IG - 10/11/2019
Paulo Guedes vai ao Congresso entregar três propostas buscam
limitar os gastos, alterar o funcionalismo público e dividir recursos
Após a aprovação da reforma da Previdência, o governo correu
para estabelecer uma agenda de reformas econômicas com o objetivo de destravar
a economia.
O plano tem a cara do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Batizado de “Mais Brasil”, é superlativo e propõe transformar radicalmente o
Estado — diminuindo seu peso e racionalizando os gastos públicos.
Daí ter sido recebido com entusiasmo pelos empresários e
economistas. Há muito tempo organismos internacionais apontam a dificuldade de
crescimento nacional causada por um arcabouço institucional e regulatório
atrasado, que favorece a irresponsabilidade fiscal e derruba a produtividade.
Mas o pacote também sintetiza todas as dificuldades do atual
ministro: mira o futuro com ambição, mas tropeça no curto prazo.
Tome-se uma das surpresas anunciadas na terça-feira 5. Em
uma das três Propostas de Emenda Constitucionais (PECs) entregues ao presidente
do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), consta a extinção de municípios com menos
de 5 mil habitantes e arrecadação menor que 10% da receita total.
De uma só tacada, mais de mil cidades seriam afetadas. Uma
ação perfeita para o raciocínio econômico, mas desastrosa para a lógica
política. Tamanha alteração precisaria ser aprovada por dois quintos dos
parlamentares das duas Casas do Congresso, em duas sessões.
Porém, a agenda legislativa já começa a se voltar para as
eleições municipais de 2020. É escassa a possibilidade de aprovação no
horizonte próximo, inclusive porque essa modificação afetaria profundamente
interesses políticos em mais de 20% dos municípios nacionais.
Mudanças na constituição
A alteração acima consta da chamada PEC do Pacto Federativo.
Ela estabelece uma nova divisão dos recursos da União, estados e municípios —
descentralizando o dinheiro, atualmente concentrado na esfera federal.
Mais de R$ 400 bilhões seriam transferidos para os entes
regionais nos próximos 15 anos. Além disso, ela diminui as verbas carimbadas —
os chamados gastos obrigatórios — e restringe os reajustes automáticos.
A parcela do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) destinada
ao BNDES será reduzida de 40% para 14%. Essa é a principal fonte de recursos ao
banco de fomento, e a diminuição muda na prática o papel da instituição como
principal motor dos investimentos para a iniciativa privada.
A unificação dos gastos mínimos para saúde e educação visa
mais liberdade para os administradores destinarem verbas diante das realidades
locais, e é um ponto positivo.
A chamada PEC emergencial propõe frear o crescimento dos
gastos públicos. Prevê gatilhos para evitar que o governo descumpra as regras
orçamentárias. Ataca um dos principais problemas atuais do governo: adequar os
gastos à chamada regra de ouro.
Essa norma impede que o Executivo tome dívidas para
financiar despesas correntes. A solução foi criar um “shut down” tropical. Por
meio dessa ferramenta, as jornadas dos servidores poderão ser reduzidas por até
dois anos, com diminuição proporcional dos vencimentos.
Como a medida abrangeria o funcionalismo em todos os
Poderes, os chefes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo teriam a
prerrogativa de aprovar a medida em suas esferas. Em caso de “emergência
fiscal”, também seria possível o congelamento de promoções, reajustes salariais,
a criação de cargos e os concursos.
As medidas seriam acionadas quando a despesa corrente
excedesse 95% da receita corrente, em um ano. Guedes quer estabelecer um novo
regime de responsabilidade fiscal, 20 anos depois da aprovação da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF).
Fundos públicos
A terceira PEC reorganiza os 281 Fundos Públicos, que
concentram cerca de R$ 220 bilhões.
Criados para conectar recursos com destinos específicos,
acabam concentrando um grande volume de dinheiro que muitas vezes fica parado
por contingências específicas e legais. O dinheiro atualmente “empoçado” seria
destinar para abater a dívida pública.
O conjunto de medidas eleva a confiança no ajuste fiscal em
curso desde o governo Michel Temer. É uma importante sinalização após a
aprovação da Reforma da Previdência, que afastou na prática o risco de
insolvência nas contas públicas.
Mas, pela sua extensão e profundidade, dificilmente vai se
tornar realidade como o ministro previu. A mudança nas aposentadorias contou
com o apoio decisivo do Centrão e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ). Agora, apesar de Alcolumbre e Maia apoiarem as reformas, o cenário
não será tão favorável.
A própria apresentação do plano deu pistas das dificuldades.
Ficou de fora a chamada Reforma Administrativa, que reorganiza as carreiras do
funcionalismo público, pois não houve acordo sobre o tema — ainda que o
presidente Jair Bolsonaro tenha anunciado sua apresentação na próxima semana.
Maia considera que essa discussão será difícil entre os
parlamentares, sensíveis aos poderosos lobbies de servidores. Pior, acha que
esse tema confunde as...
Leia a íntegra em Servidores na mira e Estado enxuto: entenda o novo pacote do governo