BSPF - 05/09/2020
Proposta do Ministério da Economia mantém a previsão de
realização de concursos públicos, mas também vai permitir ingresso por seleção
simplificada para alguns vínculos
BRASÍLIA - A proposta de reforma administrativa do governo
vai criar cinco novos tipos de vínculos para servidores públicos, apenas um
deles com garantia de estabilidade no cargo após três anos. O texto mantém a
previsão de realização de concursos públicos, mas também vai permitir ingresso
por seleção simplificada para alguns vínculos.
A mudança valerá somente para novos servidores do Executivo,
Legislativo, Judiciário, estados e municípios. Quem já ingressou nas carreiras
manterá sua estabilidade e não terá corte na remuneração, garantiu o Ministério
da Economia.
Para os futuros funcionários da administração pública, o ingresso por concurso público valerá para cargos típicos de Estado (que não encontram paralelo no setor privado, única categoria que terá direito a estabilidade) e cargos por prazo indeterminado.
Em ambos os casos, haverá um vínculo inicial de experiência,
que terá prazo mínimo de dois anos, no caso das carreiras típicas de Estado, e
de um ano, para cargos de prazo indeterminado. O vínculo de experiência será
uma etapa do concurso público e não dará direito automático ao cargo. Os mais
bem avaliados serão efetivados.
O ingresso por seleção simplificada vale para cargos com prazo determinado e cargos de liderança e assessoramento (que substituirão uma parte dos cargos de confiança).
"Em nenhuma hipótese, o servidor poderá ser desligado por decisão arbitrária. Essa decisão deverá ser impessoal, fundamentada e bem estruturada. Se fosse diferente, o próprio judiciário poderia corrigir essa injustiça", afirmou o secretário de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia, Wagner Lenhart.
Para as carreiras típicas de Estado, que manterão estabilidade, as únicas possibilidades de desligamento seguem sendo sentença judicial, infração disciplinar e desempenho insuficiente. Para os novos concursados em regime de tempo indeterminado, as condições de desligamento serão definidas por lei.
Estabilidade permanece para servidores atuais
Segundo o Ministério da Economia, a estabilidade dos servidores que já ingressaram no serviço público continua nos mesmos termos da Constituição atual.
As novas regras não englobam os servidores federais que estão na ativa e também não valerão para membros do Legislativo, Judiciário, Ministério Público (deputados, senadores e magistrados, por exemplo), além dos militares. Os outros Poderes terão que elaborar textos próprios se quiserem alterar suas normas.
O secretário-adjunto de Desburocratização do Ministério da Economia, Gleisson Rubin, afirmou que, pelas regras atuais, todos servidores públicos têm direito à estabilidade, até mesmo em atividades que ele classificou como sendo de de "apoio, acessórias".
"Desde 1988, são estáveis todos servidores públicos, não interessa natureza da sua função. Tem funções mais estratégicas até as mais operacionais. Isso não faz sentido em lugar nenhum do mundo. A estabilidade existe em várias democracias, mas cumpre o propósito de manter o corpo de funcionários que mantém atividade de Estado. Não atividades de apoio, acessórias", declarou.
Atualmente, a demissão de servidores apenas pode ocorrer por
meio de sentença judicial transitada em julgado e por infração disciplinar.
Como exemplo, o governo diz que, em 2018, foram desligados 388 servidores
(0,07% da força de trabalho do governo federal). Se a proposta do governo for
aprovada no Congresso, não será mais necessário aguardar trânsito em julgado.
A proposta prevê a eliminação do que o governo chama de "distorções", benefícios a servidores como aumentos retroativos (nenhum aumento pode ter efeito a períodos anteriores), férias superiores a 30 dias por ano e adicional por tempo de serviço.
Também está previsto o fim da licença-prêmio, direito que o servidor tem a cada cinco anos gozar de três meses de licença para tratar de assuntos de interesse pessoal. não existe no governo federal desde 1999, mas ainda existe em 20 dos 27 Estados.
De acordo com a apresentação divulgada pelo Ministério da Economia, serão eliminadas ainda:
1 - a aposentadoria compulsória como punição;
2 - o pagamento de parcelas indenizatórias sem previsão legal;
3 - adicional ou indenização por substituição não efetiva;
redução de jornada sem redução de remuneração, salvo em casos de saúde;
4 - a progressão ou promoção baseada exclusivamente em tempo
de serviço;
5 - a incorporação ao salário de valores referentes ao exercício
de cargos e funções.
Entre os motivos para a eliminação dos benefícios, o Ministério da Economia cita o distanciamento da realidade dos demais cidadãos, a ausência de regras uniformes e gerais sobre vantagens e benefício, o impacto "injusto" para a sociedade, que onera as contas públicas.
Acúmulo de cargos
Ao mesmo tempo, a proposta do governo para a reforma administrativa flexibiliza as regras para acúmulo de cargos. Pelas regras atuais, não é permitido aos servidores acumular cargos ou empregos públicos, exceto para os professor e profissional de saúde.
Pela proposta do governo, o impedimento continuaria valendo apenas para as carreiras típicas de Estado - que permaneceriam com a estabilidade garantida.
No caso dos demais servidores, o acúmulo seria permitida, mas desde que "observada compatibilidade de horário".
Na avaliação da área econômica, as atuais regras para acumulação de cargos são "rígidas e não objetivas", e acabam desestimulando a participação de candidatos com o "perfil mais adequado para determinada posição".
Reforma em fases
O novo regime de vínculos estará na primeira fase da reforma administrativa, que inclui o envio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para traçar a nova estrutura e lançar as bases da modernização organizacional da administração pública.
Haverá ainda outras duas fases, segundo o Ministério da Economia. A fase 2 prevê o envio de um projeto de lei complementar (PLP) e seis projetos de lei (PL). O PLP e um dos PLs tratarão da gestão do desempenho. Os demais projetos de lei regulamentarão consolidação de cargos, funções e gratificações, diretrizes de carreiras, modernização de formas de trabalho, arranjos institucionais e ajustes no estatuto do servidor.
A fase 3 prevê outro projeto de lei complementar para criar
o Novo Serviço Público, com o novo marco regulatório das carreiras, governança
remuneratória e direitos e deveres do novo serviço público.
Fonte: Terra