emendas à Proposta. O
relator eliminou, por completo, qualquer menção ao Benefício da Prestação
Continuada (BPC). Ou seja, as regras atuais ficam mantidas e esse benefício não
passará a ser regulamentado pela Constituição.
Trabalhadores em profissões de risco
Tasso também suprimiu parte da regra de transição para os
profissionais expostos a agentes nocivos, como os mineiros de subsolo, que
elevava progressivamente os requisitos para que esses trabalhadores
conseguissem a aposentadoria. Ainda fica valendo a regra de pontos, mas sem
progressão. Essa mudança diminuiu o impacto fiscal da reforma em R$ 6 bilhões.
Ainda foram eliminados do texto, trechos que poderiam
impedir a criação da contribuição extraordinária cobrada dos servidores
públicos, aposentados e pensionistas dos estados e municípios em caso de
deficit. Exemplo disso, é a redação do artigo 149, que ficou sem a expressão
“no âmbito da União” para evitar interpretações de que a contribuição só
poderia ser cobrada pela União.
PEC paralela
Outras sugestões de mudanças apresentadas pelos senadores,
que exigiriam alterações substanciais no texto, ficaram para a PEC paralela,
uma forma de evitar a volta da reforma da Previdência para a Câmara.
Além da inclusão de estados e municípios, a PEC traz a
cobrança de contribuições previdenciárias de entidades filantrópicas, do
agronegócio exportador e do Simples, regime simplificado de tributação para
pequenas empresas, entre outros pontos.
Destaques
A reunião começou pouco depois das 9h e a votação do texto
base foi concluída às 16h56. Em seguida, os senadores passaram a analisar
pedidos de votação em separado, que destacaram partes do texto do relatório.
Uma das emendas destacadas, do PSD, sugeria a redução da idade mínima de 62
anos para mulheres e 65 para homens para, respectivamente 60 e 62 anos, mas a
sugestão foi rejeitada. Segundo o líder do governo, a idade mínima da PEC
6/2019 é o ponto crucial da proposta:
— A questão da idade mínima é ponto crucial dessa
reforma da Previdência. Nas estimativas que foram feitas pela IFI (Instituição
Fiscal Independente), a idade mínima representa mais de 60% da reforma da
Previdência do ponto de vista do impacto fiscal — apontou Fernando Bezerra
Coelho.
Também foram rejeitados, entre outros, um destaque que
buscava manter o abono salarial para todos trabalhadores que recebem até dois
salários mínimos, e um que abrandava as regras para aposentadoria especial.
Votos em separado
Contrários ao texto do relator, os senadores Fabiano
Contarato (Rede-ES), Weverton (PDT-MA), e Paulo Paim (PT-RS) apresentaram votos
em separado. Nesses relatórios alternativos, os parlamentares manifestaram
discordância em relação a diversos pontos da proposta como a alteração do
cálculo dos benefícios, o aumento das alíquotas de contribuição, a redução do Abono
do PIS/Pasep, entre outras. Fabiano Contarato considerou as mudanças feitas
pelo relator insuficientes e sugeriu a supressão de outros pontos no voto em
separado. Ele recomendou a aprovação da PEC 6/2019 com mais de 80 emendas
apresentadas pelos senadores. Já Weverton e Paim, defenderam a rejeição
integral da PEC 6/2019.
Debate
Durante a discussão da proposta, parte dos senadores se
queixaram do andamento rápido da proposta no Senado e defenderam a prerrogativa
dos senadores de alterarem o texto. Outros parlamentares defenderam o relatório
de Tasso por encontrar soluções criativas para os pontos mais polêmicos e
urgentes.
Fernando Bezerra Coelho avaliou que a aprovação da reforma
da Previdência vai ajudar a melhorar o sistema fiscal e reforçou que a proposta
busca fazer justiça com os mais pobres.
— O cenário não só econômico, mas também social irá melhorar
nos próximos meses. Nós aqui testemunhamos ninguém aqui ousou discordar da
necessidade da reforma da Previdência, o Brasil está envelhecendo rapidamente e
é insustentável manter o sistema atual — defendeu.
Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE)
reconheceram que a inversão da pirâmide demográfica exige uma adaptação das
regras previdenciárias, mas o que está em discussão na proposta, segundo eles,
é um desmonte do sistema de proteção social. Para Humberto, o governo mente ao
defender a proposta como um “combate aos privilégios”.
— Os que ganham até R$ 1,3 mil por mês são os mais
atingidos. O discurso de combate aos privilégios é conversa mole — criticou
Humberto Costa.
O senador reforçou que a Câmara dos Deputados e o relator no
Senado, Tasso Jereissati, trabalharam na "redução de danos" da
proposta, mas enfatizou que a reforma não tem preocupação em viabilizar uma
Previdência autossustentável e que tem, como único viés, uma política
"fiscalista" para atacar os desequilíbrios da Previdência.
— A gente está tirando da boca e do bolso de quem ganha um,
dois ou três salários mínimos. Esse discurso de ficar aqui simplesmente falando
de milhões de reais, de que está reduzindo ou aumentando o deficit. Não se
pensa nas pessoas — criticou o líder do PT.
"Soluções criativas"
Já Antonio Anastasia (PSDB-MG) avaliou que o relator foi
criativo nas soluções encontradas no relatório e na proposta de PEC paralela.
— Tasso fez do limão uma limonada. Ele foi onde podia, no
limite do esforço para fazer essa compatibilização com as circunstâncias que
lhe foram dadas —avaliou.
Eduardo Braga (MDB-AM) também elogiou as novas mudanças
feitas pelo relator ao acolher emendas de redação e emendas supressivas, entre
elas, uma apresentada pelo senador para garantir que a pensão por morte não
pode, em hipótese alguma, ser inferior a um salário mínimo. Ele também
ressaltou que a reforma está sendo feita porque o Brasil precisa.
Crise x retomada do crescimento
Para o senadores Weverton (PDT-MA), Paulo Paim (PT-RS) e
Telmário Mota (Pros-RR), o governo vende falsamente a ideia de que a aprovação
da reforma da Previdência será a solução para todos os problemas do país e
ressaltaram que o mesmo discurso foi adotado durante a votação da PEC do Teto
de Gastos, e da Reforma trabalhista.
— Essa reforma não vai recuperar o crescimento econômico do
país e, ao contrário, ela vai afundar o país. É uma grande falácia, os gastos
da Previdência são menores que os gastos do pagamento do juros e amortização da
dívida pública — sustentou Telmário.
Major Olímpio (PLS-SP) reconheceu que a reforma da
Previdência não resolverá todos os problemas, mas avaliou que a aprovação do
texto é uma sinalização importante para o mercado. — O sentimento é positivo, nós sabemos que a reforma da
Previdência não resolverá todos os problemas, mas vai ser uma sinalização, é o
início de um momento em que o país está mostrando para o mundo, para o mercado
econômico, para os investidores: "Acreditem no Brasil! O Brasil é
viável!" — disse.
Para José Serra (PSDB-SP), a PEC 6/2019 enfrenta o principal
imbróglio fiscal do país que é, em suas palavras, “o problema da Previdência”.
Esperidião Amin (PP-SC) considera que a reforma da Previdência é um “remédio
amargo, mas necessário”. Já Otto Alencar (PSD-BA), avaliou que a reforma
deveria incluir outras fontes de financiamento para a Previdência.
Pressa
Marcos Do Val (Podemos–ES), que apresentou emendas para
beneficiar policiais e agentes de segurança, defendeu mais tempo para debater a
proposta. A sugestões do senador foram incluídas pelo relator na PEC paralela.
— Assim como eu te apresentei várias emendas objetivando
corrigir injustiças que afetam todos os trabalhadores, vários senadores também
apresentaram, pois entendem que é absolutamente necessário discutir a fundo as
mudanças que a reforma da Previdência causará na vida de todos os brasileiros —
apontou.
Outros senadores estão receosos de que a PEC paralela,
apontada como solução para resolver pontos polêmicos que não obtiveram
consenso, perca força ao tramitar desvinculada do texto principal da PEC
6/2019. Essa é a análise de Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
— Vamos assumir um compromisso quase que um cheque em branco
na esperança de que os acordos sejam cumpridos — avaliou Alessandro.
Ao anunciar seu voto contrário ao projeto, Veneziano Vital
do Rêgo (PSB-PB) lamentou que a maior parte das sugestões dos senadores não
tenha sido incorporada ao texto principal.
— Eu não me permito acreditar que esta PEC paralela consiga
sair do Salão Azul [Senado] para o Salão Verde [Câmara] e lá receber acolhida,
aprovação. Absolutamente, e nós sabemos disso, não vamos nos enganar. Nós não
temos o direito de enganar quem está em casa — disse Veneziano.
Questionamentos e destaques
Em uma tentativa de adiar a votação, o senador Weverton
(PDT-MA) pediu vista pela apresentação da complementação do voto, mas a
presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), afirmou que complementação do
relatório não é um novo parecer e indeferiu o pedido. Simone também rejeitou
questão de ordem do senador Humberto Costa (PE) que apresentou um
questionamento sobre o procedimento de votação da PEC paralela.
Depois de ouvir os senadores por mais de seis horas, o
relator Tasso Jereissati (PSDB-CE) fez suas considerações finais e apontou as
dificuldades de equilibrar o que é justo com a questão financeira do Estado.
— Eu tenho uma preocupação com o deficit fiscal porque eu
entendo que o governo federal, os governos estaduais e os municípios não têm
recursos suficientes para aplicar na educação, para aplicar na saúde, para
aplicar na infraestrutura, já que todos os seus recursos — e é isso que está
acontecendo hoje — estão sendo engolidos pelo deficit da Previdência. Defender
os mais pobres, primeiramente, é defender que existam e sobrem recursos para
aplicar em educação — argumentou o relator.
Rito
O texto vai passar por dois turnos de votação no Plenário do
Senado, onde precisará ser aprovado por três quintos dos senadores, o que
equivale a 49 votos. A expectativa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, é
concluir a votação da proposta até 10 de outubro.
Se for aprovado pelo Senado sem mudanças, o texto será
promulgado como uma emenda à Constituição.
Fonte: Agência Senado