Autor(es): João Villaverde
Valor Econômico - 11/10/2011
Há duas visões dentro do governo para justificar o rigor
implementado pelos dirigentes das companhias estatais nas negociações salariais
deste ano com os servidores. Ainda que a equipe econômica esteja dividida em
duas argumentações distintas, ambas são favoráveis ao aperto.
A diretriz das estatais tem origem no Palácio do Planalto,
que desde as primeiras negociações com o funcionalismo federal - iniciadas com
os servidores do sistema Eletrobras, em junho - defende a concessão apenas da
inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base de cada categoria.
Devido à inflação "persistentemente alta", segundo fonte do alto
escalão do governo, "o rigor aumentou".
Os salários foram "fortemente" elevados nos
últimos anos, especialmente em 2009 e 2010, o que permite um aperto agora,
segundo avalia um dos grupos em posições distintas no governo. Desde o início
do ano há um "pé no freio" na abertura de concursos, que foram
liberados pelo Planalto a conta-gotas. O concurso realizado pelo Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), em junho, foi uma das poucas exceções.
Segundo esse grupo, a recomposição salarial de carreiras do
Estado, como a de servidores do corpo técnico dos ministérios e de autarquias,
foi iniciada em 2004 e "potencializada", segundo fonte do grupo, nos
dois últimos anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. A recomposição de
carreiras e de salários, na visão do grupo, continua de pé, mas a partir deste
ano entra em fase menos acelerada.
O segundo grupo dentro da equipe econômica avalia que o aperto
nas negociações salariais serve para "preparar o terreno" para a
expansão dos gastos já contratada para 2012 - o salto de cerca de 14% no
salário mínimo.
O Projeto de Lei Orçamentária Anual, enviado ao Congresso no
fim de agosto, prevê salário mínimo de R$ 619,21 a partir de janeiro, o que,
para a Tendências Consultoria, representaria elevação de R$ 23 bilhões nos
gastos federais. Especula-se no governo, no entanto, que o mínimo possa atingir
até R$ 625, o que elevaria a conta.
O ano de 2012 será "complexo", de acordo com uma
fonte do segundo grupo, porque combinará a forte elevação do mínimo com o
calendário eleitoral. "Além disso", diz a fonte, "não será fácil
repetir o aperto nas negociações por dois anos consecutivos". O governo
ainda trabalha com cenários pouco claros em relação às greves e reivindicações
do funcionalismo.