sábado, 18 de janeiro de 2020

Bolsonaro promete corte, mas número de cargos e funções comissionadas não cai no 1º ano


BBC Brasil     -     18/01/2020




Em junho de 2018, Onyx Lorenzoni era o coordenador da campanha de Jair Bolsonaro à presidência da República. Em entrevista à agência de notícias Reuters, ele disse que o então candidato planejava um corte "muito intenso" nos cargos em comissão do governo federal, caso eleito.

"O governo vai ser muito enxuto. O nosso conceito é buscar a eficiência", disse Onyx, que é hoje ministro-chefe da Casa Civil de Bolsonaro.

Ao contrário do que disse o ministro, porém, não existiu "corte intenso" de cargos, de funções e de pessoas sem concurso no 1º ano do novo governo — nos cargos de chefia e assessoramento, a redução no acumulado do ano foi de menos de 3%.

Cortes pesados realmente ocorreram, mas em outra área: nas gratificações técnicas, especialmente nas dos servidores das instituições de ensino federais.

Gratificações técnicas são recebidas por servidores que desempenham alguma tarefa extra, de caráter operacional, e geralmente têm valor menor.

Em dezembro de 2018, no fim do governo de Michel Temer (MDB), o número de cargos e funções comissionadas era de 32.694 em todo o poder executivo. No fim de novembro de 2019, o mesmo número era de 31.739, uma redução de apenas 2,9%.

Os dados foram consultados pela reportagem da BBC News Brasil no site do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), um portal do Ministério da Economia que traz informações sobre os servidores.

A origem das informações é o Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape), do governo federal.

Os dados do fim de novembro são os últimos disponíveis. Não incluem, por exemplo, as novas funções comissionadas da Polícia Federal criadas por uma medida provisória no dia 3 de janeiro.

Assinada pelo ministro da Justiça Sergio Moro, a medida transformou 281 cargos comissionados do tipo DAS, que podem ser ocupados por qualquer pessoa, em 338 funções comissionadas para servidores de carreira. Também criou 45 novas funções para os delegados, agentes, escrivães e peritos da PF.

Ou seja, neste momento, o número de cargos e funções comissionadas pode ser maior que o indicado no site do Planejamento para novembro.

O corte de servidores comissionados, isto é, que não fizeram concurso público, também é pequeno.

No fim de janeiro de 2019, eram 4.133 pessoas trabalhando desta forma no governo federal. No fim de dezembro, o número passou a 3.960 — 173 servidores a menos, uma redução de apenas 4,1%. Os números são do Ministério da Economia.

Estes funcionários sem concurso recebem as mesmas benesses dos servidores públicos, e estão distribuídos por ministérios, autarquias e fundações.

O secretário de desburocratização do Ministério da Economia, Paulo Uebel, disse à BBC News Brasil que o governo incluirá medidas relativas aos cargos comissionados no projeto da reforma administrativa a ser enviado ao Congresso em fevereiro.

A reforma incluirá "uma proposta de futuro para a questão dos cargos, funções e comissões", disse Uebel.

Na manhã desta quinta (16), ele afirmou em um café da manhã com jornalistas que o governo fará mais cortes de cargos e funções neste ano. Mas não deu detalhes.

Mestre em Direito Administrativo pela Fundação Getúlio Vargas, a professora Vera Chemim explica os cargos em comissão estão previstos na Constituição e existem nas três esferas de governo — municípios, Estados e União.

Esses cargos existem por uma razão: para que o governante eleito consiga levar adiante as propostas escolhidas pelos eleitores nas urnas.

"O prefeito, o governador ou o presidente vão nomear para estes cargos pessoas que pensem como eles e que sejam de sua confiança. Que defendam o tipo de política econômica ou...



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