segunda-feira, 21 de junho de 2010

Servidor federal enriquece o Rio

Por Michel Alecrim

O Dia - 21/06/2010


Grande concentração de órgãos federais, hospitais e universidades na Região Metropolitana do estado eleva a média salarial local, que quase se iguala a de São Paulo, ajudando a movimentar os setores de comércio e serviços



Rio - Melhorias salariais conquistadas pelo funcionalismo público federal estão ajudando a aquecer a economia do Estado do Rio. Reajustes em termos reais nos últimos anos injetaram dinheiro no comércio e em serviços locais, devido à grande concentração de órgãos públicos, hospitais e universidades em torno da antiga capital do País. Enquanto em 2003 o salário médio de um trabalhador da Região Metropolitana do Rio correspondia a 81% do ganho dos paulistas, atualmente essa relação é de 95%, segundo dados do IBGE.


O advogado Cláudio Granzotto, 34 anos, reconhece que o ingresso no serviço público federal transformou sua vida financeira. Além de ter melhora no seu salário em relação ao que ganhava como delegado da Polícia Civil, foi beneficiado com a equiparação da carreira de procurador da Advocacia-Geral da União (AGU) — cargo que ocupa — com o Ministério Público e a Magistratura.

Além da compra do imóvel financiado, Granzotto fez duas viagens para o exterior nas férias. “Como delegado, não teria o padrão de vida que tenho hoje. O serviço público federal é o que dá a melhor estrutura de trabalho e as melhores condições salariais”, afirma.

R$ 19 BILHÕES

Aumentos como esse impactam na folha de pagamento do pessoal lotado no Rio de Janeiro. Segundo o Ministério do Planejamento, em 2008, foram pagos R$ 14,699 bilhões só para o pessoal civil do Poder Executivo que atua no estado. Em 2009, esse número saltou para R$ 19,152 bilhões.

De acordo com o professor do Ibmec-Rio Gilberto Braga, descontada a inflação, a diferença real é de 25% — ganho que dificilmente se observa em setores da iniciativa privada em tão pouco tempo. No Distrito Federal, a folha de pagamento corresponde a menos da metade da do Rio, mas vem aumentando em ritmo mais forte.

“Para a Região Metropolitana, esse aumento de massa salarial é bastante positivo, porque já é uma média salarial alta desses servidores, que têm bom padrão de consumo”, explica o economista.

Nilvon Sena, da agência de viagens Planer Tour do Centro, admite que o servidor federal representa gorda fatia da clientela. “A procura deles por viagens vem aumentando”, conta.

O impacto do ganho do funcionalismo federal é bastante amplo. Um exemplo disso é o administrador Juliano Cesar Vianna, 33, que ingressou na Agência Nacional de Cinema (Ancine) no ano passado, depois de trabalhar no Banco do Brasil. Além da compra de imóvel em Niterói, ele passou a ajudar seus pais, que moram em São João de Meriti, na Baixada. “Meu pai é ambulante e minha mãe servente da rede estadual. Eles se esforçaram para que eu estudasse e pudesse passar no concurso”, orgulha-se.

Riscos de esvaziamento

A dependência da economia fluminense em relação ao serviço público federal também traz efeitos negativos. Como a capital foi transferida para Brasília há 50 anos, ainda ocorrem mudanças de órgãos públicos para o atual Distrito Federal. Quando há períodos de apertos nos gastos com o funcionalismo federal, a tendência é de a economia local encolher.

Para o economista Carlos Lessa, há alguns pontos do Centro do Rio que sofreram com o esvaziamento de órgãos federais, como a Praça Quinze, onde ficava o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). “Há um comércio em torno desses órgãos movimentado pelos funcionários bem pagos. Quando se remove, vem a estagnação”, observa o economista e pesquisador do Rio.

Inativos de rendimento alto

A herança da antiga capital na economia do Rio não se dá apenas na permanência de funcionários públicos ativos. Pessoas que foram para outras cidades e que voltaram após a aposentadoria transferem renda para o comércio carioca. O pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marcelo Neri cunhou a expressão “Florília” para designar o fenômeno — uma mistura de Flórida com Brasília. O estado americano atrai aposentados, que passam a gastar lá. “O Rio poderia incentivar a vinda de aposentados”, defende o economista.


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