Folha de S. Paulo
- 10/10/2011
O governo da presidente Dilma Rousseff endureceu a política
de greves e irritou o mundo sindical.
A necessidade de ajuste fiscal e o receio de uma escalada
inflacionária levaram o Executivo a atacar o "bolso dos grevistas"
com corte de ponto -prática raramente vista na gestão Lula, segundo centrais
sindicais.
O objetivo é desencorajar paralisações que se anunciam em
outras áreas cruciais, como policiais, servidores do Judiciário e petroleiros,
que negociam nesta semana diretamente com a Petrobras e com o ministro Gilberto
Carvalho (Secretaria-Geral).
Para diversas entidades sindicais, Dilma joga mais duro que
Lula. "Por isso queremos demovê-la dessa política de UFC", diz o
presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, referindo-se à famosa
liga de vale-tudo.
Da Europa, Dilma orientou sua equipe na semana passada a
adotar posição firme na greve dos bancários, em curso desde 27 de setembro. O
Ministério da Fazenda e os bancos privados resistem a um reajuste real (acima
da inflação) próximo a 5%.
Com uma greve desde 14 de setembro, o caso dos Correios
tornou-se emblemático. A empresa anunciou corte do ponto dos funcionários
parados. Mesmo expediente adotado na Eletrobras neste ano.
O Ministério do Planejamento diz que os cortes atuais não
são novidade: embora a maior parte das greves anteriores terminassem em acordos
para repor dias parados, houve casos de descontos, como o de auditor fiscal.
Para o Planalto, a conjuntura econômica é restritiva a
reajustes neste momento.
O ritmo menor de crescimento neste ano e o temor de
contaminação doméstica da crise internacional justificam, aos olhos de alguns
setores do governo, postura mais severa. Uma conta recente reforçou a tese: o
IPCA dos últimos 12 meses fechou em 7,31% em setembro.
"Se você vê uma tempestade se formar no céu, não pode
sair à rua de bermuda e camiseta. Tem que ter um guarda-chuva", afirma o
ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ex-chefe do Planejamento. "O
quadro hoje é diferente de 2007, quando aumentamos os salários de muitas
categorias."
A ordem de Dilma é puxar o freio de mão nas despesas
correntes agora e manter a despesa controlada também em 2012.
De volta da Europa, ela deve hoje discutir o assunto greve
na reunião de coordenação do governo.
Com Guido Mantega (Fazenda), tratará especificamente da
paralisação dos bancários. Ela determinou ainda que cada ministro atue em sua
área específica na busca de soluções que acabem ou evitem paralisações.
"É uma bobagem essa história [de momento delicado].
Estamos num momento bom para greves. Há resultados muito positivos na
economia", discorda Artur Henrique, presidente da CUT.
O Ministério do Planejamento é o principal alvo de queixa
nos sindicatos. A pasta nega atitude diferente e cita frase de Lula:
"Greve é guerra, não férias". Só que o ex-presidente sempre
flexibilizava: trocava descontos por reposição de dias parados.
Ao menos nos Correios, a orientação é manter os cortes.
"É inaceitável abonar tantos dias parados", diz Wagner Pinheiro,
presidente da empresa. Essa linha de ação reforçou o movimento de grupos sindicais
que, nos bastidores, ajudaram a circular o "volta, Lula", tese
abafada pelo próprio ex-presidente.