Por Michel Alecrim
O Dia - 21/06/2010
Grande concentração de órgãos federais, hospitais e universidades na Região Metropolitana do estado eleva a média salarial local, que quase se iguala a de São Paulo, ajudando a movimentar os setores de comércio e serviços
O advogado Cláudio Granzotto, 34 anos, reconhece que o ingresso no serviço público federal transformou sua vida financeira. Além de ter melhora no seu salário em relação ao que ganhava como delegado da Polícia Civil, foi beneficiado com a equiparação da carreira de procurador da Advocacia-Geral da União (AGU) — cargo que ocupa — com o Ministério Público e a Magistratura.
Além da compra do imóvel financiado, Granzotto fez duas viagens para o exterior nas férias. “Como delegado, não teria o padrão de vida que tenho hoje. O serviço público federal é o que dá a melhor estrutura de trabalho e as melhores condições salariais”, afirma.
R$ 19 BILHÕES
Aumentos como esse impactam na folha de pagamento do pessoal lotado no Rio de Janeiro. Segundo o Ministério do Planejamento, em 2008, foram pagos R$ 14,699 bilhões só para o pessoal civil do Poder Executivo que atua no estado. Em 2009, esse número saltou para R$ 19,152 bilhões.
De acordo com o professor do Ibmec-Rio Gilberto Braga, descontada a inflação, a diferença real é de 25% — ganho que dificilmente se observa em setores da iniciativa privada em tão pouco tempo. No Distrito Federal, a folha de pagamento corresponde a menos da metade da do Rio, mas vem aumentando em ritmo mais forte.
“Para a Região Metropolitana, esse aumento de massa salarial é bastante positivo, porque já é uma média salarial alta desses servidores, que têm bom padrão de consumo”, explica o economista.
Nilvon Sena, da agência de viagens Planer Tour do Centro, admite que o servidor federal representa gorda fatia da clientela. “A procura deles por viagens vem aumentando”, conta.
O impacto do ganho do funcionalismo federal é bastante amplo. Um exemplo disso é o administrador Juliano Cesar Vianna, 33, que ingressou na Agência Nacional de Cinema (Ancine) no ano passado, depois de trabalhar no Banco do Brasil. Além da compra de imóvel em Niterói, ele passou a ajudar seus pais, que moram em São João de Meriti, na Baixada. “Meu pai é ambulante e minha mãe servente da rede estadual. Eles se esforçaram para que eu estudasse e pudesse passar no concurso”, orgulha-se.
Riscos de esvaziamento
Para o economista Carlos Lessa, há alguns pontos do Centro do Rio que sofreram com o esvaziamento de órgãos federais, como a Praça Quinze, onde ficava o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). “Há um comércio em torno desses órgãos movimentado pelos funcionários bem pagos. Quando se remove, vem a estagnação”, observa o economista e pesquisador do Rio.
Inativos de rendimento alto