Correio Braziliense
- 28/12/2019
Entre as propostas em gestação no governo e apoiada por
congressistas, estão o fim da estabilidade para novos servidores e redução dos
salários iniciais
Já afetados pela reforma da Previdência da União, os
servidores públicos se organizam para barrar outras iniciativas do governo de
cortar benefícios da categoria. Propostas nesse sentido, que contam com apoio
de boa parte dos líderes partidários no Congresso, devem avançar logo no início
de 2020.
A principal delas é a reforma administrativa, que tem sido
elaborada pelo Ministério da Economia nos últimos meses, com o objetivo de
mudar as estruturas do funcionalismo público. Ela pode acabar com a
estabilidade de novos servidores e reduzir as remunerações iniciais, que, em
geral, são mais altas do que de quem exerce funções semelhantes na iniciativa
privada.
O projeto vai regulamentar as avaliações de desempenho e
possíveis demissões pelos resultados ruins. A ideia é propor avaliações mais
exigentes, não apenas de protocolo, como acontece em alguns órgãos atualmente.
O governo também sinaliza que vai rever os benefícios, como o sistema de
licenças e as gratificações pagas à categoria.
Além disso, se o projeto for aprovado pelo Congresso, o
servidor poderá não ser efetivado após os dois primeiros anos de trabalho. O
processo será uma espécie de “trainee”, e haverá disputa pela vaga. Hoje, já
não há estabilidade nos dois primeiros anos, mas, em geral, todos são
efetivados depois.
O projeto também prevê progressões mais lentas de carreira,
além dos salários menores de entrada. Significa que o servidor levará mais anos
para atingir o teto salarial. Uma das bases de argumentação de quem defende a
proposta é um estudo do Banco Mundial, que mostra que servidor federal, no
Brasil, ganha quase o dobro do trabalhador da iniciativa privada.
Embora ainda não tenha sido formalmente apresentada, a
matéria está na lista de prioridades para 2020, tanto do governo quanto do
Legislativo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dito que a
ideia é aprová-la no primeiro semestre do ano. O objetivo, segundo ele, é
melhorar a qualidade do serviço público, ao garantir "o mínimo de
meritocracia".
Emergência fiscal
Enquanto a reforma administrativa é elaborada pelo
Ministério da Economia, já tramita no Congresso a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 186/2019, conhecida como PEC emergencial. O projeto lista
uma série de ajustes que poderão ser feitos no serviço público para conter
rombos fiscais, como cortes salariais, de jornada de trabalho, de progressões
na carreira e de bônus e gratificações.
Enquanto a reforma só valerá para quem passar em concurso a
partir da aprovação do texto, essa atingirá todos os servidores, inclusive os
que já estão na ativa. Um dos dispositivos mais polêmicos previstos na PEC é a
possibilidade de redução de até 25% dos salários, acompanhado de diminuição
proporcional da jornada de trabalho.
O Congresso deve ao menos flexibilizar essa regra, que
poderá ser usada tanto pelo governo federal quanto pelos estaduais e
municipais. O relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do
Senado, Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), sugeriu que ela atinja apenas quem
recebe mais do que três salários mínimos, o equivalente a R$ 3.093 no ano que
vem. A proposta ainda precisa ser aprovada pelo colegiado.
O governo colocou no texto, e o relator manteve, a
possibilidade de proibição de concessão de vantagens, de aumentos, de reajustes
de salários, de promoções e de progressões de carreira. Além disso, fica vedada
a contratação de novos servidores em casos de emergência fiscal. A regra não se
aplicará a médicos de saúde primária, exceção incluída no parecer.
Os dispositivos só poderão ser adotados quando o rombo nas
contas públicas acender o sinal de alerta. No caso do governo federal, quando
for descumprida a regra de ouro, norma que proíbe endividamento para pagar
despesas correntes, como salários e benefícios a servidores. No caso de estados,
municípios e Distrito Federal, quando esses gastos ultrapassarem 95% da receita
corrente nos últimos 12 meses.
Juízes
Rodrigo Maia também quer começar a discutir os privilégios
de juízes. Em café da manhã com jornalistas, em 19 de dezembro, ele afirmou que
não conseguirá mais “segurar” projetos de parlamentares que buscam limitar os
gastos do Judiciário. “Esse conflito vai acabar aparecendo no próximo ano”
disse.
Na avaliação do presidente da Câmara, é preciso começar o
debate sobre os salários acima do teto constitucional e sobre os 60 dias de
férias da...
Leia a íntegra em Cortes em benefícios dos servidores devem avançar no início de 2020